Capítulo 12

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"Mas existe escuridão por trás desses olhos
Mesmo quando você sorri
Oh, criança do verão
Você não precisa agir como se tudo que sente fosse insignificante
Você não ama o Sol de verdade, ele te enlouquece."

Summer Child - Conan Gray

- Melhor? - Aaron perguntou depois que tomei um gole de chá que ele preparou especialmente para mim logo que voltamos para a mansão.

Fiz apenas que sim; não queria conversar, muito menos com ele.
De qualquer forma, eu estava melhor; o ataque de pânico passou, me fazendo lembrar que desmoronei na frente dele, e aquilo não me deixava nem um pouco contente.

Ele sentou ao meu lado; me esforcei para não recuar, terminando de beber o chá enquanto ele me observava.

Apollo apareceu na cozinha e, quando viu nós dois, pareceu surpreso, mas sabia disfarçar bem e entrou revirando o armário em busca de algo.

- Está procurando isso? - comentou Aaron, com uma cartela de remédios na mão, balançando entre os dedos em uma tentativa de provocar o irmão, que se virou, franzindo o rosto, e andou até ele, puxando a mão dele bruscamente.

- Devia se controlar com esses medicamentos, irmãozinho. Você não está acostumado com eles e vai se tornar um dependente. Não vai poder dizer nada sobre mim se estiver do mesmo jeito - provocou Aaron.

Alternei os olhares entre os dois: Apollo, como sempre, era uma pedra impenetrável, e Aaron, no seu jeito de fazer qualquer um sair do sério.

- Não se preocupe, eu sei me cuidar, não sou um drogado que nem você - sibilou, engolindo o comprimido sem água alguma, e saiu da cozinha, deixando um clima pesado. A presença de Apollo era notável até mesmo em uma multidão.

- Eu vou para o meu quarto - avisei, levantando-me do assento. Aaron me acompanhou em silêncio enquanto caminhávamos em direção ao quarto.
- Boa noite, angel - seus lábios tocaram minha bochecha, trazendo um formigamento na pele, e ele se afastou, indo para a direção oposta.

Ele era tão imprevisível.

[♡]

- O tema da próxima apresentação é O Lago Dos Cisnes, e só os melhores irão ocupar os papéis principais. Vamos ter as audições na próxima semana - declarou a professora.

Os alunos ao meu redor começaram a sussurrar entre si, tão nervosos quanto eu. Por alguma razão, digo que o incidente do carro do dia anterior não me deixou animada para isso, para algo tão importante como ser uma solista. Eu me empenhei para alcançar isso, mas ontem só me fez lembrar do passado e de uma ferida que nunca se cicatrizou. Talvez eu não esteja preparada para voltar ao balé e, por isso, relutei tanto e não fui boa o suficiente desde que entrei na academia. Estar nesse lugar só me traz a sensação ruim daquele dia, e não consegui desfazer o sentimento, que se eterniza em nossas memórias e é tão difícil de arrancá-las.

- Eu tenho que conseguir o papel principal de qualquer jeito - comentou Ava, mordendo os lábios, parecendo ansiosa ao meu lado.

- Sua irmã te pressionando de novo? - perguntou Manu, avaliando-a.

- Todo mundo, na verdade, é meio horrível quando você é a única da família que é bailarina ao invés de médica - ela nos olhou e suspirou. - Isso tem que valer a pena de algum jeito.

Era muita pressão para cima dela.

- Isso é horrível, mas não é impossível ganhar o papel principal.

Ela deu de ombros, agora encarando Charlotte com um certo desprezo.

- Pra que se esforçar tanto se a Charlotte sempre ganha o papel? Aposto que vai ganhar o papel da Odete.

- Bem, vamos dar o nosso melhor para isso não acontecer - disse Manu, então se virou para mim com as sobrancelhas franzidas. - Você está tão quieta hoje - comentou.

- Desculpa, é só que estou meio distraída hoje.

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