Trentasettesimo.

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Damiano David
Los Angeles, CA

O avião cortava o céu noturno, a caminho de Los Angeles, mas o ambiente dentro da cabine estava longe de ser tranquilo. A tensão entre Dove e eu era palpável, e eu sabia que o estouro era inevitável desde que saímos de Nova York. Tudo por causa de uma simples resposta em uma entrevista.

Estávamos voltando de um evento glamouroso, um daqueles onde tudo deveria ser perfeito, mas que só havia exacerbado o ciúme latente de Dove. No meio de uma conversa descontraída com os repórteres, alguém havia me perguntado sobre minha relação com Abby. Sem pensar duas vezes, respondi que Abby era uma mulher incrível e que sempre seria importante para mim, especialmente por causa do nosso filho, Beni. Nada além da verdade, pensei. Mas, aparentemente, era uma verdade que Dove não queria ouvir.

Ela estava sentada ao meu lado, a expressão azeda e os olhos faiscando enquanto o jato privado deslizava pelas nuvens. Eu sentia a discussão fervendo ao meu redor, uma panela de pressão prestes a explodir.

— Como você pode ser tão insensível, Damiano? — ela disparou, a voz um sussurro irritado para não chamar a atenção dos outros passageiros. — 'Abby é uma mulher incrível'? O que eu sou, então? Apenas um acessório na sua vida?

Suspirei, cansado.

— Dove, eu só estava sendo honesto. Ela é a mãe do meu filho. É claro que eu a respeito e penso muito nela. Isso não diminui o que temos.

Ela se virou na cadeira, os olhos verdes se estreitando.

— Isso sempre volta para ela, não é? Cada. Maldita. Vez. Não importa o que eu faça, ela está lá, uma sombra que não consigo dissipar.

Eu esfreguei as têmporas, sentindo a exaustão se instalar mais profundamente.

— Eu não quero continuar brigando sobre isso. Precisamos encontrar uma maneira de coexistir. Abby sempre será parte da minha vida por causa de Beni. Isso não é algo que vai mudar, e não pode ser o motivo de todas as nossas brigas.

— Coexistir? — ela repetiu, incrédula. — Como você pode pedir isso quando ela está em todas as entrevistas, em cada conversa, em cada maldita decisão que você toma?

— Dove, isso é ridículo — retruquei, tentando manter a calma. — Eu não estou escolhendo Abby em vez de você. Estou apenas reconhecendo a realidade da minha vida. Se não conseguimos lidar com isso, o problema não é Abby.

Ela cruzou os braços, o rosto virando para longe de mim.

— É sempre tão fácil para você. Jogar tudo na conta do 'problema não é Abby'. Quando você vai perceber que talvez, só talvez, seja você que não consegue se decidir?

Aquilo doeu.

— O que você quer dizer com isso?

Ela finalmente me olhou, a raiva mesclada com algo que parecia muito com frustração.

— Talvez você ainda esteja preso a ela. Talvez, no fundo, você ainda a queira.

As palavras pairaram no ar, uma acusação que eu não esperava.

— Isso não é justo, Dove. Eu escolhi estar com você. Estou aqui agora, com você. Se não acredita nisso, então o que estamos fazendo?

Ela se encolheu, mas não disse nada. A tensão era quase insuportável. Eu sabia que a nossa conversa não estava resolvendo nada, apenas circulando em torno de uma frustração que ambos sentíamos, mas que nenhum de nós sabia como lidar.

— Podemos, por favor, parar com isso até pousarmos? — pedi, exausto. — Estou cansado dessa briga interminável. Se vamos continuar, você precisa rever suas ações e decidir se consegue confiar em mim. Porque, do jeito que está, isso não é sustentável.

La Paura Del Buio - Damiano David. Onde histórias criam vida. Descubra agora