POV: W. A.
Bianca me encarava com os olhos estreitados, esperando que eu continuasse a contar o que havia feito com Enid enquanto estava em casa.
Poupando alguns detalhes, é claro.
Estávamos novamente na cafeteria Cata-Vento, nosso ponto de encontro habitual, onde o aroma de café recém-passado se misturava ao ruído baixo das conversas ao redor. Contei a ela que havia mencionado superficialmente meu antigo (e pavoroso) relacionamento para Enid, uma revelação que, de fato, a surpreendeu.
— E como ela reagiu? Puta merda, Addams. - Disse Bianca, descrente, absorvendo as informações com olhos arregalados. Eu realmente só a atualizava esporadicamente.
— Ela é o ser humano mais compreensível e doce que existe, isso é um fato. - Apoio a mão no rosto, deixando o frio do mármore da mesa contrastar com a sensação quente que o pensamento de Enid me trazia. — Ela é... carinhosa.
— E desde quando você gosta de grude, Wednesday? Só acredito vendo. Pra mim, isso é mito.
— Eu também achei que não gostasse, mas Enid tem um certo efeito sobre mim, por mais que minha mente proteste contra essa admissão.
Bianca se inclina, um brilho divertido nos olhos:
— Você quer dizer que está apaixonada?
— Não! - Minha voz saiu firme, mas até para meus próprios ouvidos soou como uma tentativa de me convencer.
— Wednesday, você pode negar muitas coisas e ser muitas coisas, mas burra não se encaixa em nenhuma delas.
Suspiro, permitindo que a escuridão dos meus pensamentos se entrelace com minhas palavras:
— Meu passado me perturba, Bianca. É como uma sombra que nunca me abandona, me lembrando constantemente da dor que ainda carrego.
— Você confia nela, não?
— Confio, e esse é o verdadeiro problema. Confiança sempre foi o prelúdio da tragédia em minha vida.
Bianca me observa, seus olhos suavizando um pouco:
— Não é um problema, eu achei que nunca veria você falando isso em voz alta de novo. - Seu olhar se estreita em compreensão. — Você parece mais leve, até deixou de lado sua cara de assassina quando falamos dela. Vocês transaram, não é? Pode me falar.
Reviro os olhos, tentando manter meu tom glacial:
— Não comece com isso! Minha vida sexual não te convém.
Bianca sorri de canto, o divertimento evidente:
— É, vocês transaram sim.
Enquanto ela ria, um sussurro de insegurança serpenteava por minha mente. Talvez Bianca estivesse certa ou talvez confiar fosse o primeiro passo para minha ruína. Mas com Enid... talvez, apenas talvez, valesse o risco.
Bianca ainda sorria, mas a intensidade do momento me puxava para dentro, me afastando da leveza das provocações. O café na minha frente estava morno, esquecido, enquanto meus pensamentos giravam em torno de Enid.
Ela não era apenas carinhosa; ela era um porto seguro em um mar de tempestades que eu mesma criei. Com ela, a agonia que me cercava parecia menos opressiva, quase suportável. Havia algo na maneira como Enid me olhava, sem medo, sem julgamento, apenas uma aceitação que eu raramente, ou nunca, experimentara.
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FLOAT - Wenclair
FanficO quão invisível alguém pode ser? Como lidar quando desde cedo sua família não te enxerga e você recebe o desprezo de sua mãe? O que fazer se você é ignorado todos os dias pela sociedade e todo o seu esforço é em vão? Enid lutava pelas respostas d...