Uma refeição, uma conversa e uma fuga...

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— Por favor, sente-se.

— Eu me chamo Glênio, e o seu nome?

— Lídia. Posso mesmo me sentar?

— Sim, vamos comer. Penso que não haja muito mais que possamos fazer até resolverem nos tirar daqui.

— Obrigada, mas prefiro esperar o senhor comer e ficar com o que sobrar, assim não serei acusada de roubar a sua comida.

— Hum, entendo. Esse é o nível de opressão por aqui, né?

— Então, que tal, em primeiro lugar, uma magia de vento para criar uma camada de turbulência entre nós e o mundo externo? Assim, não vão poder nos ouvir.

— O senhor pode usar magia?

E assim produzi uma camada de turbulência em torno da sala, para que não fôssemos ouvidos. Seria como estar dentro de um casulo de vento, indo em todas as direções, dissipando o som de nossa voz.

— Sim, e agora vamos dividir essa refeição com calma, pois algo me diz que esse menu não é o que você costuma comer, certo?

Silenciosamente, ela rasgou um pedaço do pão para colocar no molho do assado.

— Eita, que assim eu vou começar a achar que essa comida está envenenada. Come, mulher! Aproveita! Eu não sou seu inimigo.

— Sei que você não me conhece, mas eu percebo que você não está sendo bem tratada aqui. Saiba que pessoalmente estou enojado do que vi e ouvi até agora.

Frente ao silêncio da clérica, continuei:

— Imagino que saiba o que esperam de nós, mas saiba que eu não tenho interesse em compactuar nem com esse nojento do Monsenhor Igor, nem com essa corja de sanguessugas malditas que ainda ousam chamar esse lugar de templo!

O olhar que ela fez foi quase cinematográfico, e um leve sorrisinho irônico surgiu em um dos cantos dos lábios. Com um pouco de raiva e um pouco de dor, ela falou:

— Sim, para o senhor é fácil falar. Eu estou aqui, presa. Quando a comida acabar, e o senhor fizer o que quiser comigo, o senhor vai embora e eu vou ficar aqui... para sempre.

— Verdade! Verdade! Mas e se eu dissesse que eu poderia mudar esse futuro?

— Você não tem esse poder. Você está aqui só para me engravidar e seguir adiante, como os outros antes de ti.

Então essa era mesmo uma prática comum por aqui. Que animais!

— Hum, passa o queijo aí, por favor. Quer um pouco de leite?

— Sim, já que estou na chuva, é melhor eu me molhar mesmo. Só peço que não deixe marcas, nem force tanto que tire sangue... Não me machuque, por favor. É o que lhe peço. De resto, pode usar o meu corpo como lhe aprouver, já estou acostumada.

— Menina, sinto que sua vida não tem sido fácil, hein? Pega esse naco de carne aqui...

— E se eu dissesse que recebi um recado de uma certa pessoa com quem você tem conversado, e que ela me pediu para cuidar de você, o que você acharia disso?

Agora a cara dela era de quem ouviu uma piada. Claramente, achava que eu estava tirando sarro.

— Que piada interessante essa. Eu nunca saí deste lugar. Só vejo quem me mandam para curar e depois volto para minha cela, para passar mal e tentar me recuperar. Como posso ter falado com alguém? Ainda mais com alguém que possa ter piedade de mim? Não fale besteiras, e não me ofenda com suas histórias. E me passe esse figo aí!

— Enfim, parece que finalmente estou tendo a sua atenção, certo?

Ela mordeu o figo, fazendo uma cara de espanto quando o sabor doce se espalhou pela boca. Claramente, esse não era seu cardápio habitual.

Lobo em pele de CordeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora