A Garota dos meus Sonhos

Capítulo 38

Levei Elizabeth para casa e não havia ninguém lá, além de nós.

— Cadê a Lindsay? — perguntei confuso.

— Ela não teria aula essa semana, então a levei para a casa de uns tios. Ela estava muito sozinha. Pelo menos lá terá a companhia dos nossos primos.

— Entendi.

— Senta. Quer beber alguma coisa?

— Pode ser. — respondi. Ela assentiu e foi para a cozinha.

Levantei e fui na direção da grande janela da sala. Nossa, como eu amava as janelas dessa casa. A vista era maravilhosa. Eu podia ficar horas ali, apenas apreciando a beleza da grande Nova York.

De fato, Nova York nunca dormia. Em todo canto, a todo momento, pessoas trabalhava, conversavam ou passeavam com suas famílias, turistas eram vistos vinte e quatro horas por dia. Carros buzinavam, taxis rodavam o dia inteiro. Somos uma cidade inquieta, com pessoas inquietas e muitos negócios sendo feitos. Nesse exato momento, em algum lugar da cidade, alguém está fechando um contrato milionário ou está se preparando para apresentar alguma ideia inovadora a investidores, no dia seguinte. Ou há apenas um grupo de amigos seguindo para algum pub para aproveitar a noite, comemorando uma promoção no trabalho ou, talvez, ter conseguido um novo trabalho ou, quem sabe, só queiram espairecer a mente. Por outro lado, algum atleta pode estar treinando no Central Park agora ou alguém só quer passear com seu cachorro.

Manhattan é cheia de possibilidades. Nova York é inquieta. Assim como eu. Assim como todos os habitantes daqui. Assim como o espírito de Elizabeth. Nós não paramos, nem por um segundo. A todo momento temos que pensar em algo, resolver algo, tentar algo. Às vezes não sei se isso é bom ou ruim. É claro que tudo tem um lado positivo e negativo, mas minha inquietação é voltada ao fato de tudo o que está acontecendo. Como tudo mudou, repentinamente. Como nada será como antes, tanto para mim, quanto para Lize, quando para Garry.

Por algum motivo, isso me lembrou o efeito dominó. Uma atitude derruba a primeira peça, que derruba a segunda, que derruba a terceira e assim por diante, até não restar nenhuma peça em pé. Será que nossas peças estão todas caídas ou ainda estamos caindo? Será que chegamos a tempo de retirar uma peça importante que preveniu que todo o resto desmoronasse por completo?

E mais uma vez, chego à conclusão de minutos atrás: nossas cabeças não param de pensar, nem por um segundo. Até eu ter completa certeza de que não existem mais riscos e que tudo está como deveria e já posso voltar a ser invisível e normal, a inquietação não vai me abandonar. Minha mente continuará martelando, tentando juntar todas as peças, mais uma vez, para acabar, de fato, com tudo isso. Não é justo comigo. Nem com Elizabeth ou Garry. Nem foi justo com Joseph ou, até mesmo, com o homem que o ajudou nessa missão suicida, o tal Bob.

Quanto mais eu me perdia na escuridão de tudo isso e me afogava nesse oceano misterioso, cheio de mentiras, predadores e segredos fatais, menos eu sentia o ar em meus pulmões ou até as batidas do meu coração, por mais acelerado e pesado que ele estivesse. Era um furacão, devastador, que não se afastava. Estava disposto a nos aniquilar e tudo aquilo com que mais nos importávamos.

Nenhum lugar era seguro e ninguém estava seguro, uma vez que você não sabe em quem confiar e até mesmo sua própria sombra pode te apunhalar pelas costas a qualquer momento. Como eu protegeria quem eu amo se nem eu mesmo estava segurou ou, sequer, tinha como proteger a mim mesmo. Como eu livraria Elizabeth de um destino, possivelmente, horrível, já que isso, sem dúvidas só vai acabar se ela estiver morta, porque ela sabe demais. E eu sei que ela sabe, mesmo que ela ainda não se sinta à vontade para me contar.

O barulho dos passos da garota se aproximando, atrás de mim, me fizeram voltar ao mundo real. Afastei os pensamentos pessimistas e voltei a apenas apreciar a bela vista da cidade. Sem criar teorias sobre todos os segredos escondidos por trás das paredes antigas dos prédios ou pelos becos a poucas quadras de nós.