E enfim tudo mudou...

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Como tudo pode mudar de uma hora para outra, né?

Não sei para onde foi a minha paz, a minha discrição, a vida pacata de sacerdote andarilho...

Nem tinha raiado o dia, e já havia gente batendo na porta do meu quarto.

Era um coroinha da igreja, um moleque com cara de sono, claramente chateado de estar de pé nesse incrédulo horário matinal.

Eu estava sendo "convidado" para ir tomar o café da manhã com o Monsenhor Igor, e ele já estava me esperando. Que eu me vestisse e me apressasse!

— Peço desculpas, não entendi?

— O Grande Monsenhor Igor deseja tomar o café da manhã com o senhor, por isso me enviou para acompanhá-lo até a catedral, para que possa prestar as devidas honras à Catedral de nossa cidade.

— Agora, se o senhor não se importa, por favor, vista-se e venha comigo.

Hora de tirar o mando de campo desse pessoal! Nem a pau que eu iria fazer o jogo deles!

Hora de forçar uma quebra de braço!

— Então, desculpa, não peguei seu nome. Você já tomou café da manhã?

Nem esperei a resposta e já fui me impondo...

— Nem precisa me responder, claramente que não, né?

— Então, eu tenho que honrar meus compromissos aqui com o chefe da Guilda. Você conhece ele? Aquele sujeito alto, com cara de mau e cheio de cicatrizes. Sabe de quem estou falando, né? Então, vai falar com ele sobre eu deixar de fazer o que foi combinado?

— Isso, eu vou para a catedral e te deixo aqui na guilda sozinho para tratar de tudo, pode ser assim?

Essa parecia ser a deixa, e o rapazote já estava repensando a sua atitude.

— Bem, a Igreja não gosta muito de intervir nos negócios da Guilda, e se o senhor tem assuntos a tratar com a Guilda, é melhor resolver isso e, depois, ir à Catedral.

Sabia! Esse café da manhã estava parecendo bom demais para ser verdade. Nada que vinha daquela Catedral deveria ser confiável...

— Beleza, bora comer. Eu te convido, é claro, pois eu não funciono muito bem de estômago vazio.

Fechei a porta, coloquei alguma roupa, e fomos eu e o garoto comer o pão de nozes com uma caneca de leite quente...

Ele não guardou para depois, sabendo que o melhor lugar para guardar comida é no estômago, onde não dá para dividir com mais ninguém.

Já começava a me identificar com o rapaz...

— Então, me diz aí, papo reto! O que o tal do Monsenhor quer comigo? O que aconteceu para te mandarem tão cedo assim?

Impressionante como um estômago cheio amolece a língua.

Descendo mais uma caneca de leite, outra fatia de pão, e pronto. Parece que a cura do tal do Arnaldo já era conhecida virtualmente em todos os círculos da nobreza e, consequentemente, da Igreja...

Eu tinha que levar isso de uma forma que não me tirasse a minha liberdade de ação. Se jogasse as cartas erradas, poderia me ver refém da Igreja, e nunca mais sair dessa cidade, isso eu sabia.

Hora de ter uma ação mais ousada!!

— Perfeito. Terminando aqui, vamos procurar o Sr. Fred e ver se ele me libera para ir à Catedral. Se ele permitir, eu o acompanharei. Que tal?

Ele deu de ombros, sabendo que era sábio não se meter em briga de cachorro grande.

Para mim, era hora de ganhar tempo, de uma forma oficial.

Lobo em pele de CordeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora