Capítulo 4

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Letícia

Anos depois

Engoli o choro e respirei fundo, agradeci mesmo recebendo um olhar estranho da dona da academia. Quando dei as costas deixei minhas lágrimas caírem livremente, de cabeça baixa sigo andando pela calçada, e quando estou o mais longe possível apoio as mãos no rosto chorando.

- Eu não vou conseguir. - Sussurrei. - Eu não vou conseguir.

Olhei para os lados com as lágrimas escorrendo, hoje eu não tenho para onde correr quando preciso desabafar, tem quase um ano que Jeferson foi embora.

- Você vai fazer falta. - Sussurrei de olhos fechados o abraçando.

- Tem certeza que vai ficar aqui diva? - Me afasto e ele ajeita meus cabelos.

- Não posso deixar minha avó. - Ele sorrir. - Ela precisa de mim.

- A gente vai se falando e se você precisar eu vou estar sempre aqui para te ajudar.

Uma buzina me trouxe de volta, voltei assustada para a calçada, assim que nos formamos, Jeferson se mudou para Vitória, nos falávamos com frequência, depois foi diminuindo, até o dia que eu mandava mensagem e nem chegava. A casa que ele morava está fechada, nunca vi movimentação, a família dele é de Minas, só uma tia que mora aqui, mas eles não tinham tanto contato, a bruaca não aceita a opção sexual do sobrinho.

Olhei para o céu e segui para casa, o vazio só aumenta a cada não que eu recebo. O sol hoje resolveu castigar, mas não posso me dar ao luxo de pegar um ônibus, minhas economias estão acabando e só tenho isso graças ao que minha avó deixou.

Como ela faz falta, é horrível chegar em casa e não receber seu abraço. Eu tinha três meses de formada quando aquela maldita doença apareceu, e pela idade não tínhamos o que fazer, foi tudo tão rápido, a única certeza que eu tenho é que ela não sofreu.

Quase uma hora depois, estava abrindo o portão, o silêncio que deveria ser bom é péssimo, entrei em casa e abri as janelas, fui para meu quarto e sentada na cama encarei o nada por alguns minutos tentando entender como nossa vida pode mudar da noite para o dia, uma hora está tudo bem, e quando você acorda o mundo está desabando na sua cabeça.

Suspirei e levantei agora trocar de roupa, ao abrir a porta olhei meu reflexo no espelho, mas minhas lágrimas voltaram ao ver os três posts it colados nele.

Você é linda.

Você deveria sorrir mais, afinal tem um sorriso perfeito.

Você vai longe, nunca duvide de você, linda.

Sorri melancólica lembrando daquele fim de semana, esses três recados estavam em minha mochila nos três dias de curso, nunca descobri quem colocou e só estão aqui todos esses anos porque Jeferson fez questão de plastificar.

- Vai ficar colado aqui sim diva. - Minha avô estava na porta sorrindo. - Ela precisa entender vó o quanto é linda e capaz.

- Se você conseguir isso, ganha um prêmio.

- Dois contra um? - Cruzei os braços e bati o pé no chão.

Minha avó sorrindo voltou para a sala, olhei no espelho e os recados estavam ali. Meu amigo colocou seu corpo atrás do mês e apoiou suas mãos em meus ombros.

- De arrepende de não ter dado seu número ao gato?

- Não, de que adiantaria dar meu número, seria algo impossível, não daria certo. - Ele beijou meu rosto.

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