Capítulo 13

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"As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras."



Friedrich Nietzsche





Era o grande dia das audições no grande salão para ver quem ia ficar com os papéis. Ramon e eu tínhamos dado tudo de nós, ensaiando incansavelmente para conseguir os papéis de solista. Admito que não foi nada fácil e não seria mesmo. Eu estava entre os melhores bailarinos da instituição, pessoas que buscavam ser aceitas em companhias, assim como eu. Ridículo dar o seu suor para ter um papel de prestígio e orgulhar os seus pais de alguma forma, porque sabíamos que no mundo da arte isso não era muito valorizado. Mas ali estávamos nós, com os nossos sonhos e medos, que carregávamos em nossa sapatilha e em nosso corpo, explodindo no palco. Era isso o que fazíamos: dançar nos liberta. A sensação era boa enquanto víamos uma pequena demonstração de apresentação de outros alunos que estão prestes a se formar. Uma expiração, disse a professora.


- Bom, agora que vocês estão mais inspirados, quero apresentá-los ao maitre Jason Roberts.


Um homem entrou pelo palco, elegante e impotente. Suas feições maduras pareciam ter cerca de cinquenta anos. À minha volta, todos estavam agitados, e eu não entendi bem o porquê até escutar Manu lamentar:


- O pai da Charlotte! É óbvio que agora ela vai ter um papel importante.


Jason Roberts, pai de Charlotte, agora fazia sentido toda aquela agitação. Também comecei a ficar inquieta, porque nossos esforços nada valeriam para chegar a ser a solista quando o pai dela seria o encarregado da nossa apresentação.


Charlotte, por outro lado, parecia satisfeita, como se tivesse ganhado mais um aliado.


- O maitre Jason ficará encarregado dos ensaios do Cisne Negro e ele escolherá quem vai estar na apresentação - disse a professora.


- Olá a todos, como não gosto de perder tempo, quero que comecem suas apresentações - ele era rígido, isso era fato.


Caminhou para fora do palco, sentando-se em uma das cadeiras da frente, com as mãos apoiadas uma na outra, um tipo de olhar desafiador em nossas direções, nos esperando.


Impressionante, era isso o que repetia na minha cabeça.


Os primeiros foram Darla e Michel; eles pareciam dois pássaros voando de um jeito muito bonito. O maître não mostrou nenhuma reação. Outra dupla entrou assim que eles terminaram, e esses não foram tão bem. Depois foi Ava e Manu, com seus respectivos parceiros de dança, que dançaram divinamente. Deu para sentir que gostavam mesmo de dançar mais do que vencer, embora Ava estivesse um pouco nervosa e irritada por medo de não conseguir ganhar um papel mais importante. Quanto à sua família de médicos, acham que dançar como profissão é uma perda de tempo, e ela não queria ser um fracasso e confirmar para eles que talvez seja mesmo.


Quando eles acabaram, fiz um high five com Manu, dizendo que ele mandou muito bem, ao que ele sorriu agradecido. Manu se tornou um amigo em pouco tempo e me ajudou diversas vezes; eu gostava dele.


Logo chegou a minha vez e de Ramon para dançar. A verdade é que eu estava super nervosa, com medo excessivo de errar, mas Ramon, de algum jeito, com essa calmaria dele, disse para mim simplesmente dançar como se não houvesse ninguém além de nós e que tudo daria certo. E foi o que fiz. No começo, ainda nervosa, mas no meio para o fim consegui me soltar mais, enquanto lembrava da minha mãe e o quanto ela gostava de me ver dançar, e que talvez ela não me culpasse por dançar quando morreu por causa de uma apresentação minha.

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