33 - O barulho do silêncio

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Eu nunca tinha reparado o quanto a dor era silenciosa.

Eu sempre fui acostumada com barulho e com tudo que fosse avassalador, cresci em um ambiente de brigas, discursões e muito conturbação; e de certa forma, realmente eu sentia dor por aquilo, mas nada se comparava a dor que eu sentia agora.

Alicia sentada no chão encostada na parede do outro lado de seu quarto, se recuperando do momento agonizante, mesmo que a dor ainda estivesse no ambiente só que de maneira mais anestésica...

Enquanto eu a observava do lado escuro, totalmente devastada, destruída e sem solução.

Eu queria esganar Alicia por ter escondido isso.
Eu queria chorar por vê-lá mal. Mas acima de tudo, eu queria abraçar ela e proteger ela de qualquer mal que o mundo tentasse fazer.

— Qual estágio? — me forcei a perguntar ignorando a dor em minha garganta

— avançado...

Alicia encostou a cabeça na parede encarando o teto acima de nois duas.

— Vai contar pra tia Lauren?

— Amber... — ela suspirou — não posso, não agora...

— Alicia... — Eu já não tinha mais forças — Ela precisa saber... Isso não é justo, você não pode carregar todo esse peso sozinha... Eu não aceito, não aceito...

mas uma vez minha alma se entregou aquele choro agoniado, Alicia abaixou a cabeça me observando. Eu sabia que tudo aquilo doía mais nela do que em mim...

— Ei — ela chamou minha atenção — eu vou continuar com os tratamentos e quando tudo estiver mais estabilizado, eu conto pra ela.

— Não... Não... — balancei a cabeça — e se não se estabilizar?

Alicia gargalhou. Como ela poderia? Diante de toda a dor e sofrimento que ela estava sentindo, como ela ainda se permitia ou conseguia rir tão abertamente... Era uma das razões pela a qual sua alegria sempre foi a mais contagiante e da família.

— Você tá falando com a Alicia Carson — ela sorriu — vou deitar esse câncer na porrada, você verá.

Eu queria poder rir, confiar principalmente no que ela dizia, mas meu coração estava inquieto e eu nunca em toda a minha vida deixaria de me preocupar um só segundo com ela...

— Quanto recebeu o diagnóstico? — perguntei lívida

— A uns 3 meses atrás — respondeu — pouco depois de você chegar do Brasil...

— Você carregou esse fardo todo esse tempo?

— Eu precisava... — ela falou baixo — Parece que é genético já que é um fator que bom... você sabe, meu pai teve.

— Tio Joseph descobriu tarde, nois ainda temos tempo. — Contrariei — E eu não vou deixar você sozinha, ninguém vai...

Alicia me olhou nos olhos, os olhos castanhos tão calorosos, sua pele pálida e o suor brilhando com a luz do abajur ao seu lado.

— Quando eu fiz o exame de rotina e doutor me olhou com aqueles olhos vazios e tristes, por um segundo pensei que ele ia dizer que eu estava com a anemia ou colesterol alto... — Alicia sorriu — Mas quando ele disse que eu era portadora de Leucemia... Eu achei que, — Alicia bufou

  As lágrimas brilhando nos olhos dela. Aquilo sim me doía. Um tiro doeria bem menos.

— Saber do câncer não foi a pior parte, a pior parte foi cogitar como eu contaria que estava protando a mesma doença que matou o meu pai... Como eu poderia Amberly? Como eu poderia olhar pra minha  mãe e pra Ana e dizer que... — o choro da loira interrompeu sua fala

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