Capítulo 8

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Matheus

Eu passei alguns meses na escuridão após perder minha esposa Beth para o câncer de mama, não foi fácil ver seu sofrimento nos últimos dias, seus gritos de dor ecoaram na minha mente por um longo tempo, eu me sentia fraco, trabalhava porque era preciso, mas não estava exercendo direito minha profissão.

A noite era mais difícil, era uma dor terrível ouvir minha filha mais nova chamando pela mãe, vê-las chorando sua ausência. Meu peito sangrava, e a escuridão sobre mim aumentava, e foi em uma noite assim que eu decidi mudar.

Ouvir de Michele e Milena o medo que elas tinham de me perder ajudou a minha ficha cair que eu seria responsável sozinho pela vida das minhas filhas, e então resolvi me reerguer, e assim proporcionar a elas uma vida feliz do jeito que nossa família sempre foi. Como moramos só nos três, tive que aprender todos os cuidados e mimos femininos, não que eu não soubesse, mas tudo fica mais difícil quando não se tem a presença materna. Até poderia pedir à minha mãe para vir morar aqui conosco, mas não, isso faz parte da minha missão como pai.

Hidratar os cabelos, pintar unhas e até fazer sushi foram alguns dos aprendizados ao longo dos anos, criamos uma rotina para a nossa pequena família, por conta da minha profissão, eu consigo até hoje tomar café e almoçar com minhas filhas, mas nossos finais de semana são mais calmos e passamos mais tempo juntos.

Vivemos nosso tempo juntos com muita intensidade. Pela maneira que elas são tratadas, das duas uma: ou não vão casar ou vão casar com um cara muito legal.

Sou bacharel em Educação Física, conheci Fernanda na faculdade, éramos colegas de sala, e com o tempo Fê se tornou melhor amiga de Beth, depois que nos formamos, passamos alguns anos trabalhando em uma escola particular, mas a vontade de ter algo só nosso crescia. Mas com a doença de Beth precisei abrir mão de muita coisa, e meus planos ficaram em segundo plano, infelizmente ela não viu em vida nosso sonho se tornar real, mas sei que está feliz com nosso sucesso.

Depois que ela faleceu, vendi duas casas que tínhamos em São Francisco do Itabapoana, consegui comprar uma casa melhor para viver com minhas filhas e abrir a tão sonhada sociedade com Fernanda, a Espaço Fit Academia.

Iniciamos em um espaço pequeno, somente com musculação e uma pequena sala para aulas de ginástica, mas o sonho deu tão certo que hoje estamos em um espaço maior, além de musculação, contamos com uma enorme sala de ginástica, uma sala para pilates, a pouco tempo montamos uma sala com quinze bicicletas de spinning, temos uma piscina aquecida, tudo isso aumentou consideravelmente nosso lucro, então para deixar a academia completa, montamos uma sala para balé.

Ao longo desses anos tive meus casos, mas nada que durasse muito tempo, umas não rolava aquela atração necessária para o algo mais, outras não aceitavam bem minhas filhas, e eu nunca iria abrir mão delas por conta de outra mulher. Michele, minha filha mais nova, vive falando que uma hora iria aparecer alguém que balançaria o coração do paizoca.

E foi em um curso que eu estava fazendo com Fernanda e os funcionários da academia que isso aconteceu. Estava indo encontrar Fernanda quando a vi, de longe percebi o quanto ela era tímida, sentei em uma mesa na lanchonete, daqui eu tinha a visão perfeita para a piscina.

Eu devo estar ficando maluco, a menina aparenta ter a idade de Milena, mas há algo nela que me chama a atenção, é nítido o quanto ela se esforça para aprender, seus movimentos dentro da água são graciosos, estreitei os olhos quando percebi um grupo de meninas olhando demais para ela e cochichando, pelo visto ela não percebeu, afinal está concentrada na aula, mas eu não preciso estar perto para saber o que elas estão falando, como estava com minha pasta, tive uma idéia, e não foi difícil colocar em prática. Com um sorriso, segui para encontrar minha sócia e o restante do pessoal.

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