Capítulo 10 Parte 2

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Allana Vásquez

Eu estou em êxtase, uma troca gostosa com meu artista. Nós nos revezamos entre as casas vizinhas, sempre entretendo as crianças, compartilhamos momentos como cozinhar, os meus filhos adoram a paciência do tio Martín ou o mexicano insuportável, a arte de fazer drinks como o latino fala, noite de jogos e sempre finalizamos deitados no colchão, até o adulto eles puxavam, assistindo algum filme ou série.

O guitarrista criou uma rotina nossa, depois que as crianças adormecem, íamos para a área de lazer de umas das residências, sentamos no sofá amadeirado, com a manta para esquentar o friozinho, bebericando vinho suave chileno, o líquido arroxeado é o preferido dele e engatamos conversas sobre os quinze anos distantes.

Desde que ele mencionou a esposa na nossa conversa, a curiosidade sobre a mexicana em que tenho tanto em comum aguçou.

Eu encarei o perfil do homem que faz meus dias mais felizes, o olhar dele na linda lua cheia embeleza a noite e se encontra com o mar com ondas fortes. E decidi perguntar:

- Cariño, fale-me sobre a Soledad?

O artista me mirou com feição confusa, mas os lábios repuxados no sorriso de lado mostraram que gostou.

- Sério?-O tom da voz saiu com expectativa e eu assenti, tomando um gole.- Você não tem ciúmes?

- Claro que não! Sabe o que diria se a visse.- Ele dá um aceno sutil de cabeça.- Gracias por cuidar tan bien al hombre que amo y que abandoné cobardemente... Por vivir cosas tan lindas, compartir lindas historias y dar una vida digna... Lo principal para engendrar a nuestra hija, lo prometo. ¡Me ocuparé de los cuatro ahora!(Obrigado, por cuidar tão bem do homem que amo e que de forma covarde abandonei... Por viver coisas tão bonitas, compartilhar lindas histórias e dá uma vida digna... O principal por gerar nossa filha, prometo que vou cuidar dos quatro agora!)

As lágrimas escorriam no meu olhar e refletia no dele, o sorriso não saía do rosto, respirou tão fundo, bebeu um longo gole. E implorando pedir com a voz falhada.

- Não faça isso, mi amor!

- Desculpe-me, achei que gostava de falar sobre ela...

Ele interrompe nervoso, acenando em negação.

- Claro que não! Eu amo falar é umas das passagens mais bonitas da minha vida, só... Eu já te amo demais, agindo desse modo bonito e maduro, vai acontecer um transbordamento e a dor será muito maior.

- Acredito que a fase obscura passou, nós nos amamos e pelo que parece temos três aliados muito importantes. E eu tenho que cumprir promessas a mulher que ama o mesmo homem e temos filhos juntas.

- Você é especial demais, cariño!

- Não, mi amor! Esse gesto maduro só vale para a Soledad, que sempre me apoiou e não falou mal de mim.- Eu o encarei com os olhos cerrados.- Ainda sou uma ciumenta possessiva. Então, nem pense em me falar sobre as outras.

O artista jogou a cabeça atrás gargalhando, que saudades de fazê-lo se sentir leve. É verdade que tenho este sentimento de posse por ele, nada doentio e usávamos disso como provocação mútua.

Meu latino suspira fundo, entendo que começaria a contar sobre ela.

- Depois de assistir teu sim, partir no mesmo dia com destino ao México, me instalei em Acapulco, onde a família do meu pai morar... Alejandro convocou Sol, a missão era me familiarizar com o lugar, mostrar a parte jovem, nossa diferença é de quatro anos, ela é mais velha.-Martín pausou a narrativa, o olhar saudoso em direção ao encontro do mar e a lua. O latino parece buscar na memória, ou se teletransportou ao cenário da história. - A nossa amizade se firmou, vivíamos grudados, onde um estava o outro também... E quando entendi e nos perdoei, comecei a enxergar beleza, a exterior a pele acastanhada assim como os olhos e os cabelos ondulados, a interior já havia me enfeitiçado. Sim, eu a amei como mulher primeiro, não pense que foi fácil conquistá-la.- Ele me encara com castanhos intensos, sorrir e o homem da minha vida retribuiu. Como é reconfortante saber que não estraguei o coração amoroso dele.- Soledad, achava que só estava me enganando, tinha que tomar vergonha e ir atrás de ti. Então, fui abusando do meu charme, atraindo-a para encontros românticos, fiz jantares, serenatas. Até um dia ela disse:" Es muy difícil resistirse a ti, Mar!" E ficamos pela primeira vez. E fomos ficando, uns três meses depois ela me perguntou o quanto eu a amava, respondir que 'Sin medidas!' Soledad então fez a pergunta que de imediato teve a resposta positiva...

