Capítulo 22

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Matheus

Existem situações ou momentos em nossas vidas em que nos sentimos perdidos e completamente impotentes diante da impossibilidade real de solução de algum problema. Eu saí da casa de Letícia assim sem saber ao certo o que fazer, comecei a bater no volante repetidas vezes tentando afastar a maldita sensação que estava em meu peito.

- Pai o senhor precisava ver como a encontramos, ela estava tremendo, o rosto vermelho de tanto chorar.

- O pai de um aluno está agindo estranho

- Aqui não, não...

Tudo que aconteceu nos últimos dias vem em flash que só piorava a minha situação. Dói saber que ela estava sozinha, sem apoio, sem alguém que acreditasse quando ela pediu ajuda.

Estacionei na praia e desci para correr pelo calçadão, preciso procurar um meio para me acalmar. Será que ela foi ameaçada? Não tinha outra mulher para a acolher e ouvir? São tantas perguntas que eu tenho medo de descobrir as respostas, porque isso pode fazer com que Lê se afaste, se sinta mal e eu não quero.

Amaldiçoei seu pai, ele não deveria ter ido embora quando a esposa faleceu, era obrigação estar ao seu lado, a protegendo, cuidando, amando a filha.

Lembrei das minhas meninas e do meu processo de luto, não quero imaginar o que poderia ter acontecido se eu não tivesse me reerguido, não quero imaginar minhas filhas passando pelo que ela passou. Parei e apoiei as mãos nos joelhos buscando o ar enquanto meu corpo tremia de ódio, recuperado voltei e fui direto para o carro, quando entrei meu celular estava tocando incansavelmente.

- Pai? Cadê você? - Era Michele.

- Estou indo filha, vim correr um pouco. - Ela solta um suspiro de alívio.

- Estávamos preocupadas, ligamos para a academia e Pati disse que você saiu cedo. - Percebi que ela não falou que eu estava com Letícia.

- Chego daqui a pouco.

- Te amo pai.

- Eu também, princesa.

Deixei o celular no banco ao meu lado e liguei o carro, nem a música que tocava era suficiente para me fazer esquecer tudo que ouvi de Letícia, tudo que aconteceu na academia.

Ao chegar em casa, a primeira coisa que fiz foi entrar correndo e abraçar minhas filhas. Ter força emocional e mental não é fácil quando se passa por uma situação como a dela, ainda bem que Letícia teve Jeferson para ajudar.

- Aconteceu algo? - Michele perguntou desconfiada.

- Não. - Apertei as duas. - Não posso abraçar minhas filhas?

Afastei meu rosto para olhar as duas, o sorriso, o olhar inocente, isso tudo foi tirado de Lê da pior forma.

- Eu amo vocês.

- Pai você bebeu? - Consegui sorri de Michele.

- Não sua boba. - Ela sorriu. - Tudo pronto para amanhã?

- Sim, não vejo a hora de chegar na casa da vovó, ela fez aqueles biscoitinhos com goiabada. - Levantei o indicador lembrando de algo.

- Uma pessoa pediu para te entregar isso. - Tirei a sacola de dentro da mochila.

- Isso é pão? - Michele perguntou quando pegou da minha mão.

- Sim, com goiabada dentro.

- Mentira que Lê fez? - Correu para o balcão. - Ela é a melhor.

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