Capítulo 38 - O presente

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A noite chegou e todos, já devidamente trajados para a ocasião, reuniram-se na grande sala. Com taças de vinho e água, servidos por Amanda, os membros da família Jensen bebiam e comiam alegremente, com Frederick a admirar a jovem Shelley, mas sem poder sequer fitá-la por muito tempo, por motivos óbvios.

O senhor Jensen se incomodou um pouco com a longa conversa dela com Edward. Só então, ao observar o ar de satisfação de Marcy com os dois, foi que a ficha caiu para o chefe da casa dos Jensen. "Filha da puta! A trouxe apenas para jogá-la em cima de Will", pensou.

Fred não tinha o que fazer. Ele até foi ter com Shelley, mas foi rápido e discreto, não deixando a garota perceber sua insatisfação. Se enganou, é claro, por imaginar o óbvio, que ele não estava gostando de ficar afastado dela. O dono da casa começou a planejar uma ação para aquela noite, porém, havia um obstáculo e não era Marcy.

Shelley, apesar da distração com Edward e da preocupação com Frederick, ainda deixou que seu sentimento secreto por Edmond lhe aflorasse rapidamente, esquentando seu corpo ao ver o beijo apaixonado de Sophie em seu amado. "Um dia provarei também", conjecturou. Perto da meia-noite, Marcy foi até Frederick e cochichou algo em seu ouvido.

O sorriso de Fred parecia de um menino que aprontará algo. Então, rapidamente saiu da sala, o que despertou em Shelley curiosidade. "Para onde esse homem vai?", questionou-se. Minutos intermináveis se passaram até que, diante da lareira acesa, de todos esperando as 12 badaladas do relógio fixado sobre a lareira, eis que aparece Fred, porém, bem diferente de antes.

Vestido de Papai Noel, o senhor Jensen parecia um ator sazonal de shopping center, devidamente trajado de vermelho e branco, com longa barba branca e um saco enorme, cheio de presentes que Marcy havia comprado para a família. Amanda, de prontidão junto aos Jensen, sorriu timidamente. Elliot caiu na gargalhada ao ver o pai vestido daquele jeito.

Sophie não acreditou em ver o CEO da Jensen Shipyard vestido de Papai Noel. "Então é por isso que a árvore de Natal não tem presentes!", concluiu a garota. Já Shelley ficou estupefata ao ver o amado amante brincando diante da família e, ao imaginá-lo na cama com aquela roupa, começou a rir. Fred notou, mas não se sentiu constrangido. Todo Natal, ele fazia aquilo e em 1997 não foi diferente.

Os dois irmãos mais velhos riram naturalmente, mas sem surpresas. Edmond observou a reação da namorada e a animou.

— Olha só! Esse aí é meu pai...

Marcy olhou para Sophie e disse:

— Ei! Mocinha, vai lá dar um abraço no Papai Noel.

— Eu?

— Claro!

A seguir, um coro: "Vai! Vai! Vai!". Com todos batendo palmas e Fred, animado, com os braços abertos, mirando Sophie, ela não tinha para onde correr. Enrubescida, a jovem colocou a mão na boca e foi até o velhinho, que a abraçou e deu-lhe seu presente.

— Abra, querida! — disse Marcy.

Envergonhada, Sophie abriu o pacote e viu o belo vestido que Shelley ajudara a escolher na Barkley's. Feliz, abraçou novamente o "Noel" e então sentou-se ao lado do namorado.

— Shelley!

— Oi?

— Agora é você, minha querida!

Os olhos de Connor faltaram saltar das órbitas, tamanha a surpresa. "Vou ganhar presente?", questionou-se. Fred, ao ouvir a convocação da esposa, não ficou surpreso, pois sabia que Marcy havia comprado algo para Shelley. Sobre o outro vestido, a senhora Fallon avisou que presentearia a jovem, apesar de ele mesmo questionar o valor do vestido. Com seu membro dando pequenos sinais de vida, Jensen sentiu o abraço de sua amada, que lhe cochichou: "Você me paga...".

