Capítulo trinta e dois.

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  Deitei-me ao lado de Enid, já em paz com o silêncio da manhã. O cansaço da noite anterior ainda pesava, mas me permiti acordar um pouco antes dela. Na cama, eu estava com um livro em mãos, meus olhos deslizando pelas palavras enquanto aproveitava a tranquilidade que me envolvia. Sentia o calor do corpo de Enid próximo ao meu, e mesmo que ela ainda estivesse dormindo profundamente, sua presença era um conforto constante.

  Ela ainda respirava de forma suave, o rosto relaxado contra o travesseiro, um contraste com a agitação que costumava carregar em seus momentos de vigília. Eu deixei que ela dormisse mais, sabendo o quanto sua semana havia sido exaustiva. O som das páginas se virando era o único ruído no quarto, e minha mente vagava levemente entre o conteúdo do livro e a forma suave como a luz da manhã começava a iluminar a pele dela.

  Minutos depois, senti um movimento ao meu lado. Enid se mexeu, o rosto inchado e levemente avermelhado, resultado de ter dormido na mesma posição por tanto tempo. Ela piscou algumas vezes, ajustando os olhos à claridade do quarto. Eu a observei atentamente, deixando o marcador de página no livro e o fechando com cuidado.

  Era sempre um pequeno prazer silencioso ver Enid despertar. O jeito preguiçoso com que ela se mexia, os olhos ainda meio fechados, buscando algum contato. Como sempre, ela não disse nada, apenas suspirou e, percebendo que eu estava sentada com as pernas esticadas e as costas apoiadas no travesseiro, viu ali uma oportunidade. Lentamente, com aquele jeitinho manhoso e despreocupado, ela colocou a cabeça no meu colo, fechando os olhos novamente como se quisesse aproveitar mais alguns minutos de preguiça.

  Sorri. Eu não podia evitar, ela tinha essa habilidade de desarmar qualquer resquício de rigidez que eu carregasse. Meus dedos deslizaram automaticamente para seus cabelos, acariciando com suavidade. Enid se aconchegou mais, soltando um pequeno suspiro satisfeito, enquanto eu observava cada detalhe seu, sentindo uma calma inexplicável se instalar em mim.

  Eu poderia continuar assim por horas.

  Enid, ainda de olhos fechados, começou a procurar minha mão, seus dedos tateando pelo lençol até encontrarem os meus. Sem entender muito bem, dei a ela, curiosa com o que pretendia. Ela segurou minha mão com delicadeza e começou a fazer carinho, desenhando círculos lentos com os dedos na minha pele, antes de levar aos lábios e dar um beijo suave. Assim, como se fosse seu jeito de me dar "bom dia", ela voltou a fechar os olhos, confortável e tranquila.

  Observei-a por alguns segundos, com uma pequena onda de ternura crescendo em mim. Minhas mãos instintivamente foram até suas bochechas, acariciando a pele macia e levemente marcada pelo travesseiro, antes de subirem para sua orelha. Quando toquei levemente ali, percebi um pequeno suspiro escapar de Enid. Ergui a sobrancelha, intrigada. Será que havia uma parte dela que gostava de carinho e eu ainda não sabia?

  Passei o dedo pelo contorno da orelha de Enid, devagar, explorando cada detalhe com cuidado. Quando acariciei o lóbulo entre meus dedos, senti seu corpo se ajeitar ainda mais contra minhas coxas, como se estivesse ainda mais confortável ali. Uma ideia começou a se formar em minha mente: Enid gostava de carinho na orelha? O pensamento me fez sorrir, e uma risada baixa escapou de mim, surpresa com essa descoberta tão simples, mas ao mesmo tempo adorável.

  Eu continuava passando o dedo levemente pelo contorno da orelha, observando-a se ajeitar ainda mais em meu colo, como se aquele carinho fosse algum tipo de feitiço calmante. Eu sabia que ela estava acordando devagar, aproveitando cada segundo de tranquilidade.

  Então, com a voz manhosa e rouca de quem acabou de sair de um sono profundo, ela perguntou:

  — Que horas são?

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⏰ Última atualização: Nov 01 ⏰

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