Capítulo 10

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RAFAELLA

Bloqueei a tela do celular e o joguei sobre a cama. A conversa me deixou confusa e desacreditada na audácia de Gizelly Bicalho. Eu havia acabado de sair do banho, estava vestida em meu blusão e a toalha na cabeça, quando resolvi pôr o aparelho para carregar. Porém, diante de tantas mensagens as quais chegaram durante o dia, a da advogada estava lá.

Retirei a toalha para pentear os cabelos pensando ainda na conversa. É sério que ela conseguiu meu contato apenas para se desculpar das tantas grosserias dirigidas a mim esse tempo todo? Depois de quase um mês??? Suspirei negando com a cabeça e terminei de passar a escova no cabelo. Guardei de volta na gaveta da cômoda e saí do quarto.

Bianca estava na cozinha preparando o nosso jantar. Segui até lá e fui em busca de um copo de água na geladeira.

- Tá séria?-

- Trouxe um processo pra casa. Tô estudando a defesa da promotoria, a audiência é mês que vem.-

- Vai dar conta de dois julgamentos? Um perto do outro?-

- Sempre dou.- Dei de ombros, virando o copo de água na boca.

- Apesar do processo da mulher sem nome ser fácil demais para você...-

- Sim! Não preciso nem ter o trabalho de estudar.-

- Mas não é só isso...-

Bianca tinha a atenção no molho, a qual ela mexia na panela. Lavei o copo na pia e pus no escorredor. Logo me escorei de lado na mesma, e cruzei os braços. Estando assim, de frente para minha amiga.

- Gizelly Bicalho conseguiu meu número pessoal e me mandou mensagem.- Minha resposta a fez me encarar surpresa.

- Como ela conseguiu? E pra que?-

Eu até pensei em responder a primeira pergunta, porém lembrei de Mariana. Bianca com certeza tiraria satisfações com a mesma.

- Não sei como conseguiu, mas queria me pedir desculpas.-

- Assim, de repente?-

- Assim de repente.- Ela voltou com a atenção no que fazia, com o semblante ainda mais surpreso. - Me convidou pra sair... Eu acho.-

Me encarou novamente.

- Como assim?-

- Me chamou pra almoçar ou tomar um café antes do julgamento. Disse que não tem nada contra mim diretamente, fora das tribunas, e que não quer que esse caso crie desavenças entre a gente.-

- Bom, nisso ela tem razão. Vocês não podem deixar a profissão de vocês interferir na vida pessoal. Talvez ela esteja tentando ser profissional. Aliás, ela é profissional. Nunca vi uma notícia ruim sobre essa mulher. Uma fofoquinha sequer.- Deu de ombros, voltando para a panela.

- Isso eu reconheço. Mas por que agora? Estive pensando se ela não quer se beneficiar de alguma forma.-

- É... Essa advogada é sorrateira.- Seu comentário me fez ficar pensativa. Ela logo desligou o fogo e me encarou. - Você aceitou?-

- Não! E nem vou aceitar.-

- E por que não?-

- Porque não sou boba e nem ingênua, se ela tá pensando. Eu lido com pessoas muito mais sacanas que ela.-

Bianca fez uma expressão neutra e levou a panela até a mesa.

- Fiz panqueca. Está tudo pronto!-

Me afastei da pia e segui até onde ela estava. Nos sentamos e começamos a comer, com outros assuntos aleatórios.

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