Eu sabia que, mesmo sendo muito melhor do que minha infância anterior, para mim, essa nova vida era diferente do que para as demais crianças da aldeia.
Todas frequentavam, pela manhã, o círculo dos Anciões, onde os mais velhos tiravam turnos para ensinar as histórias, hábitos e tradições da tribo para os mais novos.
A cada nova lua (meio que o fim de semana), elas podiam esquecer os deveres diários e tirar um "dia livre". Podiam ir nadar no riacho, brincar de roda, enfim, fazer coisas de criança.
Para mim, a rotina era um pouco mais, como dizer, mais dura, mais espartana!
Acordar, limpar a casa, varrer o pátio, dar água e alimento para os animais. Nem pensar em ordenhar, pois era só chegar perto e as cabras já ficavam nervosas...
Cuidar do fogo e rachar lenha: dia sim com o machado (para treinar os músculos) e dia não, com a telecinese (para treinar a habilidade). Ainda bem que o Mestre acorda tarde!!!
Fazer o café da manhã, acordar o Mestre, limpar tudo.
Sessão de estudo da manhã: história de Eurethia, história dos grandes sacerdotes, filosofia e preceitos Do Um, ervas, magia sagrada, enfim, tudo que poderia me ajudar a me transformar em um aprendiz de sacerdote.
Fazer o almoço para mim e para o mestre (no início, era mais para ajudar a picar e lavar tudo), mas as habilidades culinárias do Mestre eram meio restritas, então assumi essa tarefa assim que tive altura para poder trabalhar na pia da cozinha. Quem aguenta mingau de aveia e ensopado todo dia?
À tarde – enquanto o Mestre fazia a ronda pela aldeia - eu faço meu treino físico, banho e, fechamento o dia, uma meditação para manter minha relação com O Um e seu mundo sempre afinada, terminando quando o Mestre voltava da aldeia (trazendo víveres e feno para os animais).
Foi com essa combinação de corpo e espírito que vi minhas habilidades ligadas à classe sacerdote evoluírem, entendendo que força e mente têm que evoluir juntas.
Parece que ser sacerdote Do Um é meio como treinar como os monges Shaolin, monges guerreiros. Quando será que começará meu treino marcial? Pensava eu...
Tão logo finalizávamos a saudação à primeira Lua a subir (das três que ficam no firmamento), já era hora de uma refeição noturna leve (sopa ou pão com queijo) e ir para a cama, preparando-se para o dia seguinte.
Depois que passei pela cerimônia de nomeação (afinal, agora faço parte da tribo!), comecei a explorar meus arredores, me esgueirando para descobrir como era a vida no resto da aldeia (daí que aprendi como era para as outras crianças).
Assim que o Mestre notou que eu já sabia não me perder, ele me colocou para recolher ervas nos campos ao redor da casa e perto do riacho (nunca perto da aldeia!).
Se você está se perguntando o que eu fazia nos dias de Lua Nova, eu tinha o dia livre para fazer tudo de novo, afinal, estava em treinamento e não tinha vindo ao mundo por diversão...
Com o passar do tempo, as cabras começaram a se acostumar ao meu cheiro (ou será que ele mudou?), eu consegui começar uma horta. Nossa vida estava melhorando!!
Assim, passei a levar as cabras para pastar, e meus horizontes começaram a se expandir.
Passei a encontrar outros moradores – pastores com seus rebanhos – e entender melhor a situação da Aldeia, que consistia em ocupar o morro, levar os animais para pastar no alto e deixar o baixio para o cultivo.
Usando meu conhecimento acumulado da minha vida passada, domando as ribanceiras, morro acima - porque além do asfalto não podemos ir - passei a pensar em formas de melhorar a nossa pequena comunidade.
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Lobo em pele de Cordeiro
FantasyA história de Garn, o flagelo do Velho Mundo, sacerdote Do Um, trazido para destruir os humanos encarnados que vieram antes dele mas que escolheram trair o Deus Criador desse mundo, criando uma nova Igreja: a Igreja dos Heróis. Esses antigos encar...