Capítulo quatorze.

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  POV: W. A.

  Eu estava na frente do portão do prédio de Sinclair, sentindo o ar gélido bater contra meu corpo. Estava frio e nublado e iria chover. Estava com cheiro de chuva.

  Não havia porteiro, então toco o interfone direto em seu apartamento. 

  Tocou uma... Duas... Três vezes, até finalmente uma voz familiar surgir:

  — Boa noite? - A voz que saiu do interfone tinha um timbre metálico, parecia distante e abafada por conta do interfone, mas sabia que era Enid. Porém, ela ainda tinha dúvidas se era eu.

  — Oi, é a Addams. 

  — Hm, não conheço nenhuma Addams. - Reviro os olhos, Enid é brincalhona e eu sei que odiava o lance dos sobrenomes.

  — Vamos, Enid. Está frio aqui fora e se eu ficar resfriada farei questão de jogar na sua cara até que o peso em sua consciência seja tão denso que não suportará sozinha.

    Segundos em silêncio, até ouvir sua risada baixa do outro lado da linha.

  — Rude! - O portão de entrada estava liberado agora, sabia disso por conta do barulho que fazia quando era destrancado. — Já estou descendo.

  Haviam alguns bancos na entrada e poucos carros na garagem, também tinha um pequeno jardim, com mini Ixoras (típicas dos condomínios) de variadas cores: grande parcela vermelha, já outras, amarelas, alaranjadas e até rosas. Era um misto enjoativo de cores, mas por um momento penso no quão essa palheta combinava com Enid.

  Estava distraída quando sinto uma presença se aproximando de mim e sabia que se tratava da loira. Viro-me, erguendo uma sobrancelha quando vejo Enid com as mãos levantadas prestes a me dar um susto.

   — Droga! Não era pra ter se virado ainda. - Ela tinha um bico em seus lábios, como se eu tivesse estragado o maior plano de sua vida.

   — Você achou mesmo que ia conseguir me assustar?

   — Tá duvidando da minha capacidade pra isso? 

   — E se eu estiver? - Estreita os olhos. Provoca-la era engraçado, especificamente por sua feição séria ser impagável.

  — Me aguarde, Wednesday. - Sem tempo de reagir, Enid puxa a minha mão guiando-me em direção ao elevador, apertando o botão do nono andar. Ficamos em silêncio, mas aproveito o espelho que tinha para ajeitar minha franja e a presilha que prendia boa parte do meu cabelo.

  É quase impossível não achar graça das coisas que a Sinclair fazia. Naquele momento por exemplo, ela estava evitando olhar para o espelho também, provavelmente não querendo ser "invasiva", se é que faz sentido. E como eu sei disso? Pelo simples fato de Enid se balançar na ponta dos pés e olhar para todos os lados (até mesmo o teto), menos para o espelho.

  Agora, ela estava parada em frente a sua porta, mordendo o lábio inferior levemente. 

  — Yoko pode ser um pouco maluca às vezes, não estranhe caso ela solte muitas informações de uma vez.

  — Desde que ela não me ataque, tudo bem. 

  — Eu te protejo qualquer coisa. - Pisca, enquanto abria a porta. Eu sei me defender sozinha, mas não vou cortar seu clima.

  Enid entra primeiro e vou logo atrás dela, admito que estava um pouco nervosa. Ambientes que não conheço e com pessoas que não conheço sempre me deixam assim. De primeira não vejo nenhuma presença, apesar disso, noto a sala cheia de vida e cores. De um lado, o rack da TV cheio de livros e os jogos de mesa empilhados em uma prateleira me faz imaginar que eles devem ter noite de jogos ou algo do tipo. Os que consegui identificar eram: banco imobiliário, batalha naval e torre de equilíbrio, os outros não consegui distinguir. Além de dois Funko Pop do Spider-Man e um do Groot ao lado esquerdo da TV.

FLOAT - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora