Capítulo 34

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"Mordi minha língua e fechei meus olhos, nunca me senti como se estivesse certa."
Heather Jayne - Better than this

Meus dedos tocaram com cuidado o rosto de Ramon, mais precisamente no corte embaixo do olho. Aaron deu um soco em cheio nele. Eu estava fervendo de raiva, ainda sem acreditar que Aaron teve a audácia de me trancar no vestuário feminino e, como se não bastasse, foi atrás de Ramon e, pior, bateu nele como o idiota que era. Tive sorte de chegar a tempo, depois que o zelador passou por lá. Eu abri a porta e consegui sair, e fui procurá-lo porque sabia que ele ia intimidar Ramon. Mas 3 contra 1? Que merda ele iria fazer com o coitado do Ramon?

Apesar de perguntar diversas vezes se ele estava bem enquanto ele se acomodava no capô do carro, sua resposta era sim. Mas, como ele estava jogado no chão e Aaron segurando a camisa dele, imaginei que talvez pudesse estar com alguma dor, e isso era muito ruim para nós, que usávamos o nosso corpo na aula.
 
— Tem certeza que não quer ir na sala de fisioterapia? — indaguei mais uma vez. Ele balançou a cabeça negativamente e soltou um sorriso.

— Tenho, só as minhas costas estão doendo um pouco por causa do jeito que fui jogado no chão, e essa merda de soco — ele tocou o local machucado.

Eu me contorci, sentindo-me culpada naquela confusão toda, era a minha culpa. Ramon percebeu a minha expressão desolada e estendeu a mão, seus dedos ergueram o meu queixo para encará-lo.  

— Desculpa, Aaron foi um idiota, eu não sabia que ele ia fazer isso — falei, deixando a vergonha me dominar. — Vou entender se não quiser sair comigo agora.  

Ele fez uma expressão como se eu não estivesse no meu pleno juízo.

— Agora só me deu mais vontade de sair com você. Eu não ligo para o que aquele idiota vai fazer. — Forcei um sorriso gentil, senti tocar a minha bochecha e, então, ele se inclinou na minha direção. Suas mãos se afundaram na minha cintura, me puxando para ele.

Não me afastei quando os seus lábios se colidiram com os meus, eu retribuí o beijo no automático. Queria dizer que senti fogos de artifício sobre nós, alguma queimação, qualquer coisa, mas não havia nada ali, porque o meu pensamento estava consciente em Aaron, no garoto de roupas pretas, com brinco na orelha, cabelo negro e olhos safira. Não sabia como, ainda sendo o maior babaca, ele me mostrava de todas as formas que era aquilo que todos diziam. Mesmo assim, eu pensava nele. Como superar algo que nunca aconteceu, se nunca existiu um "nós"? Como gostar de alguém que sempre te apunhala pelas costas, alguém que sempre mostra a sua pior face? Que não sabe o que quer de verdade?

Eu me afastei e sorri para deixar a situação menos tensa. Encarei seu machucado no rosto mais uma vez e, como se sentisse sua presença magnética, me virei, vendo Aaron nos encarando ao longe, punhos cerrados e olhos irados. Ele ficou estático como uma pedra, e não vou mentir: uma parte de mim estava doendo por vê-lo assim, vendo Ramon e eu juntos. Mas eu estava tão irritada com ele que não liguei para os seus sentimentos, assim como ele não ligou para os meus.

Voltei-me para Ramon, o cara que eu sim deveria dar uma chance, não ele, o cara que iria me destruir, me deixar em pedaços.

— Acho que a gente devia cuidar disso — apontei para o ferimento.

Ele assentiu lentamente, percorrendo os olhos pelo meu rosto como se estivesse me estudando. Se afastou do capô do carro, abriu a porta, ficou com as mãos lá e me encarou com perspectiva. Eu mordi a parte interna da minha bochecha, um pouco nervosa.

— Temos um encontro para ir — comentou. 

Ergui as sobrancelhas. 

— Ainda quer ir?

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