7- Briga não rola

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Na sala de estar, Michele e Pedro se encaravam com rostos avermelhados e olhos faiscando. A tensão no ar era palpável, quase tangível. Michele segurava um controle remoto na mão, enquanto Pedro, com os punhos cerrados, dava um passo à frente.

— Eu estava assistindo a minha série, Pedro! Não pode simplesmente entrar e mudar de canal assim! — Michele gritou, tentando manter a voz firme apesar da raiva.

Pedro bufou, cruzando os braços.

— Você sempre assiste suas séries! Só queria ver um pouco do jogo. Não vai matar você esperar um pouco.

— Não é só isso! — Michele retrucou, as lágrimas começando a surgir em seus olhos. — Você sempre faz isso! Sempre ignora o que eu quero!

Pedro revirou os olhos.

— Ah, claro. Sempre a vítima. Talvez você devesse aprender a dividir.

— Dividir? Você nem sabe o que essa palavra significa! — Michele atirou o controle no sofá e saiu correndo em direção ao quarto, batendo a porta com força.

Pedro ficou parado por um momento, a respiração pesada, olhando para a porta fechada. Ele sabia que, talvez, Michele tivesse razão em parte, mas seu orgulho o impedia de admitir.

Sentindo um misto de culpa e frustração, ele pegou o controle remoto do sofá e se jogou na poltrona, tentando, sem sucesso, se concentrar no jogo que agora passava na televisão.

A casa estava quieta, exceto pelo som baixo da televisão na sala de estar. A mãe, Helena, suspirou ao descer as escadas.

Ela sabia que não podia deixar a briga dos filhos assim. Caminhou primeiro até o quarto de Michele e bateu suavemente na porta.

— Michele, posso entrar? — perguntou, a voz cheia de ternura.

— Entra, mãe — veio a resposta abafada.

Helena abriu a porta e encontrou Michele deitada na cama, o rosto virado para a parede. Sentou-se na beira da cama e acariciou os cabelos da filha.

— Eu sei que você está chateada. Quer me contar o que aconteceu?

Michele virou-se, os olhos ainda brilhando com lágrimas.

— Pedro nunca respeita o que eu quero, mãe. Ele sempre faz o que quer e me deixa de lado.

Helena suspirou novamente, compreendendo a frustração da filha.

— Eu entendo, querida. Pedro tem que aprender a dividir e a respeitar mais você. Vou falar com ele. Mas também precisamos aprender a resolver as coisas conversando, não brigando, certo?

Michele assentiu lentamente, enxugando as lágrimas.

— Tá bom, mãe. — Helena beijou a testa da filha e se levantou.

— Agora vou falar com seu irmão.— Ela desceu as escadas e encontrou Pedro ainda na poltrona, mudando os canais da televisão com expressão sombria.

Helena parou na frente dele, bloqueando a visão da TV.

— Pedro, precisamos conversar — disse firme, mas gentil.

Pedro bufou e largou o controle remoto. — Já sei, mãe. Michele veio reclamar de novo, né?

Helena sentou-se ao lado dele e olhou diretamente em seus olhos.

— Pedro, isso não é sobre quem está certo ou errado. É sobre respeito. Michele sente que você não a ouve e não respeita o que ela quer. Você precisa entender que dividir o espaço e o tempo é importante.

Pedro abaixou os olhos, mexendo nervosamente nas mãos.

— Eu só queria ver o jogo, mãe. Não achei que fosse um grande problema.

— Eu sei, filho, mas o que pode não ser um grande problema para você pode ser para ela. Que tal você tentar conversar com ela e pedir desculpas?

Pedro hesitou, mas então assentiu lentamente.

— Tá bom, mãe. Vou falar com ela.

Helena sorriu e deu um abraço apertado no filho.

— Eu sei que você consegue, querido.

Pedro se levantou e subiu as escadas, batendo levemente na porta do quarto de Michele antes de entrar.

Helena ficou na sala, esperando, mas com um coração esperançoso de que eles conseguiriam resolver suas diferenças juntos.

Pedro bateu suavemente na porta do quarto de Michele entrou, encontrando-a ainda sentada na cama, abraçando um travesseiro.

Ele parou na entrada, respirou fundo e, com um tom de voz mais calmo, disse:

— Michele, posso falar com você?

Michele levantou os olhos, ainda um pouco inchados das lágrimas, mas assentiu. Pedro caminhou até a cama e se sentou na beira, mantendo uma pequena distância.

— Olha, eu... eu sinto muito pelo que aconteceu. Eu não queria te deixar chateada. Às vezes eu só fico tão focado no que eu quero que esqueço que você também tem seus momentos e suas coisas importantes.

Michele respirou fundo, tentando controlar as emoções.

— Eu só quero que você me ouça, Pedro. Eu me sinto ignorada quando você faz isso.

Pedro assentiu, olhando para o chão.

— Eu sei. Eu preciso melhorar nisso. Prometo que vou tentar ser mais atento e respeitar mais você e suas coisas.

Michele soltou um suspiro longo, sentindo o peso da raiva e da tristeza diminuírem um pouco.

— E eu também prometo tentar conversar em vez de brigar. É só que às vezes eu fico tão frustrada...

Pedro sorriu ligeiramente, um pouco aliviado.

— Eu entendo. Vamos tentar fazer isso juntos, tá? Ser irmãos melhores um para o outro.

Michele sorriu de volta, sentindo-se mais leve.

— Tá bom, vamos tentar. — Eles se olharam por um momento, a tensão finalmente começando a se dissipar.

Pedro abriu os braços hesitante, e Michele, com um sorriso tímido, se aproximou para um abraço. Eles se abraçaram apertado, um misto de desculpas e promessas não ditas no ar.

— Quer assistir à série comigo? — Michele perguntou quando se soltaram.Pedro sor Pedro sorriu e assentiu.

— Claro, vamos lá. — Eles desceram juntos para a sala de estar, onde Helena observava de longe com um sorriso satisfeito.

Pedro pegou o controle remoto, entregou a Michele, e eles se sentaram no sofá lado a lado, prontos para recomeçar.

Dois passos para o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora