Capítulo 25 - Não me mata...

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Ensandecido, Fred a tomou pelos braços e a prendeu junto à porta do armário, que quase rompeu-se diante de tamanha força. Assustada, Shelley viu outro homem diante de si. O nórdico a segurou pelo pescoço e vociferou:

— Quem é ele? Cadê esse maldito?

Os olhos apavorados de Shelley denunciavam seu estado, já ameaçando liberar as águas, mas de pavor. Seu coração disparado e seu fôlego irregular a deixaram petrificada diante dele. "Vou morrer", pensou.

— Fala! Fala agora!

Com a boca trêmula, Shelley balbuciou:

— Me... Men... Mentira...

— O quê?

— Mentira...

— Fala logo!

As lágrimas começaram a jorrar na face rubra de Shelley, com seus olhos lindos a implorar perdão.

— Menti... — soluçou — Para te provocar...

— Você está mentido para mim!

Fred esmurrou a porta do armário e Shelley gritou de medo, temendo que o próximo golpe fosse em seu rosto. Apavorada, Shelley maneou a cabeça e disse baixinho...

— Não me mata... Eu te amo...

Shelley começou a chorar, enquanto temia que aquela mão em seu pescoço lhe ceifasse a vida. "Meu Deus, vou morrer jovem", pensou, enquanto sentia a mão dele apertar um pouco mais. "Maldita, está mentindo para mim! Me traiu! Que vontade de te matar Shelley", pensou Fred. O ódio o cegava nesse momento, porém, vê-la daquele jeito, frágil, fez com que uma porta dentro de si se mantivesse aberta para ela.

— Te amo...

A imagem de outro homem penetrando o corpo de Shelley ainda era como álcool derramado sobre o fogo, deturpando sua mente e escurecendo seu coração. Havia escuridão dentro de Frederick e o demônio de Neflheim o instigava a apertar o pescoço dela, retirando-lhe a tão preciosa vida. Então, diante da passividade de Odin, Frigga, sua esposa, ergueu sua espada e atingiu o coração do viking pela porta aberta.

— Te imploro... Meu a... Amor...

As palavras de amor entrecortadas de Shelley e a razão gradualmente tocaram o viking que, diante do semblante apavorado da jovem, aliviou sua mão. A garota se sentiu aliviada ao perceber o retorno de seu homem. O choro de gratidão e dor no coração de Shelley se fez e isso despertou o bom homem que sempre fora seu amado.

Fred a abraçou e chorou alto, como nunca fizera após adulto. Estática e ainda trêmula, Shelley o envolveu com seus braços lentamente.

Seus olhos, ainda transbordando, lavavam seu rosto e sua alma. "Obrigada Deus, por me salvar. Perdão por ele", pensou. Fred, agora sustentado pela amada, parecia um moribundo. Fora levado ao inferno pelo ódio, mas o amor dela o resgatou antes do mau maior. Sentia-se culpado, arrasado por si.

— Me perdoa... — disse ele, quase sem voz.

— Sim, meu amor... Mas, sou eu que tenho que te pedir perdão.

— Konnie, eu te amo...

— Sei... Eu também.

Ao encarar o rosto dela, Frederick expôs sua face marcada pela vergonha, pelo medo, pela dor de perdê-la. Ela enxugou dos olhos dele as lágrimas e o beijou com ternura. Fred deixou que mais das águas de seu velho coração escorressem como os rios que deságuam na Jutlândia. Ele acreditou nela e se sentiu feliz por isso. Ela o perdoou, porque a gratidão no coração era maior. Shelley sabia que havia pegado pesado demais com o homem que havia lhe dado tanto.

O abraço apertado em Frederick, com seus dedos enterrados na pele marcada pelo tempo, eram o convite para a cama. Ele entendeu o recado e rapidamente se deitaram. Após deslizar sua mão, ainda com a tira amarrada, sobre o corpo dela, sentindo a pele lisa sobre a intimidade, Fred se posicionou sobre Shelley, porém, ela retirou-lhe a tira do braço.

— Queimarei isso mais tarde — disse a garota.

Sentindo o membro dele adentrar seu interior, Shelley derramou mais lágrimas, que comoveram o viking, que a beijou com paixão. Com as mãos unidas, os dois navegaram pelo mar do amor até atingirem o pôr-do-sol do clímax indivisível. O gozo sob gemidos, fora coroado com lágrimas de ambas as partes. O perdão, enfim, venceu, assim como o amor. Ambos adormeceram no sono dos amantes, justificados por um sentimento maior.

Quando acordou, Frederick sentiu o corpo quente de Shelley ao seu lado, com braço e perna o retendo naquela enorme cama. O rosto sereno da jovem, depositado sobre seu velho peito, o agradou. Ele afastou o cabelo loiro dela e a contemplou. "Meu Deus, quase matei minha princesinha".

Fred olhou para o armário e só então notou o espelho quebrado. Tinha certeza de que fora o soco dado e que se fosse o rosto de Connor, ela certamente teria se ferido fatalmente. Jensen nunca matou ninguém e nem dera ordem a alguém para fazê-lo. Já se envolvera em brigas e até saiu ferido, mas não havia em si o peso de uma morte. O remorso de ter ameaçado a vida de sua preciosa o fez levantar devagar para não a acordar.

Em pé, ao lado da cama, ele observou a jovem dormindo. Sentiu vontade de fazer sexo novamente, mas ainda havia um sentimento de culpa. Tudo aquilo acontecera não devido a Shelley e nem por ele mesmo. Jensen sabia que a única culpada de tudo aquilo era Marcy, que o fez ter com ela quando não mais a desejava.

Jensen pegou um cobertor o colocou sobre Shelley, que parecia anestesiada após o terror que vivera em seu próprio quarto. Ela se moveu e o chamou baixinho, voltando a repousar. Já era quase meia-noite e, após beijá-la, vestiu-se e partiu de volta para a Ilha Jensen. Fred demorou cinco minutos para ligar o Dodge Stratus. Seus sentimentos já não eram os mesmos. Sua paixão pela garota aumentara muito, enquanto seu ódio para com Marcy tomava outra forma.

No caminho, conjecturou uma separação, mas depois sua razão lhe disse para não fazê-lo. Ele perderia metade de tudo e um relacionamento com uma moça que acabara de sair da adolescência, arruinaria sua reputação e o que sobrara dos negócios. "Maldita Marcy!", pensou após bater no volante.

— Marcy, você não perde por esperar. Me aguarde nesse Natal... Você vai ver o tamanho do saco do Papai Noel! 

Os Irmãos JensenOnde histórias criam vida. Descubra agora