"Vou tirar seu rosto da minha mente
Você devia poupar seus olhos
Mil vozes uivando na minha cabeça
Fale em línguas
Eu nem sequer reconheço seu rosto
Espelho na parede
Me diga todas as formas de me distanciar."
Phantogram - Black out daysEntrei na cozinha para pegar um copo de água antes de voltar para o meu quarto. Deixei o celular na bancada depois de responder Ramon. Nós tínhamos um tipo de conversa estranha que consistia em mandar vídeos idiotas que víamos e enviavamos um para o outro; não importava o horário, até de madrugada fazemos isso.
Peguei um copo de vidro no armário e fui até a geladeira, estendendo a mão para segurar a jarra de água. Despejei a água no copo, coloquei a jarra de volta no lugar e fechei a geladeira, me virando e bebendo a água.
Quase engasguei ao ver Aaron encostado na bancada, com os braços cruzados, me encarando.
Engoli a água, tossindo um pouco no processo.
— Você quer me matar de susto? Nem te escutei entrando aqui — falei, me recuperando.
No mesmo instante, meu celular vibrou com uma mensagem, e Aaron puxou o celular para ele com os dedos, encarando a tela sobre a bancada.
— Seu namorado Ramon te mandou mensagem — zombou, se virando para mim, enquanto sua expressão se fechava.
— Ele não é meu namorado — falei.
Ele levantou uma sobrancelha e se aproximou de mim, parecia meio bêbado com seu jeito pesado de andar.
Nem uma novidade até aí.
— Você tá sempre com ele o tempo todo… — sua voz estava um pouco ácida e lenta, mesmo que aparecesse um sorriso debochado no rosto.
— Claro, ele é meu amigo e parceiro de balé — respondi, sentindo o espaço entre nós cada vez menor.
— É, eu vejo isso — disse enquanto percorria os meus lábios e subia o olhar para os meus olhos; mariposas voaram no meu estômago querendo escapar de dentro de mim.
Engoli em seco.
— E eu não sou seu amigo? — sussurrou, e seu hálito de cigarro e álcool soprou no meu rosto; nem a bala de menta foi capaz de ofuscar.
— Você fumou — notei, embora não houvesse irritação na minha voz por ele não cumprir a promessa. No fundo, eu imaginava que ele não ia cumprir.
Os cantos da sua boca se ergueram; em seguida, ele apoiou as mãos, uma de cada lado próximo ao meu rosto. Sua cabeça se inclinou na minha direção, e eu prendi a respiração.
— Você sabia que eu não ia cumprir — argumentou, franzi os lábios.
Sabia que era um mentiroso e que só estava me usando para os seus desejos. A questão era que eu estava começando a sentir algo por ele, algo que não deveria nem pensar em sentir. Algo estava me fazendo ficar louca. Eu tinha que me controlar.
— Eu queria acreditar que você faria isso, pelo menos por você — rebati, empurrando os seus braços para que eu pudesse sair de perto dele, mas Aaron continuou imóvel, me pressionando contra a geladeira fria. Seu estado bêbado o tornava mais pesado para a tarefa.
— Sabe por que você me beijou, Maddy? — indagou. Nossas pupilas acompanharam o movimento uma da outra em sincronia — porque, no fim, sabia que eu não cumpriria nada, porque me quer tanto quanto eu quero você. Nós usamos isso como uma desculpa.
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Onde Pousam As Mariposas
RomanceQuando o mundo de Madison vira do avesso com a morte de seus pais, ela faz todo o possível para cuidar de seu irmão, o único que lhe resta. Mesmo sendo difícil, pois tem apenas dezenove anos, ela enfrenta as dificuldades da vida adulta e a responsab...