Prévia do Confronto

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Ainda nem tinha terminado meu prato direito quando uma pessoa se sentou à minha frente. Eu o achei familiar, mas não lembrava exatamente de onde...

— Sr. Glênio, desde já agradeço imensamente a sua gentileza em me curar. Creio que ainda não fomos formalmente apresentados. Meu nome é Arnaldo, o caçador que o senhor curou na porta da Catedral ontem.

— E, desde já, deixe-me devolver o seu cajado, que muito me auxiliou para voltar a andar, mas — como pode ver — parece que já não é mais necessário!

Ah, claro! Agora me lembrava dele.

Bem, verdade seja dita, ele parecia bem diferente naquela condição.

— Quando se mencionou que precisavam de um guarda-costas para acompanhá-lo à residência do Barão, não pude evitar me candidatar para estar ao lado daquele que foi o meu maior benfeitor. Pode contar comigo para o que der e vier!

— Opa, que bom que está se sentindo melhor. Será um prazer contar com você. Sabe o que podemos esperar? Digo, esse pessoal está meio afoito para me encontrar; já me procuraram até lá no Moinho e tudo mais...

— Sim, parece que tem a ver com a esposa do Barão. Ela está doente há bastante tempo, mas pelo que vejo (batendo as mãos nas pernas), o senhor vai tirar isso de letra!!!

Mal ele terminou de falar, uma sombra se projetou pela entrada da Guilda. Parecia aqueles filmes de faroeste, com o bandido — ou seria o mocinho? — fazendo sua entrada no salão.

As conversas pararam, as vozes silenciaram no meio das frases, e até a poeira no ar parecia ter diminuído de velocidade. Certamente alguém estava querendo um desafio...

Quem seria?

Para minha surpresa, lá estava ele: o Sr. Gustav!!!

Quase não segurei o riso ao ver aquele sujeito de peito estufado, tentando se impor num ambiente onde, mesmo ladeado por seus homens, claramente era o mais fraco...

Parecia uma repetição do que se passou no Moinho. Antes, estava como Garn, e agora, como o sacerdote errante Glênio. Suspirei: que gente chata... isso ia ser mesmo um porre!!

Sem se preocupar, o Sr. Gustav anunciou:

— Estou aqui para escoltar o sacerdote, seguindo ordens do Sr. Barão de Saboia. Onde está o homem?

— Espero que esteja pronto, pois não gosto de esperar!

Pode ter sido impressão minha, mas senti que todo o salão deu uma suspirada, meio que esperando outra entrada teatral. Mas, como nada aconteceu depois da encenação, melhor assim. Somente o velho Gustav de sempre... A coisa toda foi meio anticlimática, né?

Bora cuidar da vida e não dar bola para esse aí, se achando!

E assim, o Sr. Gustav se viu ignorado, com toda a sua autoconfiança diluída com o burburinho e som da vida, que foram retomados após serem brevemente — e por nada interessante — interrompidos.

— E aí, avisamos a ele que estamos aqui? Ou damos mais um tempo para ver o que acontece?

— Não, Sr. Glênio, pode ficar tranquilo. Eu vou lá falar com ele. Já conheço o sujeito, pode deixar comigo. Termine sua refeição com calma.

— Levo ele para a sala de reuniões. Assim que terminar o almoço, nos encontra lá, tudo bem?

Assenti com a cabeça...

Depois de limpar o prato e tomar algum tempo saboreando uma caneca de vinho, fui em direção à sala de reuniões.

Ao entrar, vi o Sr. Gustav sentado no sofá em frente à mesa de centro, de braços cruzados, pernas cruzadas e balançando o pé da perna de cima, com dois de seus guardas atrás dele (sim, me lembrava deles também), e o Sr. Arnaldo sentado no outro sofá, saboreando o seu chá, a calma em pessoa.

Lobo em pele de CordeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora