Eu estava em um deck de madeira escura. Tudo era cinzento. A água do lago à minha frente estava escura, quase negra. Ouvi um barulho de motor atrás de mim, virei-me e vi um carro escuro parar em frente a uma subida de barro. Haviam muitas árvores em volta.
Um homem alto, aparentando uns quarenta, quarenta e cinco anos, saiu do carro. Não consegui ver seu rosto, mas ele era forte. Usava uma calça marrom clara larga e uma camisa preta, típicas roupas de militares. Era visível por sua estatura que ele gostava de atividades físicas mais pesadas, pois seu porte alto ajudava a demarcar seus músculos que marcavam as roupas.
Aproximei-me, devagar. Ele pareceu não me ver. Quando ia revelar minha presença, ele sacou uma arma e a carregou. Arregalei os olhos e me escondi, silenciosamente. Estava apavorado. O homem começou a subir o morro de barro. Esperei alguns segundos e fui atrás dele.
Avistei uma cabana e soube que ele iria para lá. Foi então que ouvi gritos, pedidos de socorro, para ser mais exato. Era uma voz feminina. Corri até a janela mais próxima, mas não vi ninguém. Fui até uma segunda janela e pude notar uma garota de cabelos castanhos no chão, que chorava, pois o homem a estava amordaçando.
— Para de se mexer! — ele gritou.
Ela continuou tentando livrar-se dele e ele bateu em seu rosto, derrubando-a no chão. Ela voltou a chorar, dessa vez com mais intensidade.
O homem saiu da sala, irritado. Ainda no chão, a garota olhou para cima e me viu. Levei um susto com seu olhar em mim. Ela começou a tentar gritar e eu levei meu indicador aos lábios, pedindo para que fizesse silêncio. Ela assentiu, aparentemente tentando se acalmar.
Assim que desencostei da janela para caminhar até a porta e tentar salvá-la, levei um susto com a figura do homem atrás de mim. Ele puxou-me pelos braços e me deu um soco. Caí no chão com a mão no rosto e ele riu, apontando sua arma em minha direção. Tentei pedir para ele não fazer aquilo, mas já era tarde. Ele havia me dado um tiro.
— Não! — gritei assustado.
Olhei em volta e estava em meu quarto. Sentia que meu coração saltaria de meu corpo a qualquer momento.
— O que houve, Brad? — Garry entrou no quarto assustado.
— Nada, cara... Desculpe, tive um pesadelo.
— Ah...
Ele ficou me encarando por uns instantes e depois saiu. Eu suava frio, estava ofegante.
Levantei e bebi um copo d'água, depois fui ao banheiro e lavei meu rosto. Encarei meu reflexo no espelho e passei a mão novamente por minha face, aflito.
Voltei para o quarto e tentei dormir novamente. Teria um dia cheio na faculdade no dia seguinte, mas esse pesadelo não parou de martelar em minha cabeça até eu estar exausto de pensar sobre ele e adormecer.
▪️ ▪️ ▪️
— Que loucura, cara. — Garry disse assim que terminei de contar o pesadelo para ele.
— Foi estranho. Parecia que eu conhecia aquele lugar.
— Você levou um tiro e está pensando no lugar? — perguntou indignado com minha suposição.
— Era muito familiar!
Todos me encaravam como se eu estivesse ficando louco ou algo do tipo.
— Por que vocês estão me olhando assim? — perguntei incomodado.
— Nada, ué... — Fred manifestou-se.
Apenas encarei cada um por uns segundos. Em seguida, me levantei e saí do refeitório. Não havia motivo aparente para eu ficar tão irritado, mas algo em meu cérebro me dizia que era melhor eu me afastar por enquanto.
▪️ ▪️ ▪️
A aula de segunda-feira havia acabado. Saí do prédio da faculdade e entrei em meu carro. Estava com raiva, não sabendo bem do quê. Talvez eu ainda estivesse ofendido com os olhares dos outros.
Merda!
Estou sendo patético e infantil. Que bosta.
Liguei o carro e dirigi até uma lanchonete perto de casa, onde comprei hambúrguer com batata frita e uma lata de refrigerante. Não estava nem um pouco afim de fazer comida.
Entrei em meu apartamento, jogando minha mochila em um canto qualquer. Tranquei a porta e coloquei meu lanche no balcão de madeira. Lavei as mãos e fui até o sofá, ligando a TV notando, mais uma vez, que nada de bom passava. Comecei a pensar no pesadelo da noite passada. Aquela garota me lembrava a garota de um sonho anterior.
Que merda, Brad! Foi só um pesadelo!
Por que esse maldito pesadelo me incomodava tanto?
Esqueça isso!
Minha cabeça estava cheia de pensamentos e já sentia que meu cérebro explodiria a qualquer momento. Foquei em terminar meu almoço, pois minha cabeça doía. Fui para o quarto, deitei em minha cama e peguei no sono. Pela primeira vez, naquele dia, eu relaxei.
▪️ ▪️ ▪️
Acordei com meu celular tocando.
— Que bosta, Garry! — resmunguei vendo o nome do meu amigo na tela do aparelho.
Não estava com vontade de atender, então desliguei. Cinco segundos depois, o celular voltou a tocar. Olhei furioso para o aparelho, querendo jogá-lo na parede.
— O que você quer? — atendi com raiva.
— Por que está gritando comigo? — reclamou do outro lado.
— Eu estava dormindo.
— Quem liga para isso? — ele pareceu irritado.
— O que você quer? — perguntei mais calmo.
— Estamos indo ver o jogo de basquete na casa do Oen. Vai vir também? — ele também se acalmou.
— Não sei.
— Cara, esquece esse pesadelo, foi só um sonho ruim. Todo mundo tem sonhos ruins. Você vai parar sua vida por que acha que conhece o lugar de um pesadelo?
Ele tinha razão. Por que eu estava me importando tanto com um pesadelo?
É só um pesadelo, droga!
— Chego em vinte minutos.
— É isso aí! — se animou ao ver que me convenceu.
Desliguei e fui me arrumar.
Garry estava mais do que certo, não posso parar minha vida por causa de um pesadelo. Afinal, já tive muitos e eles não significaram nada. Dessa vez não seria diferente, pois eu não permitiria.
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A Garota dos meus Sonhos
Mystery / Thriller❝Se podemos sonhar, também podemos tornar nossos sonhos realidade❞ Copyright, © 2020 Searchles, Inc. All rights reserved.