Um novo amanhecer...

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Gino era um canalha, mas um canalha de palavra. Mal o sol havia surgido, e já estava o pequeno Timóteo perguntando por mim no salão da Guilda:

- Você é o sacerdote que chegou ontem?

Nem imagino que tipo de acordo aquele pulha fez para coagir aquela criança a estar ali tão cedo.

O pior é que eu conhecia o garoto! Afinal, como caçador, estava sempre perambulando pela cidade baixa, entre um serviço e outro, assim como para estender a rede de colaboradores "pró Um" na cidade.

- Oi, garoto, estou aqui!

- Bom dia, jovem senhor. O Sr. Dino me deixou responsável por apresentar a nossa linda cidade para o senhor. Eu sou Timóteo, ao seu dispor...

Ele fez uma vênia tão baixa que quase caiu no chão, voltando a ficar de pé com o olhar envergonhado.

- Perfeito, Timóteo, né? Já tomou o café da manhã?

Juntando o orgulho que aquele toquinho de gente poderia reunir, ele afirmou:

- Sim, estou pronto para levar o senhor aonde quiser.

- Senhor não, que isso me faz sentir mais velho ainda. Que tal Glênio, só Glênio?

- E que tal começar me acompanhando até a cantina? Eu ainda não comi nada e não gosto de comer sozinho.

A cantina da Guilda não era famosa pela comida. Afinal, a maioria só queria saber de encher a cara, mas era uma comida honesta e que alimentava.

Sentando à mesa, fiz sinal para o pequeno ocupar o lugar ao meu lado e pedi dois cafés da manhã.

Era algo bem simples: uma caneca de leite quente e, por cima da caneca, uma fatia grossa de pão de nozes saído do forno.

Nada extraordinário, mas eu sabia que, para o Timóteo e seus outros três irmãos, representava o luxo de uma refeição quente.

Mastigando meu pedaço, vi ele rapidamente tomar todo o leite, roer um terço do pão e guardar o resto na sacola "para mais tarde", afinal, já tinha tomado café e não estava com fome.

Saímos da Guilda para enfrentar o frio de uma manhã de fim de inverno. Estiquei as costas e bati os pés no chão para espantar a vontade de voltar para a cama.

- E agora, Sr. Timóteo, para onde vamos?

Aquele toquinho de gente começou a falar sobre a cidade e não parava mais, me arrastando para cima e para baixo. Tinha a impressão de que nem para respirar ele parava de falar.

Me levou para ver as "grandiosas" muralhas, passamos pelo cemitério para conhecer as tumbas dos nobres heróis que defenderam o antigo vilarejo de um ataque do exército do Rei Demônio, no qual a família do primeiro barão ganhou seu título e terras.

A praça, com sua fonte de águas que se diziam medicinais, pois foi ali que uma das companheiras do primeiro herói abençoou a fonte para curar todos os feridos na batalha.

Quando menos esperávamos, chegou a hora do almoço. Pedi ao Timóteo que indicasse um restaurante, e fomos comer em uma taverna bem na borda da parte baixa da cidade.

Novamente, convidei Timóteo para comer comigo, pois "odeio mesmo comer sozinho".

- Bem, já que o Sr. Glênio insiste tanto...

À tarde, retomamos o tour pela parte alta da cidade, com as casas de cada família que fez algo na batalha, até mesmo passando pelo quartel da Guarda da cidade, que o Timóteo indicou meio ao longe, como quem diz:

- E ali é a sede da Guarda da Cidade...

Parecia mesmo um mineiro indicando com o queixo, sem olhar direto, do tipo "não olhe, não veja, ignore e siga em frente".

Lobo em pele de CordeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora