Capítulo 12

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Letícia

Peguei o celular sobre a mesa e caminhei até a pequena varanda da casa do meu amigo, suspirei sentindo a leve brisa, estou encantada com o pequeno condomínio que ele mora, ao todo são dez casas, cinco de cada lado, entre elas um jardim muito bem cuidado com árvores e flores que proporcionam sombra e um clima muito agradável.

A casa de Jeferson é pequena, são dois quartos, um banheiro, cozinha americana, sala e uma pequena área de serviço. Na frente a varanda minúscula que nem cabe seu carro, na verdade, quem mora aqui e possui carro, ele fica estacionado na porta da residência.

Olhei mais uma vez o whatsapp e nenhum retorno de emprego, desde que eu cheguei estou espalhando currículo, meu amigo quer que eu tente algo na nossa profissão, mas a falta de experiência pode gerar suspeita e se descobrirem onde eu passei os últimos meses tudo desanda mais uma vez.

Coloquei uma música aleatória no Spotify enquanto fechei meus olhos relembrando de tudo que aconteceu nos últimos dias. Após a audiência, Meire nem olhou na minha cara, tentei falar com o motorista que deu depoimento mas também não consegui, minha vizinha foi a única que veio falar comigo, todos juntos fomos para casa, eu precisava conversar com Jéssica sobre meu futuro.

Ela preparou uma procuração, e com isso ficaria responsável pela venda ou aluguel da minha casa, tudo que eu iria levar estava embalado e dentro do carro de Jeferson, restava a dúvida sobre os móveis e as demais coisas, mas isso foi resolvido da melhor forma e eu sei que minha avó não ficaria com raiva.

Na noite que antecedia a minha viagem recebi a visita de Tião, o motorista da empresa. Ele estava acompanhado da esposa e suas filhas. Nunca vou esquecer do abraço que recebi, do carinho e pedido de desculpas por não ter me ajudado antes.

Mas eu entendo o medo que ele sentia, não seria fácil arrumar um outro emprego por conta da idade, mas conversando com sua filha mais velha ele percebeu o erro que cometeu e imaginou as filhas em tal situação. Em forma de agradecimento, tudo que eu deixei para trás ficou de presente para a filha mais velha que irá se casar em breve.

O mínimo que eu poderia fazer para alguém que ajudou a salvar a minha vida e que agora está desempregado.

Com uma semana que estava aqui, fui informada pela advogada que havia um comprador para casa, e hoje eu estou com uma boa quantia guardada, meu amigo insistiu que eu comprasse ao menos uma moto modelo bis, mas minha prioridade no momento é arrumar um emprego.

Não posso passar o resto da vida morando com Jeferson, por mais que eu ame sua companhia, às vezes eu sinto que estou atrapalhando o relacionamento dele e Igor.

Sorri relembrando do dia que eles me levaram no salão e em seguida fomos para a clínica de Igor, afinal ele queria ter certeza que tudo estava bem.

Será que de fato está tudo bem? Às vezes ainda tenho pesadelo, não consigo sair para me divertir, Jeferson comentou que iria me apresentar seu colega de serviço e isso soou tão estranho na minha cabeça. Igor disse que é normal que eu me sinta assim, é normal eu ter falta de interesse, afinal eu passei por um trauma que ninguém deveria passar, o bom que ele conversa muito comigo sobre o assunto e me garante que isso vai passar em algum momento.

Afasto o pensamento quando a música é interrompida pelo toque do meu celular, o número não está na agenda e é daqui, um fio de esperança surge, afinal a essa altura tenho currículo espalhado em todos os cantos de Cabo Frio.

- Alô?

- Falo com Letícia? - Uma voz delicada surge do outro lado.

- Sim.

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