Capítulo 40

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GIZELLY

Passei a noite praticamente em claro, com os pensamentos a mil. Perdi horas de sono em pesquisas sobre determinados anticoncepcionais internos, na intenção de achar qualquer brecha que desfaça a confusão que está os meus pensamentos. Não achei nada que evapore toda essa nuvem negra que pairou sobre minha cabeça.

Eu, decisivamente, estava em um beco sem saída. As palavras de Rafaella não saíam da minha mente, elas ecoavam determinantemente em meus ouvidos.

"Eu trabalho essa semana em um tribunal e não posso ir desse jeito."

"Isso não podia ter acontecido."

O que ela quis dizer com isso? Entrei em alerta imediatamente.

⚖️⚖️⚖️

Não sei que horas eu peguei no sono, sei que não aproveitei muito a minha mente desligada e o despertador soou. Levantei, fiz um café forte e tomei com calma. Depois tomei banho e reuni minha carteira, chaves e minha bolsa. Desci em direção a garagem do prédio e dei partida no motor do meu carro.

O choque havia passado, conforme as horas se foram desde minha conversa com Rafaella ontem a noite. Agora, com a mente mais aberta, pude pensar melhor. Não seria tão mal ter um pedacinho de mim circulando por aí, e embora isso não estivesse em meus planos agora, comecei a me animar com a ideia. Afinal, sempre sonhei em um dia ser mãe. E esse sonho eu compartilhava com Fernanda, mas o improvável aconteceu entre nós duas.

Estou ficando velha, chegando nos trinta e cinco. Preciso mesmo de um sucessor, um herdeiro para dar continuidade em tudo que construí.

Me entreti tanto em meus pensamentos, que eu cheguei no condomínio e nem me dei conta. Rafaella me aguardava no portão de coragem em sua casa. Usava um vestido soltinho, que ia até suas coxas, uma sandália baixa e confortável nos pés, e óculos escuro com os cabelos soltos. Foram tantas semanas sem vê-la, e agora com a notícia, reparei na mudança em seu corpo. Suas pernas estão mais grossas e os seios mais inchados. Entretanto, maravilhosa!

Parei o carro e ela entrou.

- Bom dia!- Me cumprimentou cordialmente, enquanto colocava o cinto.

- Tudo bem?-

- Na medida do possível, sim. As náuseas voltaram, mas acho que é porque eu não comi nada.-

- Não conseguiu comer?- Perguntei dando partida.

- Tenho que estar de jejum para o exame de sangue.-

- Entendi.-

Fomos o restante do caminho em silêncio. Rafaella não se mexia ao meu lado, parecia aquela Promotora Freitas a qual não tem intimidade nenhuma com a advogada Gizelly Bicalho Abreu. Mas eu entendia o seu ponto, assim como eu estive há algumas horas atrás, ela com certeza também está. No entanto, para ela, está sendo bem mais difícil. Afinal, quem vai passar por mudanças será ela. E só de pensar, eu me sentia esquisita. Pela primeira vez, eu não sabia como resolver um problema.

Chegamos a clínica a qual ela me passou o endereço e nos identificamos. A médica ginecologista não demorou para nos atender.

- Fla, essa é a Gizelly. Conversei com você ontem sobre ela.-

- Sim!-

- Muito prazer, doutora!- A cumprimentei, estendendo minha mão.

- O prazer é todo meu, como vai? Eu já ouvi falar da senhora, e não foi só pela Rafa.- Ofereci um sorriso educado e agradecido, e ela nos indicou as cadeiras. Logo nos sentamos. Rafaella estava tensa. - Estive olhando o seu prontuário, Rafa. Acho que tenho uma base do que pode ter acontecido, mas primeiro vamos recolher seu sangue e mandar para o laboratório.-

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