Capítulo vinte e oito.

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  Fazia uma semana que aquele turbilhão emocional envolvendo Pugsley tinha passado, mas as ondas ainda batiam em nós de tempos em tempos. E fazia uma semana que Wednesday disse que me amava. O peso dessas palavras ainda pairava no ar, sempre presente, como uma música de fundo suave que eu não conseguia tirar da cabeça.

  Agora, ela estava deitada no meu peito, aconchegada em mim como se pertencesse ali, um livro entre as mãos, os olhos correndo pelas linhas enquanto seus dedos passavam as páginas. A respiração dela era tranquila, mas eu sabia que as dores ainda estavam presentes. Ela ainda chorava algumas vezes, como se permitisse apenas a mim ver essas pequenas rachaduras na sua armadura. Outras vezes, ela se isolava, sumindo no próprio silêncio. Eu entendia. Não era fácil. Sabia que aquilo não passaria de uma hora para outra.

  Meus pensamentos flutuavam, inevitavelmente voltando para Bianca. Eu ainda queria falar com ela, conversar sobre o que aconteceu, mas não tive a chance. Bianca é uma boa amiga, e acho que ela entenderia... talvez até me desse algum conselho.

  Meus devaneios foram interrompidos por um movimento sutil de Wednesday no meu colo. Ela se ajeitou, virando os olhos escuros para mim. Seus olhos me analisavam com aquela intensidade típica dela, e eu sempre me perguntava o que exatamente ela via em mim nesses momentos.

  — O que foi? - Ela perguntou, o tom tranquilo, mas com a curiosidade cortante de sempre.

  — Nada. Por quê? - Respondi, piscando para afastar os pensamentos da cabeça.

  Ela continuou me encarando, como se estivesse tentando decifrar um código oculto dentro de mim.

  — Você está mais quieta que o normal, só isso. - Seus lábios se curvaram em um sorriso mínimo, o tipo de sorriso que eu sempre me sentia sortuda de testemunhar.

  Senti meu peito aquecer e não pude evitar sorrir de volta.

  — É para não atrapalhar sua leitura. - Brinquei, afagando levemente o cabelo dela, sentindo a textura macia entre meus dedos.

  Ela manteve aquele olhar por mais alguns segundos antes de desviar os olhos de volta para o livro.

  Depois de um momento, eu não consegui ficar quieta por muito tempo, não era do meu feitio e agora fazia sentido a sua estranheza. O silêncio sempre me fazia querer preencher o espaço com palavras, especialmente quando era ela quem estava comigo.

  — Quando você vai tocar violoncelo para eu ver? - Sussurrei, sem conseguir conter a curiosidade que já vinha borbulhando há algum tempo. Sempre imaginei como seria vê-la tocando, tão concentrada e imersa.

  Wednesday soltou um riso discreto, daqueles que quase passam despercebidos, mas que eu sempre notava.

  — Faz muito tempo que não encosto nele. Quando eu voltar a praticar, eu te mostro. - Disse, sem desviar o olhar do livro, mas com aquele tom que me deixava esperançosa.

  Um sorriso brotou nos meus lábios. Só de imaginar a cena, eu já me sentia encantada. Mas aí me lembrei de algo.

  — Ah! O pessoal vai sair para aquele barzinho que te falei, hoje à noite. - Comentei, minha voz animada. — Eu queria que você fosse. Vai ser divertido.

  Ela ficou em silêncio por um momento, e eu percebi a hesitação. Era algo que eu já esperava.

  — Não lido muito bem com multidão, você sabe disso. - Ela disse, a voz levemente cautelosa.

  — Vai ser tranquilo. - Falei, tentando tranquilizá-la. — Eu estarei lá com você. Não precisa se preocupar. Podemos ficar em um canto mais sossegado se preferir, mas acho que você vai gostar.

FLOAT - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora