Capítulo 5

25.7K 2.1K 803
                                    

— Qual é o seu nome? — perguntei para a garota de vestido branco à minha frente.

Ela respondeu, mas não consegui ouvir. Era como se o lugar perdesse o som, só para eu não ouvir seu nome.

— Como você veio parar aqui? — sussurrei para o homem não ver que estávamos conversando.

Ela olhou para o outro cômodo, onde o homem fazia algo.

— Ele te sequestrou? — fiquei nervoso.

Ela apenas assentiu, olhando para seus pés descalços e sujos. Fiz o mesmo.

Eu estava amarrado, de frente para ela, apenas aguardando o homem voltar e resolver o que faria conosco. Meu coração estava acelerado.

Pouco tempo depois, ele começou a caminhar em nossa direção e pude ver o terror tomar conta dos olhos da garota. Ele então adentrou o cômodo onde estávamos, com um galão nas mãos, e começou a espalhar um líquido por todo o quarto, inclusive sobre nós. Ele afastou— se, acendeu um fósforo e jogou no chão.

Em apenas cinco segundos, tudo estava em chamas. Inclusive a garota e eu.


— Que merda! — xinguei furioso ao levantar assustado.

Já estou cansado de ter esses pesadelos. Por que eles me atormentam assim?

Ouvi um barulho na cozinha. Alguém estava dentro da minha casa. Corri até meu armário e peguei um dos tacos de baseball. Caminhei lentamente até a cozinha, olhando para todos os lados.

A geladeira estava aberta e o intruso do outro lado da porta da mesma. Empurrei a porta com toda minha força, fazendo-a bater no intruso, derrubando-o. Chutei a porta para não me atrapalhar e me preparei para bater no sujeito. Assim que o taco ia ao encontro do mesmo, forcei-me a parar, em cima da hora, perdendo o equilíbrio e despencando até a bancada, reconhecendo o homem jogado no chão.

— Que droga, Garry! — gritei irritado, jogando o taco no chão com força.

— É assim que você me recebe? — ele jogou a cabeça para baixo, relaxando do susto.

— O que você está fazendo aqui?

— Eu vim ver por quê você não foi hoje. — levantou-se do chão, tirando alguns pedaços de bacon que caíram sobre sua blusa amarela.

— Não fui para onde? — estava confuso.

— Para o campus. Onde mais você iria?

Corri até a sala, olhando para o relógio. Onze e vinte.

Droga!

▪️ ▪️ ▪️

Já estava escuro. Fiquei o dia inteiro dentro de casa, não queria ver ou falar com ninguém. O que estava acontecendo comigo? Por que eu estava tendo esses pesadelos?

Não posso parar minha vida por causa de pesadelos.

Liguei para Garry que estava em uma festa no porão de um dos prédios do campus. Me arrumei e pouco tempo depois saí de casa para curtir um pouco a noite na companhia dos meus amigos. Estou me preocupando à toa, afinal, são só pesadelos.

▪️ ▪️ ▪️

— Brad! — Fred me viu e veio apertar minha mão.

Seus fios ruivos pareciam castanhos sob a baixa luminosidade misturada às diversas cores que eram projetadas pelas luzes secundárias. Ele vestia o casaco do time de basquete, era o único de nós que não havia entrado com a bolsa especial de baseball. Aliás, baseball não era nem considerado esporte para ele, mas ele nos respeitava demais para falar sobre isso.

— Por que não veio hoje? Perdeu o ensaio das líderes de torcida da outra fraternidade. — ele sorriu maliciosamente.

— O treinador vai comer seu rim. — Oen aproximou-se, entregando-me um copo de cerveja. Assim como Fred, ele também vestia o novo casaco do time de baseball, o qual eu não tinha, pois não fiz o teste no prazo.

— Eu sei. Esqueci que tinha teste hoje e perdi a hora. — dei um gole na minha bebida, após mentir descaradamente.

— Sem falar que ele quase quebrou um taco em mim.

— Ninguém mandou você invadir minha casa para roubar comida, seu bosta! — empurrei-o para longe, rindo.

— Tenta conversar com ele amanhã. — Oen puxou-me para um canto — Explica o que, de fato, está acontecendo. Quem sabe ele não te dá mais uma chance? Ainda tem a segunda chamada na semana que vem. — piscou.

De todos nós, Oen era o mais maduro. Não sei ao certo o motivo, apesar de termos nossas teorias. Queria tentar entender o que ele quis dizer. Sempre haviam mensagens ocultas nas entrelinhas de todos os conselhos que ele dava. Seu cabelo black ficava totalmente colorido conforme as cores das luzes eram alternadas.

— Você acha que eu passo para o time reserva? — tentei esconder meu desânimo.

— Tenho certeza de que você passa... para o time principal. — lançou-me um olhar misterioso, seguido de um meio sorriso, antes que virar-se de costas para mim e caminhar na direção da multidão de pessoas.

Voltei minha atenção a meus outros dois amigos que ouviam uma história completamente falsa de um cara aleatório e bêbado. Rimos e aproveitamos a noite. Pela primeira vez, em dias, eu estava voltando à minha vida normal.

▪️ ▪️ ▪️

Cheguei em casa quase meia noite. Todos estavam bêbados, exceto eu e, por incrível que pareça, Garry. Mandei todos irem tomar um banho frio e avisei que quem vomitasse no meu banheiro, morria. Pedi uma pizza e encontrei um filme bom para assistirmos.

Depois de comerem, todos começaram a forrar lençóis no chão da sala para dormirem. Tranquei a porta e fui para o meu quarto. Deitei na cama, apreensivo. Não queria ter mais um pesadelo com aquela garota.

Afinal, quem ela é? Por que estou sonhando com ela?

Queria desligar meu cérebro, só para não vê— la mais uma vez. Só para não morrer nas mãos daquele homem novamente.

O que está acontecendo comigo? Estou ficando louco? Devo procurar um psiquiatra? Um psicólogo? Um coach? 

O que eu faço?

▪️ ▪️ ▪️

Acordei assustado, mais uma vez. Agradeci bastante a Fred por ter me acordado. Minha cabeça ia explodir.

— Outro pesadelo, cara? — ele perguntou, pegando sua mochila no chão do quarto.

— É...

Passei a mão no rosto, nervoso. Dessa vez o pesadelo não envolvia a garota. Eu havia sonhado com o dia em que meu pai foi preso. 

A Garota dos meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora