Capítulo 15

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"É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada."
William Shakespeare

Matheo não soltou o urso desde que acordou. Coloquei um casaco nele para ir ao jardim e apertei levemente suas bochechas, abrindo um sorriso. Aquela manhã, as coisas estavam mais leves; Charlotte não estava mais na casa, e Apollo, bom, continuava igual antes. Aaron parecia estar com dor de cabeça enquanto esperava as têmporas, mas quando me sentei ao seu lado, seus olhos encontraram os meus e, naquela fração de segundos, senti algo em mim se contorcer. Ele abriu um sorriso; talvez eu tenha retribuído. Eu me sentia tão em conflito comigo mesmo em relação a ele. Ao mesmo tempo que queria manter distância, havia um atraente imã que sempre me puxava, me arrastando, o venenoso perigo à espreita.

Jude e Matheo se olhavam com raiva. Percebi que Jude só estava com ciúmes, o que era normal quando uma criança nova chega à casa de repente. Acho que ela se sentia excluída, sozinha. Eu entendi ela, embora não suas atitudes. No entanto, ela só era uma criança e precisava de atenção em uma casa rodeada de homens e uma avó que estava sabe lá Deus onde.

De tarde, me juntei a Aaron para tentarmos terminar de fazer a escultura do corvo. Eu meio que tinha adorado fazer todo aquele trabalho, mas era cansativo porque exigia muito esforço e não estávamos nem perto de terminar. Aaron queria que fosse em tamanho médio, e o trabalho era em dobro. Tive a sensação de que, se fosse ele sozinho, já teria terminado, mas me agradou ele querer que eu fizesse junto com ele. Embora eu tenha que admitir que foi uma tentação, porque Aaron ficava perto demais, sugando o meu ar, fazendo eu perder a atenção e me provocando sempre que podia.

Em um certo momento, acabei espetando o dedo na hora de esculpir, e ele, que estava atrás de mim com as mãos nas minhas, me auxiliando a fazer certo, puxou na direção da sua boca e simplesmente assoprou. Meu coração golpeou forte contra o meu peito.

- Você tá bem? - perguntou.

Eu assenti, incapaz de dizer algo, e puxei a mão quando ele limpou com um pano uma gotícula de sangue que se formou. Ele sorriu de lado e voltamos a trabalhar de novo; e foi isso, ainda tinha alguns dias até ficar pronto.

De noite, ficamos encarando a lua, que estava perfeita em um tom amarelo e redonda. O vento forte passou por nós, me fazendo arrepiar, mas não me importei; gostei de ficar ali, encarando o céu e as estrelas com ele, em um momento de paz entre nós.

- Me diz, Maddy, você está gostando de estar aqui? - perguntou ele de repente, as costas apoiadas contra a parede.

- Acho que sim - respondi, sem muita convicção.

Ele balançou a cabeça como se estivesse pensando; seu rosto se virou para mim.

- E o que mais gosta? - Sua sobrancelha se arqueou enquanto seus olhos me encaravam com intensidade. Desviei o olhar.

- De não ter que viver na rua? - Parece uma pergunta, mas eu estava visivelmente nervosa.

Escutei ele rir baixinho.

- Claro, mas e de mim você não gosta?

Engoli em seco.

- Gosto de todos - falei.

- Não foi isso que perguntei - senti seus dedos tocarem meu queixo, fazendo-me encará-lo.

A sensação do seu toque fez com que eu parasse de respirar por alguns segundos.

Seus olhos encaravam meus lábios. Ele se aproximou, chegando tão perto que, se eu me inclinasse um pouco, nossos lábios poderiam se tocar, e o pensamento me deixou ruborizada. Eu devia me afastar, mas por que eu não conseguia? Aaron tocou meu rosto e eu soube que iria me beijar quando se inclinou. Engoli em seco, e os mil pensamentos se lançaram de uma vez na minha mente, dizendo o quanto aquilo era errado e sobre o que Ava disse: que ele só brinca com as garotas até conseguir o que quer e depois as trata como nada. Eu estava sendo o seu jogo sujo, e, acima de tudo, éramos praticamente parentes para qualquer um, menos nesse círculo dessa família. Mas lá fora, isso seria completamente errado e estranho, e eu não podia fazer isso, não quando me sinto tão confusa perto dele, com emoções e sensações que não sabia lidar. Já tinha muita coisa com o que me preocupar e não queria agora me preocupar com um coração partido.

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