Não revisado.
...
Eu havia despertado antes de Enid, a quietude do quarto contrastando com o burburinho habitual de sua presença. Meus dedos deslizavam pelo celular, uma tentativa fútil de distração enquanto ansiava pela hora em que ela finalmente abriria os olhos. Mas era improvável que isso acontecesse tão cedo; o relógio mal marcava seis e vinte da manhã.
Enid se remexia na cama, seus murmúrios suaves quebrando o silêncio. Seu corpo parecia em uma batalha sutil, recusando-se a abandonar o conforto do sono. Deixei o aparelho de lado, meus olhos focados nela e, com a ponta do dedo, tracei um caminho delicado sobre sua sobrancelha. O contato leve a fez sorrir, aquele sorriso suave que me dizia que, mesmo com os olhos ainda fechados, ela estava ali, desperta, mas hesitante em deixar o sono para trás.
— Você gosta disso, não é? - Sussurrei, quase como se estivesse falando mais para mim mesma do que para ela. Enid murmurou algo incompreensível em resposta, seu sorriso se alargando, os lábios ligeiramente curvados, uma resposta silenciosa que fez meu peito se apertar de uma forma que só ela conseguia.
Me aproximei mais, minhas mãos traçando um caminho familiar pelas curvas do seu rosto, descendo até seu queixo. Queria sentir a textura da sua pele, quente e suave sob meu toque, e ao mesmo tempo queria que ela sentisse que eu ainda estava ali. Por mais que fosse difícil admitir, era nesses momentos de tranquilidade que eu percebia o quanto tinha me permitido depender dessa sensação, desse conforto que ela trazia, mesmo enquanto ainda dormia.
— Bom dia. - Murmurei contra sua orelha, minhas palavras uma mistura de atenção e carinho. Ela se mexeu novamente, seus olhos piscando lentamente até que finalmente se abriram, encontrando os meus. O brilho de sempre estava lá, mesmo na semiconsciência, e era impossível não sentir o impacto disso, aqueles azuis vibrantes.
Malditos azuis vibrantes.
— Bom dia. - Sussurrou, sua voz rouca pelo sono, mas carregada de uma doçura que me fez querer prolongar aquele momento. Ela se espreguiçou e se aninhou mais perto de mim, como se estivesse tentando se fundir ao meu corpo. — Eu não quero levantar.
— Pode voltar a dormir, me esqueci que você não gosta de acordar tão cedo. - Murmurei, sem poder evitar um pequeno sorriso, mesmo que ela não pudesse ver.
— Não quero voltar a dormir, só ficar de preguiça aqui. - Disse, enquanto se ajeitava em cima de mim, seu rosto enterrado no meu pescoço, inalando o meu perfume que ainda estava presente ali.
Fiquei em silêncio, mas minhas mãos agiram por conta própria, deslizando suavemente por suas costas. Havia algo hipnotizante em tocá-la, como se esse simples gesto pudesse acalmar qualquer inquietação dentro de mim. Era engraçado como ela tinha esse poder, de transformar o toque em uma necessidade, um refúgio. Passamos um tempo assim, em uma quietude confortável, até que, vez ou outra, Enid arrastava o nariz contra a curvatura do meu pescoço, um gesto de carinho preguiçoso.
— Wednesday? - Sua voz soou abafada contra minha pele, um sussurro que parecia exigir mais esforço do que deveria.
— Sim? - Respondi, mais desperta.
— Eu amo você.
E então, o mundo parou. Minhas mãos, que antes se moviam de forma quase automática, congelaram em suas costas. Meu corpo inteiro se enrijeceu em resposta àquelas palavras. Três palavras simples que, de repente, carregavam o peso de mil mortes. Enid permaneceu quieta, como se não tivesse acabado de virar meu mundo de cabeça para baixo com uma única frase. Para ela, era algo natural, quase banal. Mas para mim... era como se cada uma daquelas palavras fosse uma faca afiada, cravando-se na minha garganta e impedindo qualquer som de escapar.
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FLOAT - Wenclair
FanfictionO quão invisível alguém pode ser? Como lidar quando desde cedo sua família não te enxerga e você recebe o desprezo de sua mãe? O que fazer se você é ignorado todos os dias pela sociedade e todo o seu esforço é em vão? Enid lutava pelas respostas d...