Capítulo 6

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Letícia

A dor é o único sentimento que me acompanha nesses meses aqui dentro, ainda lembro do olhar de Meire, eu senti que ela sabia que eu estava falando a verdade, agora porque não me ajudou?

- Eu só queria sair daqui, não aguentava mais. - Sussurro repetidas vezes olhando para Meire que não esboçava nenhuma reação.

- Tenho provas que vocês estavam tendo um caso. - Teresa saiu em defesa de Meire enquanto eu negava.

Só de lembrar tudo que eu passei a bile sobe. Hoje é dia de visitas, o pátio vai ficando cheio, levanto limpando a mão na calça que uso, vou voltar para a cela, como sempre ninguém vem me visitar, nunca vieram, então hoje não vai ser diferente.

Estava caminhando de volta quando uma voz que eu não ouvia há muito tempo me fez parar, meu coração bateu tão forte que eu pensei que fosse enfartar, quando virei o encontrei ali, com aquele mesmo sorriso, aquele olhar que me colocava para cima.

Olhar para Jeferson fez meu corpo paralisar, meu amigo estava diferente, mais bonito eu diria, ele usava uma calça de tactel preta e camisa cinza, estava de óculos escuros, cabelos arrumados, quando levantou os óculos prendendo em seus cabelos, percebi seu olhar triste.

- Oi. - Comecei a chorar, mas não sai do lugar.

Rapidamente ele caminhou na minha direção, óbvio que ele estava atraindo olhares das demais detentas que estavam pelo pátio, então criei coragem e corri até ele chorando.

- Você está aqui, você está aqui. - Meu corpo tremia.

- Meu Deus Lê, por que você não me contou o que estava acontecendo desde que a vó faleceu? - Ele estava chorando como eu.

- Você não me esqueceu, você está aqui. - Eu apertava meu amigo sem acreditar que isso de fato está acontecendo.

Jefinho me afastou e secou meu rosto, coloquei minhas mãos sobre as dele e fechei os olhos.

- Lê. - Sua voz calma fez com que eu abrisse os olhos. - Eu li suas cartas. - Minhas lágrimas aumentaram à medida que vi as dele rolando pelo seu rosto.

Tentei me afastar, mas ele não deixou e segurando minha mão caminhamos pelo pátio até encontrar um banco livre, sentamos e ele não tirou sua mão da minha.

- Eu achei que nunca mais fosse te ver. - Sussurrei. - Eu tentei falar com você, te mandava mensagem todo dia mesmo nenhuma chegando.

- Eu troquei de celular e por estar em outro estado tive que trocar de número, perdi muitos contatos, incluindo o seu, me perdoa, mas eu estava com a vida tão corrida, que eu... - Eu o abracei mais uma vez.

- Eu não estou com raiva, você está aqui agora, veio me ver, isso já significa muito. - Ele me afasta e beija minhas mãos.

- Eu vim para uma audiência sobre minha antiga casa, todo mundo querendo uma pontinha do dinheiro da venda, tomei um susto quando a vizinha que estava responsável pela chave me entregou a sacola com suas cartas, fiz questão de ler todas. - Abaixei o olhar. - Eu vou te ajudar.

Levantei a cabeça e encontrei seu sorriso.

- Não suje seu nome com isso. - Ele ergue a sobrancelha.

- E eu ligo para isso? Eu vou te tirar daqui e te levar embora, você volta para o Rio comigo.

- Você está morando lá? - Concorda.

- Sim e você vai para lá comigo, eu preciso que você me dê o nome do seu advogado, vou entregar aquelas cartas, deve ajudar em algo.

- Eu não tenho, e sabe Deus se avisaram a defensoria, você sabe que dinheiro influencia nessas horas. - Minhas lágrimas não param de cair.

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