A sala de estar estava silenciosa, apenas o som suave de folhas virando acompanhava o fim de tarde. Pedro estava sentado no sofá, imerso em um livro de ficção científica, quando sua irmã entrou na sala.
Ela parecia hesitante, mas determinada, como se estivesse se preparando para um discurso importante. Michele parou ao lado do sofá e pigarreou, atraindo a atenção de Pedro.
— Pedro, preciso te contar uma coisa — disse ela, sua voz trêmula.
Pedro levantou os olhos do livro, franzindo a testa ao ver a expressão séria no rosto de Michele.
— O que foi, Mi? Aconteceu alguma coisa?
Michele respirou fundo e passando as mãos pelo rosto, lutando para encontrar as palavras certas.
— Não aconteceu nada, mas... eu beijei o Lucas.
A sala pareceu ficar ainda mais silenciosa, se isso fosse possível. Pedro piscou algumas vezes, como se tentasse processar a informação.
— O Lucas? O meu melhor amigo? — Ele finalmente conseguiu dizer, incrédulo.
Michele assentiu mordendo os lábios, seus olhos fixos no chão.
— Sim. Foi ontem à noite, depois da festa. Nós estávamos conversando e... aconteceu.
Pedro fechou o livro, tentando conter a mistura de choque e raiva que borbulhava dentro dele.
— E você achou que era uma boa ideia fazer isso? Ele é meu melhor amigo, Michele!
— Eu sei, eu sei — respondeu a garota, sua voz cheia de arrependimento. — Eu não planejei, simplesmente aconteceu. E eu sabia que precisava te contar, porque você merece saber.
Pedro ficou em silêncio por alguns momentos, olhando para a irmã com um misto de frustração e preocupação. Ele se levantou e começou a andar pela sala, tentando organizar seus pensamentos.
— Eu... eu não sei o que dizer — ele finalmente admitiu, passando a mão pelos cabelos. — Lucas e eu somos amigos desde sempre. Isso complica tudo.
Michele deu um passo à frente, tentando acalmar o irmão.
— Eu sei que parece complicado agora, mas não quero que isso afete a amizade de vocês. Eu só queria ser honesta com você.
Pedro suspirou, finalmente parando de andar e olhando para Michele.
— Eu agradeço por ter sido honesta. Mas vou precisar de um tempo para processar isso.
Michele assentiu, compreensiva.
— Eu entendo. Só queria que você soubesse.
Pedro deu um leve aceno de cabeça e voltou a se sentar no sofá, pegando o livro novamente, mas com a mente longe das páginas. Michele saiu da sala, deixando-o sozinho com seus pensamentos.
Michele saiu da sala de estar e começou a subir as escadas devagar, cada degrau ecoando a tensão que sentia. As paredes do corredor pareciam mais estreitas, apertando seu peito com um peso invisível.
Ao chegar ao topo da escada, ela parou por um momento, olhando para a porta fechada de seu quarto. Empurrou a porta e entrou, fechando-a silenciosamente atrás de si.
O quarto estava mergulhado em uma penumbra suave, com a luz do entardecer filtrando-se pelas cortinas.
Michele se jogou na cama, sentindo o tecido macio do edredom contra sua pele, enquanto lágrimas silenciosas escorriam pelo seu rosto.
Ela olhou para o teto, lembrando-se de todos os momentos que passara com Pedro e Lucas, as risadas e as conversas despreocupadas.
Tudo parecia mais complicado agora. Seu coração batia acelerado, uma mistura de arrependimento e medo do que poderia acontecer a seguir.
Puxou o travesseiro e o abraçou, buscando um pouco de conforto. Sua mente voltou à noite anterior, ao momento em que tudo mudara. O beijo havia sido inesperado, mas cheio de emoção, e agora parecia uma lembrança agridoce.
Deitada ali, no silêncio do seu quarto, Michele começou a se perguntar se havia tomado a decisão certa ao contar para o seu irmão.
Será que poderia ter esperado? Será que havia uma maneira melhor de lidar com a situação?
Enquanto essas perguntas rodavam em sua mente, Ana ouviu um leve toque na porta. Seu coração disparou de novo.
—Michele, posso entrar? — Era a voz de Pedro, suave, mas carregada de emoções conflitantes.
Ela respirou fundo, secando as lágrimas rapidamente com as costas da mão.
— Pode sim, Pedro.
A porta se abriu lentamente, e Pedro entrou, fechando a porta atrás de si. Ele parecia mais calmo, mas ainda havia uma tensão perceptível em seu olhar. Ele se aproximou e sentou na beira da cama, observando a irmã.
— Eu estava pensando — começou ele, a voz baixa. — Lucas é meu melhor amigo e você é minha irmã. Isso é complicado, mas não quero que a situação entre nós três piore.
Michele sentou-se, olhando para Pedro com olhos cheios de esperança.
— Eu também não quero isso. Eu só... eu só não sabia como lidar com isso sozinha.
Pedro suspirou, passando a mão pelo cabelo novamente.
— Acho que o que precisamos agora é de tempo. Tempo para entender o que isso significa para todos nós.
Michele assentiu, sentindo um pequeno alívio.
— Eu concordo. E agradeço por tentar entender.
Pedro sorriu levemente, apesar da preocupação que ainda pairava entre eles.
— Vamos superar isso. Somos família.
Michele sorriu de volta, sentindo uma pequena esperança florescer dentro dela.
— Sim, somos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dois passos para o amor
Teen FictionUma jovem retorna à sua cidade natal após anos de ausência, apenas para se ver confrontada por sentimentos que nunca desapareceram. À medida que ela se reencontra com amigos e familiares, ela se vê atraída pelo melhor amigo de seu irmão, um amor ant...