Espavento

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Ato ou efeito de espaventar-se;

assombro, espanto, susto.

Sempre odiei a ideia de que para ter dinheiro é necessário trabalhar muito porque essa lógica não fez sentido e nem se quer existe. Tem tanta gente no mundo fazendo o mínimo e ganhando toneladas de dinheiro. Bom, minha família sempre foi assim.

Minha mãe é advogada e meu pai era um empresário rico por fazer coisas ilegais e nunca foi preso porque casou com a melhor advogada da Inglaterra. Eu era pequeno demais para perceber que isso acontecia, e Antony também. Ele é dois anos mais novo.

A cadeia de fato nunca veio para meu pai, mas a morte sim. James Wilson. Foi o cara que matou meu pai. A polícia da época era o pai de Harry Davies. Todos os homens da família Davies entraram na polícia através de nepotismo, mas quando são questionados por isso, dizem que trabalharam duro para conseguir "defender o país dos maus feitores" e aquele típico discurso de que eles ajudam a manter a paz nos estados, cidades e o país como um todo.

Eles são amados pela maior parte de Londres, mas odiados por uma parcela também. E eu estou dentro dessa parcela. Eles não descobriram quem matou meu pai, ninguém descobriu. Apenas um garotinho de seis anos chamado Locke Darwin. Eu descobri quem matou ele.

Em cima de minha mesa de trabalho, pego o copo com Whisky e dou um gole. Refletir sobre minha vida me deixa com vontade de esquecer. Antes que possa dar o próximo gole, sou surpreendido por uma ligação de minha mãe.

— Olá? — pergunto porque fazia muito tempo que minha mãe não me ligava e poderia ser um ladrão com o celular dela.

— Oi filho, tudo bem?

Aparentemente eu estava errado. Era ela.

— Sim, e com você?

— Comigo sim, mas com Camila não. — Camila era a cabeleireira favorita da minha mãe. Ela dizia que Camila tinha mãos de anjo pra fazer cabelo igual enfermeiras tem para tirar sangue. — Na verdade a irmã dela não está bem.

— E a senhora me ligou para contar isso? Eu estava no meio de uma reflexão, mãe. Sabe como eu odeio que me interrompam em qualquer situação, e....

— Eu sei — ela me interrompe — então serei o mais breve possível. — A ouço suspirar e isso me faz bufar porque sempre que ela diz que vai ser breve, demora muito mais do que o esperado. — O marido da irmã da minha cabeleireira sumiu e eu comentei com Camila a muito tempo que você é detetive. Ela queria saber se você está muito ocupado com vários casos complicados de detetives, aí eu respondi que você estava disponível.

— Mas mãe, eu estou ocupado com vários casos nesses últimos dois meses. Não tem como eu...

— Faz uma forcinha. Camila é minha amiga, ela nunca me deixou na mão então não posso deixá-la também.

Suspiro fundo separando meus argumentos no cérebro mesmo sabendo que estou prestes a entrar em conflito com uma advogada.

— Ela nunca te deixou na mão porque a situação de cabelos oleosos ou fora do corte são simples mãe. E ela não te deixou na mão porque ela em si trabalha com isso, ou seja, ela resolveria, não um filho dela. Eu nem sei se ela tem filho ou...

— Ela tem, e alias, ele é quase da sua idade. Poderiam conversar sobre o ocorrido.

— Se eu confirmar que ajudo, você para de falar?

— Sim, Locke. Mas quando me pedir algo vou fazer a mesma coisa. Até já.

Ela desliga e suspiro aliviado, mas ao mesmo tempo com raiva porque já estou atolado de casos difíceis e agora tenho mais um. De qualquer forma, sei que vou ter que fazer desconto porque minha mãe vai pedir.

Meu celular vibra.

Charlotte Darwin

Londres, River Skyscraper. Hill Street, 2589

Por favor, não pede muito deles pra ajuda-los. Eles são meio

necessitados, sabe?

Eu sabia que ela iria dizer isso.

Ok, é para ir lá que dia?

Agora. Porque, tem algo mais importante que ajudar a sua mãe para fazer?

Não. Não tenho.

Eu sabia que discutir com ela só tornaria as coisas mais difíceis.

Vou para a frente do espelho, arrumo o terno e a gravata, pego minha maleta e saio de casa em direção ao metro.

Apuração Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora