Capítulo 17

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"Eu acho que estou queimando viva, mas ninguém está vendo o fogo
Porque quando eu abro a minha boca parece que estou presa no silêncio."

Block me out — Gracie abrams

A manhã inteira de aula não consegui ficar focada em nada, e estava nítido até para o maître de balé que não parava de suspirar toda vez que eu errava algo. Minha cabeça estava a mil, ou só em um único pensamento que rodeava os dois dias anteriores: Aaron. Por mais que eu tentasse jogar isso para lá, não dava; eu sempre voltava a pensar nele de um jeito que já estava me irritando. 

— Não estamos aqui para nos divertir, Maddy. Aqui não é como sua antiga academia; nós preparamos os bailarinos com rigidez e disciplina, técnica e profissionalismo. Esses são os futuros bailarinos do mundo; é só seguir as regras do jeito que é e dar o seu melhor — repreendeu ele.

Eu me encolhi, assentindo com a cabeça.

Charlotte e sua amiga deram uma risadinha, me olhando com desdém. 

— Descanso de dez minutos para todos — disse.
 
Finalmente.

— O que está acontecendo com você? — perguntou Ramon assim que saímos do estúdio. 

Suspirei.

— Eu fui péssima, eu sei. É só que não estou conseguindo me concentrar — respondi.

— Está tendo algum problema? 

— Não é nada demais. 

— Não parece ser nada demais, mas eu só quero te dar um conselho, Maddy: não deixe os problemas pessoais atrapalharem você na aula. Você sabe o quanto a Charlotte quer esse papel e ela pode ser persuasiva quando quer; ela pode usar isso contra você. 

— Você tem razão.

— Não quero te dar bronca, porque essa é a função do professor, mas somos uma dupla, certo? — Um sorriso amigável saiu de seus lábios. 
Sorrir de volta. 

— Sim, você está certíssimo, Ramon. Eu só preciso colocar minha cabeça no lugar, eu acho, e focar no que quero. 

— É o que você tem que fazer, abelhinha — ele pôs a mão no meu cabelo, dando uma leve bagunçada, brincando. 

— Não me chame assim — falei, dando um leve beliscão em seu braço.

— Ei, isso doeu, cara — resmungou, afastando a mão do meu cabelo. 

— Você mereceu, sabe? Dá muito trabalho arrumar o meu cabelo pra você bagunçar. 

Ele sorriu, deixando todos os seus dentes à mostra. Eu reparei como os seus caninos eram bem afiados, quase como os de um vampiro; o sorriso dele era bonito e fofo. 

— Eu gosto dos seus cachos, são muito bonitos — elogiou.

Eu senti que era verdadeiro pelo jeito que os seus olhos brilhavam para mim. Ficamos nos encarando e eu percebi que seu olhar desceu para os meus lábios. Então, todo o encanto acabou porque ninguém menos do que Aaron passou pelo corredor ao lado de Ramon, batendo o ombro nele e quase derrubando-o. Aaron olhou para nós com um sorriso maldoso e fez um sinal de saudação com a mão na testa. 

— Foi mal aí — disse cinicamente, e continuou a andar pelo corredor. 

— Idiota — murmurou Ramon; não pude discordar. 

— Desculpa pela atitude dele. 

Ramon ergueu uma sobrancelha.

— Tem uma lista infinita de pedidos de desculpa que esse idiota tem que me pedir e não você. Não sei como você pode ser dessa família de loucos. Aaron é um garoto problemático, só faz caça-confusão, e Hunter é um pau-mandado desse aí. E ainda tem Apollo com toda a sua esquisitice. Eu só espero que conviver com eles não te contamine — comentou, amargurado. 

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