Trentunesimo.

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Damiano David
Rio de Janeiro, RJ

Acordei com um som estridente e insistente. Alguém estava chamando, quase gritando. Pisquei os olhos para ajustar à luz do sol que se infiltrava pela janela e me virei, encontrando Abby ao meu lado. Ainda estávamos no sofá-cama, abraçados. A realidade da noite anterior veio à tona rapidamente, e uma mistura de emoções me tomou: felicidade, culpa, confusão.

— Mamãe! Papai! — a voz de Beni cortou o silêncio, agora mais próxima e alarmada.

Abby acordou sobressaltada, os olhos arregalados.

— Beni — ela murmurou, levantando-se rapidamente.

— Droga — murmurei, pulando da cama improvisada e procurando nossas roupas espalhadas.

Em questão de segundos, Abby e eu estávamos nos vestindo apressadamente, tentando dar um jeito em nós mesmos antes que Beni nos encontrasse. Ela puxou a camiseta pela cabeça, e eu consegui encontrar minhas calças jogadas perto do sofá.

— Rápido — sussurrei, olhando desesperadamente para a porta do quarto onde Beni estava.

Conseguimos nos vestir antes que ele aparecesse. Quando entramos no quarto, Beni estava na cama, olhos arregalados, procurando por nós.

— Oi, campeão — Abby disse, forçando um sorriso e caminhando até ele. — Acordou cedo hoje.

— Onde vocês estavam? — ele perguntou, a confusão em seu rosto se transformando em uma expressão de alívio ao nos ver.

— Estávamos observando a praia, esperando você acordar — expliquei, tentando parecer casual.

Beni estreitou os olhos para nós, como se estivesse tentando entender o que estava acontecendo.

— Mamãe, por que seu pescoço está vermelho?

Abby ficou momentaneamente sem palavras, um leve rubor subindo por seu rosto.

— Ah, isso? — ela disse, tocando distraidamente o pescoço. — Acho que algum bicho me picou. Nada demais.

Beni fez uma careta, claramente não convencido.

— Vamos nos arrumar para o café da manhã? — ela sugeriu, mudando de assunto rapidamente. — Vai ser legal tomar o café lá embaixo, você não acha?

— Tá bom! — ele respondeu, sua curiosidade desviada pela ideia de comida.

Abby pegou Beni pela mão e o levou ao banheiro, deixando-me sozinho no quarto. Encostei-me contra a parede, esfregando o rosto e tentando processar tudo o que havia acontecido.

A noite anterior foi um turbilhão. Havia algo tão familiar, tão natural em estar com Abby novamente, mas também havia uma complexidade que não podíamos ignorar. Por um momento, a confusão da nossa situação desapareceu, e fomos apenas nós dois, como nos velhos tempos. Mas agora, à luz do dia, as dúvidas e complicações voltavam à tona.

Abby e eu tínhamos nos envolvido em algo profundo e difícil de resolver. Eu sabia que tínhamos questões não resolvidas, principalmente com Dove e nosso próprio relacionamento complexo. Precisávamos ser honestos, tanto um com o outro quanto com nós mesmos, sobre o que realmente queríamos e como isso afetava Beni.

{...}

Entramos no restaurante do hotel, Beni em meus braços, tagarelando sobre as vistas do Rio de Janeiro. À nossa frente, nossos amigos já estavam sentados em uma mesa grande, desfrutando do café da manhã. O sorriso de Abby ao meu lado era um lembrete silencioso do que compartilhamos na noite anterior. Por mais que a situação fosse complicada, havia algo reconfortante em ver a felicidade dela e de Beni.

La Paura Del Buio - Damiano David. Onde histórias criam vida. Descubra agora