Capítulo três.

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  Cheguei no apartamento por volta das 02h10, destranco a porta com a chave reserva e tudo estava escuro e silencioso.

  Silencioso até demais.

  A única luz presente é a da cozinha, imaginei que Ajax poderia estar testando alguma receita, mas caminho até lá e vejo que está vazia.

  Estava me sentindo observada, tinha alguma coisa errada e o barulho de goteira vindo da torneira na pia só deixava o clima mais assustador.

  Sim, eu sou medrosa.

  Pego um copo do armário e encho com água gelada, pedalei muito e estava com sede. Meus sentidos estavam mais aguçados, eu escutava até quando alguém passava pelo corredor do lado de fora, estava tensa.

  Bom, isso por poucos segundos até escutar um grito atrás de mim.

  — BOO!

  — FILHA DA PUTA! - O copo que antes estava na minha mão tinha voado para algum lugar da cozinha, eu senti meu coração disparar e minha visão escurecer por alguns segundos.

  Essa desgraçada tinha me assustado de jeito e estava chorando de rir!

  — Tá devendo pra alguém? - Yoko pergunta, tentando recuperar seu fôlego pós riso.

  — A única coisa que estou devendo é um soco bem no meio dessa sua cara idiota, sua ridícula! - Me apoio com as mãos na pia. — Acho que minha pressão caiu.

  — Vamos, pare de drama, foi só um sustinho.

  — Claro, eu chego em casa com tudo escuro, um silêncio maldito, cansada, completamente alerta e foi só um sustinho sim!

  — Estava brincando, Nidzinha. - Yoko me abraça de lado deixando um beijo rápido na minha bochecha, sorte a dela que não fico brava por muito tempo. — Eu te ouvi saindo e fiquei preocupada, você não comeu nada e já estava ficando tarde, resolvi te esperar no sofá. Meu Deus, ainda bem que aquele copo era de plástico e está vazio.

  — Eu quem deva dizer, se fosse de vidro eu já estaria sangrando e como assim você estava no sofá?! Eu nem te vi.

  — Talvez porque estava escuro e eu não fiz barulho, não é, Enid? - Tanaka diz como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Mas você podia voltar a acreditar que eu sou uma vampira igual fazíamos quando tínhamos uns dez anos.

  — Você abusava da minha ingenuidade!

  — Admita que era engraçado. Meu contato até hoje no seu celular está salvo como "garota morcego".

  Não consigo sequer descrever quanta falta eu sinto desse tempo.

  — Não importa. - Digo enquanto deixo Yoko sozinha na cozinha indo sentar-me no sofá, agora com o ambiente iluminado pela TV.

  Estava passando algum filme de suspense aleatório sobre assassinato, acho que seria interessante para quem gosta.

  Y: — Eu esquentei a janta pra você. - Me oferece um prato com lasanha.

  — Deixe no micro-ondas, eu já vou comer, obrigada. - Yoko me encara com as sobrancelhas levantadas. Provavelmente o motivo disso seja porque lasanha é um dos meus pratos favoritos e eu nunca recuso.

  — Enid, você não pode dar ouvidos ao que sua mãe diz e não venha me dizer que "só não está com fome", eu te conheço e sei que você não vai comer a lasanha hoje.

  — Eu sei que não deveria dar ouvidos, mas não é tão simples assim! - Esfrego as mãos no rosto tentando suaviza-lo. — Por favor, não vamos falar sobre isso, amanhã eu prometo que vou comer. Você sabe que quando estou chateada a minha fome vai embora.

FLOAT - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora