Conhecendo o inimigo

17 5 0
                                    

Já era noite quando entrei na cidade. Eu já sabia o que esperar das vezes que acompanhei a troca de peles e carne por ferro e sal. Só que agora, vestindo a pele de um humano, estava livre para entrar nos lugares que antes eram proibidos para mim.

Primeiro, fui até a Guilda para confirmar as informações que obtive com Greg, e sim, o painel de missões estava mesmo minguado, com apenas pedidos de caça para trazer carne para a cidade.

Nem mesmo o painel de cotação dos preços de núcleos de monstros estava em alta. Afinal, esses núcleos são usados como combustível para equipamentos mágicos que as pessoas ricas, de famílias abastadas, possuíam.

Se você não tem mágica, como os humanos, você precisa usar a magia armazenada nos núcleos dos monstros para fazer funcionar equipamentos mágicos, como um lustre que pode iluminar sua sala (sem precisar ter velas queimando) ou um fogão mágico para manter o chá aquecido na mesa.

Assim, aqueles que tinham grana podiam comprar esses equipamentos mágicos e usar os núcleos inseridos neles para realizar essas funções. Como a cidade estava meio mal das pernas, nem aos ricos estava sobrando dinheiro para esse tipo de luxo, por isso a procura estava baixa e, consequentemente, os preços estavam caindo (lei da oferta e da demanda).

Aproveitei para fazer um reconhecimento e aplicar uma avaliação nos aventureiros que estavam por ali, para saber o que esperar caso a situação ficasse complicada e eu precisasse lutar para sair...

Nada preocupante, basicamente caçadores e um ou outro aventureiro de passagem, em busca de algum ganha-pão entre cidades de maior relevância. Nenhum acima do rank C, que era o rank de Greg. Nossa, se esse era o melhor que a cidade tinha a oferecer, eles estavam mesmo com problemas!

Em seguida, fiz uma visita aos silos da cidade, junto à prefeitura, para confirmar o que Christoffer temia. E sim, a fome estava mordendo os calcanhares das pessoas, fazendo-as saltar de medo e acordar à noite pensando em como seria duro o próximo inverno.

Próxima parada: a igreja, meu grande objetivo a ser conquistado, ou melhor, destruído!

Ela estava num local meio afastado, não no centro da cidade, mas bastante proeminente, com suas paredes altas e cúpulas de pedra. No interior, a figura do primeiro Herói em seu momento de sacrifício para derrotar o Lorde Demônio, ladeado por seus dois companheiros. Era uma apropriação de um pseudo-cristianismo, onde o Herói assume o lugar de enviado de Deus, e o Lorde Demônio representa todo o mal que existe.

Como o Herói era humano, ficou para os não humanos o lugar de enviados do demônio. Uma narrativa bem simples que qualquer um poderia entender e se relacionar.

As paredes eram sólidas e de pedra; desmontar esse lugar daria trabalho!

Ao final da tarde, início da noite, nas horas mortas do dia, com o baixar do sol e coberto pelo crescimento das sombras, pude explorar a Catedral e seus prédios anexos com mais calma. Afinal, dava muito na cara um total estranho – Greg – ir entrando nos locais, certo?

Então, usando a habilidade de furtividade, escalei o muro e fui entrando para conhecer melhor o terreno de caça do inimigo!

Passando pelos muros para dentro do pátio lateral da Catedral, onde – do lado oposto à Catedral - estava o prédio dos aposentos dos sacerdotes, encontrei a maioria das pessoas dormindo.

Usando avaliação, percebi que, fora o pessoal que trabalhava nas tarefas diárias, havia poucas pessoas com habilidades, e nenhuma com poder mágico.

Se de um lado o pátio dava para a rua, ao fundo deste jardim (como um pátio de colégio ou jardim de uma abadia) ficava a residência do Monsenhor, ou o chefe – se quiser chamar assim.

Lobo em pele de CordeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora