A Garota dos meus Sonhos

Capítulo 29

Eu continuava no chão, sem força e sem vontade de sair dali. Eu só queria poder ver Joseph uma última vez e trocar de lugar com ele. Eu devia ter morrido, não ele.

— Brad. — Garry me puxou.

Sentei-me, ainda de cabeça baixa.

— Precisamos ir embora daqui.

— Eu não quero.

— Brad... Eu sei que isso foi horrível, mas precisamos tirar as garotas daqui.

Eu havia esquecido completamente delas. Olhei para Elizabeth, que chorava um pouco, com Lindsay nos braços.

Levantei, tirando forças não sei de onde. Quando ia caminhar na direção das garotas, Garry me abraçou. Foi um abraço forte, protetor. Eu sabia que conseguiria dar conta do que vinha por aí.

Desabei mais uma vez, assim como ele. Garry e Jo sempre se deram bem. Lembrei do aniversário de minha mãe. Todos nós conversando, rindo... Minha mãe.

Como eu contaria isso tudo para ela? Como eu explicaria que Joseph não voltaria mais? Pior ainda, como eu contaria o motivo de sua morte? Por um segundo, as explicações foram piores que a dor que eu sentia.

— Onde estão as chaves? — perguntei.

Ele tirou a chave do bolso e estendeu-a para mim.

— Não. Você dirige. Não estou em condições.

— Tudo bem.

Caminhei na direção das meninas, estendendo a mão para Elizabeth.

— Pronta?

— Para? — franziu a testa. Seu rosto ainda estava molhando pelas lágrimas.

— Para ir para casa.

▪️ ▪️ ▪️

Estávamos na estrada.

Eu liguei para a polícia. Uma viatura chegaria em uma hora. Isso seria tempo o suficiente para já estarmos longe o bastante.

Pensava o tempo todo no corpo de Joseph. Se é que ele ainda tinha um.

Meus olhos automaticamente começaram a encher.

Não, Brad. Agora não.

— Está tudo bem? — Garry olhou-me preocupado.

— Está.

Era óbvio que não estava nada bem. Ele sabia que não estava. Me perguntava se ele também pensava em algo mais digno para Joseph. Um enterro decente, uma homenagem. Qualquer coisa que valorizasse sua memória.

As meninas dormiam no banco de trás. Queria fazer o mesmo e foi o que eu fiz. Estava esgotado, totalmente exausto. Em menos de dez minutos adormeci.

▪️ ▪️ ▪️

— Brad! — Garry sacudia-me e eu resmungava.

Achei que ele ia parar, vendo que não conseguiria me acordar, mas ele não desistiu.

— Brad!

— O que? — resmunguei ainda sonolento.

— Quer parar no hotel?

Hotel?

Lembrei do pequeno hotel de beira de estrada em que havíamos nos hospedado. Como havíamos chegado tão rápido? Quanto tempo eu dormi? Há quanto tempo Garry não dormia?

— Pode ser. Ainda tem dinheiro?

— Achei trezentos dólares aqui. Por isso resolvi parar.

— Ok.

Acordamos as meninas e fomos para o quarto.

Elas tomaram banho e foram para a cama. Eu, mais uma vez, optei pelo chão. Garry ficou no sofá.

Por mais que eu tentasse dormir, a imagem de Joseph ferido, segurando a porta do porão para que Michael não subisse, ainda atormentava-me. Acho que nunca senti tanto medo como senti na hora. Foi um medo com motivo, pois veja no que deu. Nossa fuga custou a vida do meu padrinho.

Adormeci, agradecendo por ter desligado completamente.