Capítulo 36

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Matheus

Fiquei abraçado a minha filha enquanto esperávamos o médico, cerca de vinte minutos depois que a enfermeira saiu um homem com o rosto cansado veio caminhando lentamente na nossa direção.

- Então Paulo, como ela está? - Igor se antecipou, ele estava segurando a mão de Jeferson.

Igor é médico e eu tenho certeza que estranhou a demora que foi a cirurgia.

- Foi uma longa batalha, por duas vezes quase a perdemos. - Meu coração acelerou. - Até então a cirurgia foi bem sucedida, mas só daqui a quarenta e oito horas que vamos saber de fato como ela vai ficar.

- Pai. - Michele me abraçou chorando.

- Eu posso vê-la? - O médico negou.

- Além de estar em coma, a jovem está na UTI e por conta da gravidade da situação não posso liberar acompanhante, muito menos visitas.

- Mas. - Tentei argumentar e senti uma mão em meu ombro.

- Matheus. - Era Igor. - Paulo é o melhor neurocirurgião que eu conheço, trabalhamos juntos por um tempo, Letícia está em boas mãos.

- Eu farei o meu melhor e quando ela estiver bem libero visita pelo menos. - Suspirei derrotado. - Aconselho vocês irem para casa descansar. - Ele olha o relógio em seu pulso. - Eu só vou liberar um novo boletim depois das dezeseis horas.

- Eu volto nesse horário. - Digo firme e o médico sorri concordando.

- Eu também. - Olhei para Jeferson com um sorriso fraco.

O médico se despediu e seguiu para o lado oposto de onde ele veio, abraçado a minha filha olhei para meus amigos e suspirei.

- Vamos?

- Eu vou com Igor.

- Eu posso ficar um pouco no quarto dela? - Pedi sem jeito e meu amigo sorriu.

- Claro que pode. - Ele entregou a bolsa de Letícia a Michele e juntos seguimos para os carros.

Minha filha foi apertando a bolsa contra o peito do hospital até a casa de Jeferson enquanto chorava baixinho, meu celular tocou algumas vezes em meu bolso, mas resolvi não olhar mesmo sabendo que poderia ser minha mãe preocupada.

Chegamos juntos, estionei meu carro ao lado do de Igor, próximo a uma árvore que ficava no final do pequeno condomínio. Ao entrar o olhar da minha filha caiu na caixa onde as cartas estavam guardadas, ela me olhou chorando enquanto apertava a bolsa contra o peito.

- Está tudo bem. - Ajeitei seus longos cabelos.

- Não está pai. Eu não entendo o porquê coisas ruins acontecem com pessoas boas.

- É um mistério. - Virei ao ouvir a voz de Jeferson. - Mas sabe o que a avó de Lê dizia? - Ele sentou no sofá e pegou a pequena caixa colocando em seu colo.

Michele rapidamente sentou ao seu lado apoiando a cabeça em seu ombro.

- Que tudo nessa vida tem um propósito, por mais que as coisas sejam ruins, tem um propósito nisso. Deus sabe que, de alguma forma, um dia, vamos nos beneficiar com a experiência, vamos aprender com ela. Veja você, tenho certeza que depois desse pequeno acidente na escola vai jogar com mais cautela. - Minha filha concordou e Jeferson beijou seus cabelos.

Meu celular voltou a tocar, tirei o aparelho do bolso, era um dos meus alunos, no meio dessa confusão não comuniquei sobre as aulas. Mas tenho certeza que Fernanda fez isso, óbvio que ela faria questão, fui então no whatsapp e uma por uma fui lendo e respondendo as mensagens, e o que não esperava estava acontecendo.

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