Imitando um sorriso de felicidade, ainda que estivesse mesmo constrangida pela situação, Connor abriu o pacote vermelho e então seu corpo eriçou-se completamente. Sua temperatura corporal subiu e seus olhos começaram a inundar-se com o mar do coração.

Ao retirar o presente, Shelley viu o mais caro vestido da Barkley's, que ela tanto desejava. Os olhos avermelhados miraram Marcy e Fred, atrás dela, marejou os seus. Pressionando os lábios, a garota foi até a senhora Fallon e lhe deu um abraço, não resistindo em derramar suas lágrimas.

O sentimento era misto, de agradecimento e culpa. Connor sentiu ali o peso de sua traição. Sentiu-se como Judas ao beijar Jesus. As lágrimas eram verdadeiras, pois aquela mulher, que parecia tão esnobe, lhe deu um presente mais caro que o de sua futura nora.

Marcy, evidentemente, fingiu estar bem, mas lhe escaparam duas lágrimas, enquanto sorria para os demais. Já Fred sentiu que seu saco passou a pesar mais com a consciência, sobrecarregando os presentes. O "ho-ho-ho" já não tinha mais o tom e, a partir dali, ficou menos entusiasmado. Ele queria abraçá-la e beijá-la. Sua vontade era de levar Shelley para longe, pois, no calor da emoção, aquela ficha completou a ligação.

Sim, Marcy estava comprando a confiança de Shelley para esta se tornar sua outra nora. Ele a colocara nessa situação e por isso se sentiu igualmente culpado. Precisava se redimir, mas isso ficaria para depois, já que, ao sugerir ter entregado todos os presentes, lembrou-se de mais um, que fingira ter encontrado no saco. Pequena, a caixinha envolvida em papel vermelho foi exibida pelo Papai Noel, que então, diferente dos demais, anunciou a felizarda.

— Amanda! Ho-ho-ho!

Marcy não disfarçou sua insatisfação com a cena e Flores, surpresa, se enrubesceu, cristalizando seus olhos verdes. Ela olhou para a senhora Jensen que, agora forçando um sorriso, disse:

— Pegue, querida.

Após, timidamente, pegar o presente, o Papai Noel lhe pediu um abraço e ela o atendeu. Ao ouvido, ele disse:

— Seja feliz, minha filha. Amamos você.

Os olhos de Flores encheram-se d'água e após limpá-los, abriu o presente. Era um anel de 18 brilhantes, que a deixou boquiaberta. Todos se entreolharam e Shelley se questionou: "Será?" Elliot ficou imensamente feliz, já que sua amada era reconhecida finalmente como pessoa pela família. Marcy, então, desfez a cena.

— Bom, vamos brindar!

— E comer! — bradou Edward.

— Você só pensa em comer meu irmão... — retrucou jocosamente Edmond.

— E beber! — bradou novamente o jovem viking.

Todos riram e Fred animou-se, retirando o gorro e a barba. Enquanto isso, admirada, Shelley observava Amanda exibir, no dedo, aquele impressionante anel. Flores notou e, empolgada, perguntou à moça:

— Senhorita Connor, ele não é lindo?

— Sim, muito lindo.

"Nunca recebi uma joia assim de Fred", pensou Shelley. Elliot se aproximou e pegou na mão da empregada, querendo ver.

— Olha, querido, como ele é lindo!

— Nossa! É mesmo! Posso contar as pedrinhas?

— Pode!

— Deixa eu ver... Caramba! Tem 18 pedrinhas.

Ao ouvir, Shelley perguntou:

— Você tem 18 anos?

— Sim! Fiz recentemente.

— Meus parabéns!

Shelley foi até Amanda e a abraçou. Depois, esta abraçou Elliot e sussurrou-lhe: "Mais tarde...". O garoto ficou animado e isso intrigou Shelley por um instante, mas Marcy a chamou e tirou-lhe a atenção dos dois. Então, após muita comida, bebida e citações de trechos literários enfadonhos para alguns, especialmente para Connor, todos foram se retirar. 

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