Capítulo - 5

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Lecter estava no quintal enquanto Will Graham estava sendo espancado até quase morrer. Mais tarde, contrariamente aos seus próprios ideais, este pensamento iria causar-lhe alguma angústia. Mas na época ele não sabia. Ninguém sabia, exceto Peter Bernadone, e o conhecimento só lhe fez mal.

Price e Zeller estavam no meio de uma discussão acalorada sobre algo trivial. Lecter sentou-se entre eles, ignorando-os. Seu livro estava aberto em seu colo, mas sua mente estava em outro lugar. Ele estava pensando em Graham. O homem tinha ocupado sua mente com demasiada frequência ultimamente e, embora se repreendesse por esse deslize de julgamento, ainda não tinha conseguido se conter para não se entregar a tais pensamentos.

"Você está errado", dizia Zeller, balançando a cabeça e com a testa franzida. "Ah, você está tão errado."

"HC, diga ao nosso jovem amigo Brian como ele está se fazendo de idiota, não é?" Price retrucou, olhando para Lecter. Sem esperar resposta, ele acrescentou: "Mais do que o normal, quero dizer".

"Pelo menos não sou senil", respondeu Zeller. Price zombou.

Eles provavelmente teriam continuado assim até que um ou outro perdesse a voz, mas a abordagem de Randall Tier apagou de suas mentes todos os pensamentos de discussão.

Randall não era um homem de se apressar. Na prisão, raramente há necessidade. Em um dia normal, ele não caminhava, mas andava, rondando o quintal com os olhos cautelosos e os músculos tensos de um predador. Vê-lo correr foi uma experiência nova e desconcertante.

Lecter levantou-se imediatamente.

"O que aconteceu?"

"Dolarhyde atacou aquele tal de Graham", disse Randall. "O bibliotecário também. Acho que eles podem estar mortos."

O rosto de Lecter não revelava nada, mas a sua postura estava rígida e tensa. "Onde?"

"Na biblioteca."

As palavras mal haviam saído de sua boca quando Lecter saiu correndo pelo pátio. Apesar das restrições de seu confinamento, ele era tão meticuloso com os exercícios quanto com todo o resto e conseguia se movimentar como um homem muito mais jovem do que sua idade. Os detentos davam espaço e se afastaram dele quando ele passou.

Foi só quando ele desapareceu de vista que Price soltou o fôlego e balançou a cabeça.

"Eu disse isso a ele"

***

Quando Lecter irrompeu na biblioteca, Dolarhyde já tinha ido embora. Foram necessários cinco guardas para contê-lo e arrastá-lo e, na excitação, os dois homens que ele atacou foram esquecidos. Portanto, a primeira coisa que o Dr. Lecter viu quando cruzou a soleira foi Will, esparramado numa pilha ensangüentada no meio do espaço desordenado, imóvel. Uma grande poça de sangue estava se formando ao redor de sua cabeça.

A expressão de Lecter não mudou. Mas seu rosto ficou subitamente muito pálido.

A segunda coisa que viu foi Peter, amontoado não muito longe dali. Peter estava consciente e choramingava. Dois guardas agacharam-se ao lado dele.

"Lecter!" Crawford latiu. "Saia daqui."

"Não toque nesse homem", disse Lecter, apontando para Peter. "É quase certo que suas costas estão quebradas. Se você tentar movê-lo, poderá paralisá-lo. Supondo que ele já não esteja paralisado."

"Volte para o quintal, preso." A mão de Crawford avançava lentamente em direção ao cassetete. "Não me faça perguntar de novo."

Lecter dirigiu seu olhar de aço para Crawford. Mas quando ele falou, sua voz era calma.

REDENÇÃO (HANNIGRAM)Onde histórias criam vida. Descubra agora