Capítulo 1 - Causando na faculdade

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Os campos verdejantes, dominados por muitas árvores, contrastam com o marrom dos prédios residenciais da Universidade de Hartford, Connecticut, e na entrada do prédio dos cursos de Administração e Moda, uma grande porta dupla de vidro dá acesso ao longo corredor iluminado. Trajando calças jeans surradas e camisas xadrezes, sob grossos casacos de lã, os irmãos Edward e Edmond Jensen adentraram o prédio da universidade e, logo de cara, chamaram atenção.

Com Edward tendo cabelo mais longo que Edmond, assim como também uma barba mais espessa, diferente do mais novo, que manteve a bem aparada, os irmãos Jensen atravessaram entre jovens que se entreolharam, afinal, a dupla era pelo menos oito anos mais velha que a média dos calouros.

Aliás, eles eram os calouros mais velhos da turma de 1997. Fortes, os filhos de Frederick Jensen, um rico empresário de New Haven, atraíram olhares desejosos das garotas, enquanto os rapazes se questionavam sobre aqueles dois estranhos, invejavelmente corpulentos. Edward, mais atento aos observadores, comentou em voz baixa:

— Ed, ganhamos os holofotes aqui...

— Nem me fale...

A presença dos dois provocou um pequeno frenesi nas jovens e os comentários logo chegaram à porta de uma das salas do curso de Moda. Ouvindo os cochichos vindos da entrada da sala, Shelley Connor se aproximou das colegas e questionou:

— Meninas, o que acontece aqui?

— Você não os viu ainda? — respondeu uma das jovens.

— Não... Quem?

— Olha lá!

Ao mirar nos irmãos Jensen chegando aos armários, Shelley deixou o queixo cair e exclamou:

— Nossa! A invasão viking começou e nem me avisaram!

Uma das garotas comentou:

— Ai! Aquele barbudo parece o Thor...

Outra rebateu:

— Se ele é o Thor, o outro é Odin!

— Odin é um velho, sua idiota! E ainda por cima caolho! — disse Shelley.

Observando os dois abrindo os armários, Connor avançou entre as garotas na porta da sala e foi na direção dos calouros que pareciam ter chegado de Vauhala. Com uma calça jeans bem apertada, que delineava suas pernas e bunda perfeitas, assim como uma pequena blusa de frio branca, com lãs nas mangas e colarinho, Shelley desfilava entre os alunos.

Vestindo uma blusa rosa que enaltecia seus seios volumosos, cabelo loiro preso com um arco rosa e a boca devidamente untada de batom brilhante, Shelley era a personificação da universitária desejada por muitos. O quicar dos saltos de seus sapatos cor de rosa, antecipavam sua chegada, sendo esta perceptível aos demais alunos, mas não aos dois novatos.

Ao chegar junto dos dois, os olhos azuis de Shelley pousaram primeiro em Edmond, e ela pensou: "Meu Deus, como esse cara é lindo". Então, mirou em Edward e outra reflexão: "Este também não é de deixar por aí não..." Diante daqueles dois, que pareciam ter acabado de vir de outro mundo, Connor disfarçou sua admiração momentaneamente e deu as boas-vindas aos irmãos Jensen, que mal sabiam que aquela garota mudaria para sempre suas vidas...

— Bem-vindos à Hartford, garotos... Sou Shelley Connor, muito prazer!

Ambos sorriram e se apresentaram. Os olhos azuis de Shelley miraram nos verdes de Edmond como se fossem atraídos magneticamente. Novamente, pega por seus sentimentos, a garota disfarçou e olhou em volta. Então, voltou-se para a dupla.

— Não liguem para elas não... Essas aí nunca viram homens de verdade. Ops! Quero dizer, belos homens.

Shelley riu ao final e Edmond a acompanhou, mas Edward forçou um sorriso, já conjecturando em sua mente que aquela garota era do tipo exibida. Edmond pensou o mesmo que o irmão e, apesar da garota ser atraente, não se sentiu atraído por ela. Os jovens estavam "blindados" contra investidas de mulheres interesseiras.

— Bom, vejo que não são muito de conversar, mas... Posso ser a amiga que vocês precisarão aqui. Conheço tudo e posso dar umas dicas. Ah! Meu curso é de Moda, e o de vocês?

— Administração de empresas — respondeu Edward.

— Olha! Que legal! Estamos no mesmo bloco. Bem, garotos... Tenho que ir, mas não liguem para elas, viu? Ah! Os caras aqui são apenas invejosos...

Os irmãos Jensen se entreolharam e acompanharam o desfilar de Shelley até a sala da Moda. Edward mirou no irmão e disse:

— Belas curvas, né?

— Cara, ela é até bonita e o corpinho também não é ruim não.

— Caramba, vejo que você já ajustou seu termômetro para garotas.

— Não, né? Só estou sendo realista. Essa daí tá com cara que é só sorrir que ela vem de quatro...

— Bom, irmão, já te antecipo. Também não faz o meu gênero.

Edmond riu e soltou:

— Não é mais chegado no negócio?

— Caralho! Está me confundindo? Vamos encontrar a sala, cacete!

O Jensen mais novo gargalhou e fechou seu armário. Com quase ninguém nos corredores, Edward agradeceu a paz momentânea diante do assédio visual das alunas. Todavia, ao chegarem a sala, a dupla sentou no fundo, mas não sem a "vigilância" das jovens e dos rapazes ali.

Edmond não se enturmou inicialmente, diferente do irmão. No intervalo, os dois estavam passando diante da sala de Moda, quando uma jovem apressada, esbarrou no Jensen mais novo. Ela mirava o chão e não viu o grandalhão no corredor. Todavia, a garota com os óculos quadrados na mão esquerda, esfregava os olhos com a direita, na tentativa de tirar um cisco. Prestativo, Edmond se aproximou dela, segurando em seus ombros.

— Calma! Fica calma! Olha para mim!

Sophie Stevens ergueu o rosto branco e revelou o olho direito avermelhado e lacrimejado, quase que fechando diante do objeto estranho em seu globo ocular. Edmond segurou então o rosto da jovem de cabelo estilo Channel e soprou dentro de sua vista irritada. Quase que imediatamente, a garota sentiu um alívio e após algumas piscadelas, finalmente recolocou seus óculos.

— Está melhor? — perguntou Edmond.

— Sim! Agora estou bem, obrigada!

Sophie sorriu e Edmond devolveu-lhe. Edward ficou a observar a cena, porém, não foi o único, já que vários alunos pararam para ver a boa ação do "viking", inclusive alguém que não gostou tanto do gesto nobre... Perto dos armários, estática, Shelley observou aquele momento e em seu pensamento, questionou: "Por que essa garota sem graça recebeu tanta dedicação dele?" Olhando em volta, refletiu: "Vamos ver Edmond...". 

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