E um novo Entardecer...

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Mal Timóteo saiu pela porta, senta-se o Gino ao meu lado:

— Então, acho que encontrei um bom cliente para o Sr. Glênio Sacerdote, que tal irmos dar uma conferida hoje à noite, discretamente é claro!

— Sim, podemos ir, quanto antes melhor, pois acho que meu tempo nesta cidade será mais breve do que imaginava.

— Aconteceu algo? Parece que teve alguma coisa na porta da Catedral hoje, foi você?

— Imagina, passei o dia todo andando com o Timóteo, conhecendo a cidade. Aliás, você pagou o menino, certo? Não quero que todo o trabalho que ele teve fique sem reconhecimento.

— Paguei sim, pode ficar descansado, eu sempre cumpro minhas promessas.

— Então, podemos ir?

— Sim, claro, vamos aproveitar que está anoitecendo para podermos nos misturar ao povo indo e vindo, e nos mover discretamente. Aliás, o senhor não tinha um cajado? O que aconteceu, perdeu?

— Nada, ele está emprestado. Logo, logo ele voltará para mim.

E assim mergulhamos nas ruelas e becos da cidade: entramos, descemos, viramos, subimos, algumas curvas a mais e, finalmente, mediante uma senha e contrassenha rosnada de boca a ouvido, passamos por uma pequena porta que se abriu no fundo de um beco escuro.

A porta deu numa saleta pequena, com uma mesa no meio e uma figura sentada à ponta.

Esperamos nossos olhos se acostumarem à transição da escuridão para a claridade, e pude ver que, do outro lado da mesa, estava uma pessoa grande, gorda, velha, suando, vestida em veludo vermelho, com um copo de vinho na mão.

A fumaça de um narguilé subia (aqueles aparelhos árabes para fumar, onde se coloca um carvão em cima, e você puxa a fumaça por uma mangueira que faz com que ela passe pelo líquido antes de ser aspirada, esfriando e adquirindo o gosto da bebida em que passou), preenchendo o espaço acima das cabeças e tornando o ar mais doce e com um cheiro exótico.

Uma mulher da tribo dos gatos das montanhas estava em seu colo, com uma coleira, cuja corrente ele fazia questão de puxar de tempos em tempos para ouvir seus gritinhos. Bem, como dizer, mas a coleira e sua corrente eram quase tudo que ela estava usando...

É claro! Um mercador de escravos, tinha que ser um mercador de escravos! Tenho que agradecer ao Gino por me colocar nessa situação. E agora, o que fazer?

Matar todos e sair dali?

Ficar e me manter no papel, ajudando esse bastardo?

Que roubada!

Bem, vamos ver no que dá. Vamos dar linha para esse peixe e ver o que dá para fazer...

— Como prometi, Sr. Tadeu, lhe trago um sacerdote que provavelmente poderá lhe ajudar com seu probleminha, de forma rápida e discreta, como o senhor pediu...

Aproveitei para usar a habilidade de avaliação e entender melhor o que exatamente estava à minha frente.

Essa apresentação do Gino me deu uma ideia, mas parece que esse infeliz não sabe realmente quão fodido está! Afinal, câncer no intestino não é algo que se possa tomar à ligeira, ainda mais no estágio em que o desse infeliz estava.

— Bem, Sr. Sacerdote, fico feliz que tenha tido disponibilidade para vir até mim. Veja bem, no momento estou com uma dificuldade intestinal. Parece que tudo o que como cai mal, e tenho tido algum sangue saindo, além de uma certa diarreia.

— Os sacerdotes do templo não gostam muito de mim - não sei por quê, já que faço doações bem generosas - e ficam me mandando tomar uns chás digestivos, mas parece que nada melhora.

Lobo em pele de CordeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora