Escondam as ovelhas porque os lobos estão soltos.Eu sabia três coisas sobre Nicolau Russel. A primeira delas é que ele raramente era mencionado em uma mesa de jantar na minha família. Parecia que ele não existia, sua existência até aquele momento não significava nada para mim, porque eu só sabia que eu tinha um avô e uma avó em algum lugar em Londres, em alguma mansão luxuosa. Isso me levava à segunda coisa que eu sabia: Nicolau Russel, assim como toda a linhagem Russel, era uma família poderosa, riquíssima, com linguagem da nobreza. A terceira coisa é que possivelmente havia algo de errado com essa família, pois minha mãe nunca o deixava se aproximar de nós, ou talvez ele nunca tenha desejado tal aproximação. Minha mãe não era filha biológica deles; ela foi adotada aos dez anos de idade, mas cortou laços com eles assim que completou a maioridade. Então, não tínhamos nenhum laço sanguíneo que indicasse que éramos parentes, mas havia um sobrenome da minha mãe que ela carregava.
Pensar sobre parentes distantes que nunca se vêem é estranho, porque parece aqueles tipos de filmes de Natal em que as pessoas se encontram somente naquela data. Parece que o mundo vira uma névoa de esquecimento do passado de cada um. Normalmente, nesse dia, as pessoas esquecem as mentiras, o pai que foi embora e nunca voltou, os pais que brigavam, os irmãos que se odiavam, a tia que só aparece para falar sobre a sua próxima viagem. Parece que a névoa se apodera de seus cérebros e os faz esquecer de tudo isso. Mas, para a verdade, não estávamos em época de Natal e ter alguém que não conhecia e que agora eu teria que ir para a casa dessa pessoa, porque se não ficaria longe do meu irmão, era de todos os modos a situação mais esquisita que já estive em toda a minha vida.
Eu estava tentando ficar forte e resistir, respirar, respirar e respirar... Eu estava fazendo isso por Matheo. Então, quando Irina parou o carro, pude sentir meus batimentos acelerados enquanto os dedos do meu irmão seguravam os meus, sua mão pequena e magrinha de criança.
Irina saiu do carro primeiro com um guarda-chuva e andou até a porta onde eu estava e abriu. Quando fez isso, me levantei e puxei Matheo, o colocando no chão molhado da chuva. Acima de nós, havia enormes nuvens carregadas, o céu estava nublado e tempestuoso, o dia estava cinzento, parecia refletir bem como eu me sentia naquele dia. Parecia que o céu estava chorando gotas de cristais. Irina colocou o guarda-chuva sobre nós e nos olhou com ternura. De algum jeito, era uma despedida. Ela achava que teríamos um final feliz porque estávamos com nossa família. Eu queria acreditar nela.
Ela tinha me falado que meu avô queria que eu fosse para não me separar do Matheo, mas que também eu tinha que seguir as regras e me comportar. Parecia que eu estava sendo adotada, quando na verdade eu já tenho dezenove anos. E, para dizer a verdade, me senti feliz por ele me aceitar, porque seria algo impossível se fosse outra família. Era o único jeito para ficar perto do meu irmão.
- Irina, por que ele iria me querer com o Matheo se eu já sou praticamente uma adulta? - eu tinha perguntado.
- Você deveria aceitar, Maddy. Você pode ficar perto do seu irmão, não é o que mais você queria? - ela disse, então eu aceitei.
Arrumei as poucas coisas que Matheo e eu possuíamos. Não tínhamos muitas coisas antes dos meus pais morrerem. Nós tínhamos uma casa que, infelizmente, foi vendida por causa das dívidas.
- Estão prontos? - perguntou Irina, fazendo-me voltar à realidade.
Fizemos que sim com a cabeça. Senti a mão de Matheo apertar um pouco mais a minha mão e, na outra, segurei a minha única mala. A bolsa de Matheo estava nas minhas costas com suas coisas. Caminhamos até o portão enorme da entrada. A mansão ficava localizada em um lugar longe da civilização para ser mais precisa. Tudo era envolto de pinheiros, árvores e mato. O portão era grande, dando uma visão da mansão atrás dele. Ao longe, as paredes que a sustentavam eram de pedras. A senhora Irina tocou a campainha e não demos muito tempo para os portões serem abertos. Pensei que poderia haver câmeras ao redor para observar quem estava pelo perímetro da casa. Adentramos o portão nós três juntos.
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Onde Pousam As Mariposas
RomansaQuando o mundo de Madison vira do avesso com a morte de seus pais, ela faz todo o possível para cuidar de seu irmão, o único que lhe resta. Mesmo sendo difícil, pois tem apenas dezenove anos, ela enfrenta as dificuldades da vida adulta e a responsab...