Capítulo 37

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Letícia

Uma luz forte estava na minha frente, eu queria gritar mas algo bloqueava minha garganta. Quando o incomodo passou pisquei tendo a sensação de ter areia em meus olhos.

- Letícia você pode me ouvir? - Pisquei e sem mover o pescoço por medo olhei em volta.

O que eu estou fazendo em um hospital?

- Letícia? - Um homem que estava na minha frente balançou aquela maldita luz chamando minha atenção. - Você lembra o que aconteceu?

Pisquei algumas vezes puxando na memória algo, mas nada vinha o que era tão estranho.

- Sente isso? - Puxei levemente o pé ao sentir algo espetando. - E aqui? - Mexi os braços com a mesma sensação. - Isso é ótimo.

E a maldita luz estava em meus olhos outra vez. Um barulho chamou minha atenção e isso fez o médico sorrir satisfeito, duas mulheres estavam empurrando um carrinho com várias coisas em cima.

- Vamos te ajudar a ficar confortável.

Mesmo com medo eu precisava confiar para enfim entender ou talvez lembrar o que aconteceu. Aos poucos eles vão se movimentando pelo espaço, o barulho dos aparelhos vai ficando insuportável, sinto meu coração bater cada vez mais forte.

- Está tudo bem? - Havia preocupação na voz da mulher ao meu lado.

Sentindo um pouco de dor balancei a cabeça bem devagar e ela sorriu.

- Precisamos de um tempo para monitorar sua respiração, se estiver tudo normal podemos extubar.

Pisquei algumas vezes para que ele entendesse que eu estava entendendo mesmo sem saber como vim parar aqui.
Pelos próximos minutos fiquei olhando em volta, pelo visto havia mais leitos como o que eu estou todos separados por um pano azul. O médico entrava e saía sempre monitorando minha respiração.

- Quarenta minutos doutor. - A voz de uma mulher preencheu o espaço.

- Ok. - Ele me olhou sorrindo. - Beatriz conseguiu o que eu pedi?

- Sim. - Sorriu satisfeito mais uma vez.

- Letícia preciso que faça tudo que eu mandar. - Ordenou enquanto a mulher se aproximou rapidamente para auxiliar.

O médico colocou um óculos protetor e com cuidado foi retirando o que bloqueava minha garganta em um movimento único e contínuo. Rapidamente foi me oferecido um pouco de água, bebi pequenos goles e assim a agonia que eu sentia na garganta foi desaparecendo aos poucos.

- Sente dor? - O médico perguntou ao meu lado.

- Sim. - Respondi baixo. - Está tudo estranho, confuso. Minha cabeça. - Franzi a testa sentindo uma dor latejante.

- Você sofreu um acidente de moto.

Assim que ele disse isso foi como se um flash passasse diante dos meus olhos, eu estava feliz dando aula, Matheus se despedindo, Fernanda me acusando, moto, lágrimas, e o farol do carro na minha frente.

Meu corpo foi dominado por uma sensação que eu conhecia muito bem, queria gritar mas não conseguia, lembrei do olhar da meninas, lembrei de Matheus. Comecei a tremer e eu apertei o lençol embaixo de mim, a dor por dentro aumentava cada segundo.

Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, meu coração batia forte e o barulho que o aparelho estava emitindo fazia minha cabeça doer ainda mais. Eles me odeiam e a culpa é toda minha que fui burra o bastante para não conversar.

Um soluço escapou da minha garganta, sentia que meu coração ia explodir a qualquer momento. Respirar nunca foi tão difícil, o pequeno tubo que estava em meu nariz foi substituído por uma máscara rapidamente. Tentei levar a mão ao peito porque tudo que eu queria era arrancar essa sensação.

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