Traçando um Plano

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Meu mundo estava mudado; um novo horizonte havia se aberto e um desafio se colocava à minha frente.

Perguntei ao Mestre se ele sabia do Moinho e de quem morava lá. Ele me explicou que era um assunto delicado, pois, como eles não pertenciam a nenhuma tribo e havia humanos entre eles, assim que a aldeia não poderia se envolver diretamente.

Vendo minha cara de quem não entendeu, ele explicou:

- Garn, eu, Barall, sacerdote Do Um, sei que todas as criaturas são irmãs, filhas do mesmo Deus verdadeiro que ama a todas de igual forma, indiferente de como elas se pareçam, pois aos seus olhos somos todos seus filhos queridos, sem distinção!

- Porém, o mesmo não se aplica para a liderança dessa vila, que está responsável por manter vivos e saudáveis os seus moradores. Pois deles é a responsabilidade de saber o que é "o melhor para todos", e sobre seus ombros pesa a nossa sobrevivência. Como você viu no nosso "comércio" de peles e carne dos nossos rebanhos, não tem sido uma tarefa fácil.

- Eu sei que O Um lhe enviou com uma missão, que era uma pessoa diferente, a qual ele pediu a mim para que cuidasse de você; tudo o mais eu não sei dizer.

Que dia, que noite, quantas revelações. Então o Mestre sabia de tudo isso desde o início!!!

- O que eu também sei é que você tem uma visão diferente de todos aqui na vila e que muito tem feito para melhorar nossa qualidade de vida, dando um novo alento para a nossa juventude, conforto para os velhos e alegria para o olhar de nossas crianças. Algo que dificilmente poderemos retribuir.

- Isso posto, eu lhe pergunto: o que você quer fazer com relação ao Moinho, à cidade, enfim, à sua vida? Afinal, você já não é mais uma criança e o tempo de decidir o que você deseja fazer com a sua vida está chegando, e rápido!

Não sabia o quanto deveria contar ao Mestre sobre meu acordo com O Um, mas ele aceitou bem meu desejo de ajudar ao Moinho e a todos os que seguiam os ensinamentos Do Um na cidade, deixando o resto para depois (foi o que ele falou, batendo os seus cascos no chão, afirmando que o assunto estava resolvido).

Foi decidido que eu, como aprendiz de sacerdote, iria periodicamente ao moinho e à cidade como parte do meu treinamento, para divulgar a doutrina Do Um junto à população mais vulnerável da cidade, na periferia.

Para facilitar minhas idas e vindas, construí uma pequena cabana de caça, junto ao penhasco, com um quarto secreto fechado por uma parede falsa de pedra que somente com minha telecinese poderia ser aberta.

Usaria a cabana para me trocar antes de entrar na cidade.

Meu plano era começar a ter uma vida dupla, indo para a cidade ora como Sacerdote em treinamento, ora como aventureiro.

Minha primeira parada seria no Moinho, que seria minha nova base operacional, perto da cidade, mas não tão próxima a ponto de causar problemas.

Para ter algum poder de barganha junto à comunidade do Moinho, pedi permissão ao conselho da aldeia para plantar um lote de trigo e aveia. Assim, o Mestre teria seu sustento garantido (mesmo que eu não pudesse ajudar nas tarefas como antes) e eu teria algo para levar quando fosse ao Moinho.

Nunca convém chegar de mãos vazias; um bom presente – como comida - é sempre bem-vindo! Era algo que minha mãe sempre dizia quando íamos visitar alguém!

As folhas amarelas do outono estavam começando a cair quando coloquei pela primeira vez minhas novas roupas de aprendiz de sacerdote, peguei meu cajado e desci o morro em direção à cidade.

Meu Mestre e eu nos despedimos junto ao portão de pedra, agora permanentemente guardado por um vigia com o chifre de cabra, pronto a soar chamando reforços.

Lobo em pele de CordeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora