Capítulo 2 - Sophie

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As semanas se passaram e os irmãos Jensen já não chamavam tanto a atenção da universidade de Hartford, haja visto que a dupla não se relacionara com ninguém e ainda tinham poucas amizades. Shelley era uma delas, que insistiu diariamente em estar perto dos dois, até que eles acabaram aceitando-a em seu círculo mais íntimo. A garota não desistia fácil, sempre lançando olhares, fazendo gestos e dizendo coisas amáveis para desmantelar a defesa de Edmond.

Parecia um desafio para a jovem loira derrubar o viking. Certa vez ouviu de uma colega de classe que ela deveria ser como uma valquíria diante do filho do trovão... Claro, foi um caçoar da garota, mas Shelley tomou aquilo como um sinal de que deveria ser mais efusiva com Edmond, não dando margem para que ele pudesse lhe escapar das mãos.

Entre aqueles do pequeno círculo de amizades dos Jensen na faculdade, estava a jovem Sophie. Muito diferente de Shelley, a garota não era tão atraente e nem tinha curvas que estimulassem os rapazes no banheiro, como ela mesmo leu numa das portas, o desejo de alguém de "comer o rabo" de Connor. Com peitos pequenos e uma bunda comedida, passava despercebida entre os alunos, "oculta" atrás de seus óculos grandes e pretos.

Inteligente e observadora, Sophie se vestia com modéstia e era encarada por outras alunas como "titia" ou "velha", assim como "CDF" e "nerd". Não faltavam adjetivos para classificá-la pejorativamente. Para Stevens, era o preço a pagar por ser ela mesma, num ambiente onde a maioria das garotas negava a si mesmas. Ainda que fosse introvertida a maioria do tempo, Sophie poderia falar por horas se a conversa lhe interessasse.

Edmond começou a perceber isso, assim como Edward, mas o irmão mais novo deixou seu olhar ir além da imagem que Sophie projetava no mundo real. O sorriso dela era tão raro, que a cada vez que exibia, o rapaz agradecia por ela estar ali na roda da conversa. Sempre discreta, ela chamava mais atenção dele que os gestos rompantes e falas exageradas de Shelley.

Edward percebeu o interesse do irmão na amiga inteligente, mas assim como ele, Edmond era discreto até com aquele que tinha o mesmo sangue. Então, um dia resolveu quebrar o gelo:

— Ed, o que você acha da Sophie?

— Acha o quê?

— Ah! Dela como mulher para casar...

Nesse momento, Edmond mirou no irmão com um semblante apreensivo, pegando-o de surpresa. Edward, neste exato momento, descobriu o que o irmão sentia.

— Por que você está me perguntando isso? Está interessado nela?

Antes que Edmond fizesse mais questionamentos comprometidos, Edward sorriu para ele e respondeu:

— Eu não... Mas, agora, sei quem está.

Edmond ficou sem graça e após mirar no vazio, questionou:

— Dá para notar?

— Cara, sou seu irmão mais velho. Eu te vi nascer e sim, para mim, dá para notar. Claro, acredito que ela não saiba de nada.

Pela primeira vez, Edward viu Edmond com o escudo abaixado diante de uma mulher. Em sua própria visão, Sophie era o perfil de mulher que seu pai havia descrito como ideal para se casar e constituir uma família feliz. Obviamente que não estava nos planos do mais velho ter alguém naquele momento e por isso a jovem Stevens não lhe atraiu.

Edmond pediu conselho do irmão e este disse para ir em frente. Todavia, haveria uma festa na casa de uma amiga da Shelley. Os irmãos Jensen não iriam, mas a loira convenceu Sophie a comparecer. Elas não eram amigas, mas Connor se beneficiava de serem da mesma sala de Moda para ajudar-lhe nos trabalhos. Em troca, fazia a novata se enturmar.

Sophie queria fazer parte da comunidade universitária. Morava no campus, tendo nascido em New London, mas fora criada em um sítio de seus pais em Thompson, no extremo de Connecticut. Shelley visivelmente tinha interesse na visão dela para as tendências da moda, mas as duas eram completamente distintas.

Assim, numa noite no fim do verão de 1997, na casa de Rosaly Bronstein, amiga de Shelley, os irmãos Jensen se fizeram presentes na primeira festa de alunos da faculdade, que concordaram em comparecer. Eles evitavam, mas desta vez, Edmond convenceu Edward a ir devido a Sophie. Obviamente eles beberam, mas Ed foi mais comedido, afinal, sua amiga desejada estava junto.

O sorriso comedido, os braços juntos ao corpo segurando um copo de refrigerante e o olhar, por vezes assustado diante de alguns atos tresloucados de certos alunos, naquela enorme casa, diziam muito sobre Sophie. Aquele não era o mundo dela e nem dele, de Edmond. Cheia, a sala onde estavam era em um mar de esbarrões, já que chovia forte lá fora. Então, alguém esbarrou na jovem, que derramou a bebida em seu vestido verde-claro.

Imediatamente, Edmond — que tentava disfarçar ao máximo seu interesse na jovem — se prontificou novamente a ajudá-la a se limpar. Os dois foram para um corredor próximo em busca de algo para ela se secar, quando um casal passou por eles, apertando-os contra a parede. Ali, Sophie começou a passar mal. Edmond a segurou pelos braços e a jovem não conseguia encará-lo.

— Sophie, o que houve? Você está bem?

A moça não conseguia responder, evitando encará-lo. Edmond, ainda preocupado, ergueu o rosto dela, que estava avermelhado. Os olhos dela miraram nos dele e pareciam querer dizer um milhão de palavras, mas ela era incapaz de pronunciar qualquer coisa. Todavia, a química do amor não precisa de palavras. Ali, o guerreiro viking jogou seu machado ao chão e rendeu-se ao que realmente sentia.

Deslizando a mão grossa e áspera no rosto macio e delicado de Sophie, Edmond seguiu o instinto dos deuses e dos homens, tocando com seus lábios os dela, que tremeu ainda mais ao sentir o néctar do hidromel do amor. O beijo comedido no início logo se converteu no desejo da carne, mas arrefecido pelo que vai além do corpo, vindo da alma. Naquele momento, Edmond descobriu seu destino e Sophie, que seu "poder" era maior do que pensava. 

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