passado vs presente

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Presente

Bela

Às vezes, fico chocada com o quanto a vida de uma universitária pode ser tediosa. Quando vim para Meridian City, achei que minha vida daria uma reviravolta. Pensei que a cidade grande, com seus prédios altos e ruas sempre movimentadas, me daria uma dose de adrenalina, algo para me tirar da monotonia que me consumia em Thunder Bay. Achei que minha rotina mudaria, que eu finalmente deixaria o passado para trás. Pensei que sentiria novamente a adrenalina daquela noite.

Mas nada mudou. Nem mesmo depois que eles se foram.

Ficar longe de Erick também não ajudou. Desde que ele foi morar em Paris com Lucca, tudo ficou ainda mais monótono. Sem ele aqui, não há ninguém que realmente me entenda, que saiba quem eu sou de verdade. E eu não consigo me conectar com as pessoas da mesma forma. É como se a minha capacidade de criar laços tivesse se quebrado, como um copo que nunca pode ser colado novamente.

Às vezes, queria ser como outras pessoas, mais superficial, mais aberta, alguém que socializa com facilidade e conquista amigos num estalar de dedos. Mas não sou assim. No entanto, em meio às minhas tentativas desajeitadas de me encaixar, reencontrei Leon. Ele é uma espécie de alívio no meio desse caos interno. Faz-me sentir segura, e, de vez em quando, consigo até saborear algo que se assemelha à felicidade.

Mas, no fundo, sei que não é amor. E isso me mata um pouco. Ele merece alguém que o ame completamente, não alguém que o veja como uma forma de preencher um vazio que nunca deveria ter existido.

Ao menos aqui em Meridian, tenho o luxo de ser invisível. Ninguém sabe quem eu sou. Não há olhares julgadores, cochichos disfarçados ou rumores. Estar longe de Thunder Bay deveria me ajudar a curar essas feridas, mas, em vez disso, o vazio só parece maior. Como posso querer que eles estejam aqui, mesmo depois de tudo o que aconteceu? É tão contraditório... tão sufocante. Às vezes, penso que a única forma de seguir em frente seria esquecer. Apagar cada lembrança dos últimos três anos.

Quando finalmente chego ao apartamento, não penso em mais nada além de deitar na cama. Mal consigo tirar os sapatos antes de me jogar no colchão, minha mente à deriva entre pensamentos confusos e o desejo de não pensar em nada.

Acordo com o som irritante do meu alarme. Ainda meio sonolenta, estico o braço para pegar o celular, mas não o encontro. O som, no entanto, continua. Franzo a testa, confusa, até perceber que o barulho vem do bolso da minha calça.

"Mas que droga..." murmuro, enfiando a mão no bolso e descobrindo que não é o alarme. É minha mãe me ligando.

"Oi, mãe!", digo com a voz rouca. "Obrigada por me acordar cedo em um sábado de manhã."

"Se para você 10 horas da manhã é cedo, então não sei mais o que é meio-dia", ela responde, rindo.

"Cheguei cansada da faculdade ontem. Esqueci de avisar."

Depois de uma breve troca de provocações, ela me informa que Evan está na cidade e que posso pegar uma carona com ele para Thunder Bay. Embora minha mãe insista, dou uma desculpa qualquer e prometo tentar aparecer para o jantar.

Quando desligo, cubro-me novamente com o edredom, determinada a dormir mais um pouco. Mas antes que consiga voltar ao meu estado vegetativo, um som de vidro quebrando me faz pular da cama. Meu corpo reage antes que minha mente processe: coração acelerado, respiração entrecortada, pernas bambas. Adrenalina. Há quanto tempo não sinto isso? Tento me acalmar, repetindo mentalmente que eles estão longe, mas meu corpo não ouve.

Com passos leves, sigo pelo corredor. Cada som, cada sombra parece amplificado. Minha mente grita, meu peito dói, e memórias que eu preferiria enterrar ressurgem. O corredor parece mais longo do que nunca, um túnel escuro que me leva direto ao meu medo. Quando finalmente chego à cozinha, o que encontro me desarma completamente.

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