Capítulo 08

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“Eu desperdicei minhas noites
Você apagou as luzes
Agora estou paralisado.”
Payphone - maroon 5

A chuva sempre me dava uma mistura tenebrosa de tristeza, às vezes era uma tristeza calma, às vezes, as vezes as gotas se misturavam com as lágrimas e queimavam a carne, o céu nublado, as cores escondidas no repleto cinza, as nuvens carregadas, às vezes as chuvas são as nossas próprias tempestades dentro de nós que rasgam o nosso corpo para se libertar. Aquela tarde estava chovendo gotículas minúsculas de água, não era suficiente para molhar, mas o suficiente para queimar. Eu sentia um vazio, uma fumaça capaz de me sufocar e precisava de um pouco de ar.

Sempre nesses dias eu precisava pensar, então fiz isso caminhando pelo jardim, observando as diversificadas flores que o jardineiro estava cuidando. Nunca tinha visto nenhuma daquelas flores, eram lindas. Agachei para olhar melhor e a ponta dos meus dedos roçaram uma pétala lentamente.

— Não devia tocar nessas flores — levei um pequeno susto, me levantando rapidamente. Aaron ergueu uma sobrancelha, observando-me.

Eu coloquei as mãos para trás, como uma criança pega fazendo besteiras.

— Eu só estava olhando — expliquei, tensa, ainda irritada com ele.

— É preciso tomar cuidado, Angel, não são flores que se possa tocar, são venenosas.

— Obrigada por avisar — falei, encarando de volta as flores.

Realmente pareciam ser perigosas.

— Mas por que vocês têm flores assim se são perigosas? — perguntei curiosa.

— É bonito e não pode ser tocada, isso faz com que seja mais desejada, não acha? — Sua voz tinha algo por trás, uma certa malícia, fazendo-me encará-lo. Seus olhos estavam em mim, o sorriso no rosto mostrando uma covinha no lado direito, o cabelo preto caía sobre as testas, molhado pela chuva.

Não sei por que o meu coração bateu um pouco mais rápido, a visão dele era perfeita, quase como uma obra de arte. Naquele momento, eu via Aaron como uma daquelas flores perigosas e intocáveis, era um risco chegar perto, um risco tal aproximidade.

— Ou talvez o melhor seja ficar longe para não correr o risco de ser envenenada — eu disse com um pequeno sorriso sarcástico, seu sorriso se esticou ainda mais.

— É difícil alguém querer ficar longe — senti que não estávamos mais falando de flores e aquilo me deixava inquieta. Cruzei os braços ao redor do peito, a chuva começara a ficar forte, molhando o meu rosto.

— Existem flores mais bonitas e que não são perigosas.

— Mas todo mundo sempre prefere o perigo, Angel — sua voz trouxe um arrepio à minha nuca, ele se aproximou e eu fiquei estática enquanto os seus dedos brincavam com uma mecha do meu cabelo. Eu segurei a respiração.

— Melhor entrar para dentro antes que fique doente — completou antes de sumir. Soltei o ar quando desapareceu.

Entrei para dentro encharcada de chuva, Genevivi veio praticamente correndo com um casaco passando sobre os meus ombros.

— Garota, o que faz na chuva? Vai ficar resfriada desse jeito — repreendeu ela.

— Desculpa, eu só queria andar um pouco.

Ela balançou a cabeça, fez um gesto com a cabeça para eu subir, e entendi o recado, caminhei em direção a ele indo para o meu quarto. No final do último degrau, Jude me parou.

— Você pode me ajudar? — Fiquei surpresa com o seu pedido, Jude nunca falava comigo, a não ser com seus olhares raivosos em minha direção.

— Claro, o que você quer que eu faça? — perguntei.

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