O Arango pôs uma das mãos sobre o rosto, caindo em um pranto doloroso, a parte obscura da história chegou. Eu puxei o artista para deitar a cabeça do meu colo, de início me preocupei e arrependi de fazê-lo lembrar de algo que machucava, Martín precisava desabafar longe das vistas da filha, sei lê-lo e sinto que abdicou de sofrer por ela. Quero ser a companheira de vida dele, compartilhar bons momentos, mas segurar quando o dolo for grande. Meu latino escondeu o rosto nas minhas pernas e se entregou ao choro.

Imóvel e calada, acaricio os curtos cabelos, com mão livre segurando a taça bebericando o vinho, pensando em como os dois se amavam, e verdadeiramente queria Soledad aqui, seguindo ao lado da família.

Não sei quanto tempo ficamos em silêncio, somente o choro e as ondas quebrando, senti o movimento e levei os olhos até ele, que me encarava com o olhar intenso avermelhado, de simultâneo sorrimos.

- Ela queria me testar, me pediu em casamento antes de falar da condição, se era amor ou pena. Sol havia vencido a batalha contra a leucemia, estava no tempo de observação de dois anos, tinha medo da finitude da vida... Allana foi a única vez que busquei conforto nos braços do meu pai e implorei à minha mãe que ajudasse financeiramente... Amália, meu anjo materno disse que dinheiro não ia faltar para nora.

O latino teletransportou de novo, sorriso nostálgico nos lábios. Estou adorando assistir cada expressão do meu amado.

- A mãe dela me ajudou a realizar a cerimônia dos sonhos, e no meu voto, prometi que viveríamos de maneira intensa e sem medo... Viajamos de lua de mel para os Estados Unidos, consultamos com o melhor especialista na área, mesmo não aconselhando, decidimos engravidar... Nós viajamos o mundo, quando voltamos a Acapulco com Luna no ventre dela... Vivemos felizes juntos por um bom tempo, até que o maldito regressou, mas ela lutou e quis viver sem problemas com nossa garotinha.

Martín virou a cabeça para olhar o horizonte, com o olhar tristonho, minha mão não cessava as carícias nos cabelos.

- Soledad se foi como o anjo que era, dormindo. A menina tinha cinco anos recém completados.

O silêncio se instalou. Meu latino viveu algo lindo e raro. Eu vou manter a memória dela na família que vamos formar, porta-retratos terá as imagens deles no nosso futuro lar.

Ele suspirou aliviado, ergueu a mão e entrelaçou os cabelos da minha nuca, puxando em direção selando nossos lábios, nos afastando sorrindo.

- O que viveram foi lindo, cariño!-exclamo sincera.- Tem alguma fotografia dela?

Martín ergueu o quadril, pondo a mão no bolso puxando a carteira, meus olhos analisando as ações, tirou fotos de dentro e meu coração errou a batida, quando vi um cabelos loiro no meio delas.

- São as donas da minha vida: A rainha Amália.-explica enquanto mostrava as imagens das mulheres.- A princesa Luna, as damas Soledad e Allana. Conhece?-O debochado sorria de lado.- E a boba da corte Cecília.

Eu gargalhei jogando a cabeça para trás. É bom ter um relacionamento que nos cause leveza e diversão. Nós dois provocamos boas energias. O guitarrista é um menino preso no corpo de adulto e conseguiu trazer à superfície a criança que vive dentro de mim

A versão madura de Martín está fazendo renascer um amor lindo no meu coração. Quero viver de maneira genuína com ele e nossos filhos, digo em pronome compartilhado que o homem que amo tem o pensamento recíproco com o meu.

Daqui para a eternidade, vou fazer das lágrimas dos dois Arango serem de alegria, pois o sentimento que destino ao dois é forte como o símbolo do país deles: o cacto.

Sentimentos CompartilhadosOnde histórias criam vida. Descubra agora