“ O inferno são os outros.”
Jean-Paul Sartre“Onde as mariposas pousam significa a morte, garotinha, lembre-se disso, criança.”
Acordei sentindo o suor escorrer no meu rosto com o pesadelo que acabara de ter. Sempre sonhava com essa senhora de preto no parque dizendo isso para mim. Não sabia se era uma lembrança ou um sonho, mas era tão real. Aquelas mariposas pretas pousando no meu braço, aquela dança incerta, aquele sentimento que nunca mais saiu do meu corpo desde criança, quando aquela mulher cruzou o meu caminho. Às vezes acho que estou enlouquecendo, talvez eu só estava perturbada como Apollo tinha me tratado mais cedo. Me incomodava o fato de não ter ideia do porquê da sua rejeição por mim, tão evidente. Tudo que eu queria era ir embora daquela casa, mas como eu poderia fazer isso e deixar Matheo sozinho aqui? Não havia muita escolha no fim das contas. Passei a mão no rosto e me levantei da cama, empurrando Matheo que estava agarrado ao meu braço na minha barriga.
É só mais um dia, Maddy, pensei. Com esse pensamento, acordei Matheo para arrumá-lo para a escola e me arrumar.
[♡]
— Eu não quero isso! — ouvi os gritos de Jude à medida que ia descendo as escadas com Matheo.
Quando chegamos na cozinha, a garota estava gritando com a babá e jogando pratos no chão. O mais incrível nisso tudo é que todos estavam na mesa sentados. Aaron parecia de mau humor, mexendo o garfo sobre um bolo sem a menor intenção de comer, Apollo olhava para a irmã indiferente, e bom Louis estava com os olhos grudados no celular, enquanto Nicolau suspirava impaciente.
— Você não é a minha mãe! E eu não te quero aqui!
Fiquei com pena da babá escutando tudo aquilo. Jude era muito mimada e nítido que não colocava limites nela.
— Será que dá para você calar a boca, Jude? Estou com uma dor de cabeça da porra e você não para de gritar desde que cheguei — disse Aaron, deixando o garfo bater no prato com força, a testa franzida, passando a mão no rosto. Jude, ao invés de escutar o irmão, jogou outro copo no chão, fazendo o vidro se estilhaçar perto do pé da babá. Por instinto, me aproximei para ajudar a pobre garota, que já estava agachada para catar os cacos.
— Maddy, deixe que os empregados peguem e sente-se — ordenou Nicolau, me fazendo parar.
— Eu posso ajudá-la a limpar — falei, porque era o certo a se fazer. Em troca, ele me deu um olhar severo.
— Não há necessidade — seu tom de voz deixou claro que eu deveria obedecê-lo; mesmo relutante, me sentei.
— Jude, já chega disso, ela vai continuar sendo sua babá querendo ou não — disse Nicolau à garota.
— Eu não quero ela!
— Já chega, faça ela calar a boca — ordenou a babá, que assentiu rigidamente.
— Sim, senhor.
— Vamos dar uma volta no jardim? — chamou a babá pacientemente a garota, que fez que não. Essa mulher com certeza tinha que ganhar muito bem para aguentar tanta grosseiria de uma criança.
— Vai, Jude, se acalmar. Eu vou comprar todas as coisas que quiseres, por favor, vai com a babá — falou Nicolau, incentivando-a.
— Vai mesmo comprar tudo o que eu quiser? — indagou.
— Sim — respondeu o avô.
— Ok. — A garota então seguiu a babá para fora, e as empregadas começaram a servir Matheo e eu.
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Onde Pousam As Mariposas
RomanceQuando o mundo de Madison vira do avesso com a morte de seus pais, ela faz todo o possível para cuidar de seu irmão, o único que lhe resta. Mesmo sendo difícil, pois tem apenas dezenove anos, ela enfrenta as dificuldades da vida adulta e a responsab...