Saímos de casa por volta das onze da noite. Não tinha mais volta. Não podíamos mais desistir. Sabíamos o risco que corríamos, mas desistir estava fora de cogitação. Joseph dirigia, eu lia um mapa, a seu lado — em vão, porque ele já sabia o caminho —, e Garry dormia no banco de trás.
— Quanto tempo vai demorar?
— No máximo dois dias.
— Dois dias? — perguntei espantado.
— Esqueceu que fomos no trailer do falecido marido de Linden? — perguntou como se aquilo fosse a coisa mais óbvia, fazendo-me revirar os olhos.
— Eu só tinha sete anos.
Ele riu e virou em uma esquina. Estranhei. Aquele caminho não estava nos planos da viagem. Olhei mais uma vez no mapa em meu celular, antes de avisar:
— Jo, precisamos ir reto. — apontei no mapa.
— Temos que passar em um lugar antes. — fez mais uma curva, dessa vez virando em um beco.
Olhei para o beco, começando a desconfiar que algo não estava certo. Dois homens esperavam na entrada de um tipo de depósito. Havia uma enorme cerca de metal, com cercas elétricas no topo. Por ser entrelaçada, podia-se ver através da cerca, que protegia um terreno enorme, com quatro galpões de latão amarelos e um principal, bem no meio, cinza escuro. Diferente dos demais, esse galpão do meio era maior, mas protegido pelos homens lá dentro e era de concreto.
Que lugar é esse?
— Jo? — perguntei.
— Shh. — pediu silêncio dirigindo cada vez mais próximo do portão principal.
Passamos pelo primeiro portão de grade. Eu estava tenso. Onde estávamos? Chegamos à entrada de acesso ao terreno, onde havia uma pequena cabine, no mesmo tom de amarelo fosco dos quatro galpões laterais.
— Nome? — um homem tatuado perguntou firme.
— J8.
O homem assentiu com um sorriso discreto. Acho que eu não devia ter percebido. Joseph acenou com a cabeça, brevemente, passando com a caminhonete em que estávamos pelo portão metálico, barulhento.
— Está entrando! — o homem gritou com sua voz aguda.
Ele era um tipo de motoqueiro, roqueiro, metaleiro... não sei ao certo. Possuía várias tatuagens no braço, além de ser um pouco acima do peso, tinha a barba bem grande e mal feita e bandana na cabeça. Típico dos bares do centro, mais afastados.
Joseph prosseguiu, buzinando para mais quatro homens em volta de algumas motos. Eu continuava sem entender nada, mas permaneci em silêncio, enquanto pensava em formas de conseguir escapar dali caso algo desse errado.
— Que lugar é esse, Jo? — não aguentava mais esperar por respostas.
— Você já vai descobrir. — sorriu de lado — Acorde o Garry.
Fiz o que ele pediu, ainda confuso. Garry acordou mais confuso que eu. Não queria — e nem sabia — explicar para ele o que estava acontecendo. Saímos do carro, onde avistei mais cinco homens parados em frente à entrada do galpão principal. Eles estavam armados e não faziam questão nenhuma de disfarçar as pistolas na cintura e uma arma maior, que eu não sabia qual, presa entre o peito e as costas. Eu estava tenso, assim como Garry. Não via a hora de Joseph explicar o que estava acontecendo. Conforme estacionamos e nos movimentamos, os cinco homens nos encaravam de cara feia.
O que estamos fazendo aqui?
Nos aproximamos, e eu só queria ir embora. Um dos homens desencostou da parede do galpão e caminhou lentamente até nós. Quando achei que estávamos, verdadeiramente, ferrados, ele deu um sorriso e Joseph fez o mesmo.
— E aí, cara?! — levantou a mão para cumprimentar meu padrinho — Quanto tempo!
— Nem me fala! — Joseph o cumprimentou sorrindo.
— E quem são esses? — apontou para nós com o queixo.
— A.J., esse é meu afilhado, Brad. Aquele é o amigo dele, Garry. — apontou para nós — Rapazes, esse é o A.J.
— E aí?! — foi tudo o que consegui dizer.
Garry apenas acenou com a cabeça.
— Eu preciso falar com o Bob. — Joseph continuou.
— Já estamos sabendo. É verdade mesmo? — A.J. perguntou surpreso.
Do que ele estava falando?
— Queria que não fosse. — Jo respondeu cabisbaixo.
— Sei como é, cara. Podem entrar.
Dois dos cinco homens abriram a grande porta do galpão principal, que se dividia em duas, e entramos. Meus olhos saltaram, espantados ao ver aquilo: centenas de armas diferentes; munição para uma Terceira Guerra Mundial; granadas e mais um monte de coisas que eu nunca sequer vi na vida.
— Jo, que lugar é esse? — Garry perguntou. Ele estava mais confuso que eu.
— Eu sou um ex agente especial, garotos. Comecei a trabalhar como segurança dos Folks, porque já não podia mais sair em missões. Precisei me afastar da minha antiga vida para tentar ajudar a consertar algumas coisas.
— Que coisas?
— Esse é um assunto para o meio da estrada. — encerrou o assunto e não insisti.
Em poucos segundos, tudo começou a fazer sentido. Afinal, como um simples homem podia proteger uma das famílias mais poderosas de Nova York? Todas as peças do quebra-cabeças alinhavam-se, bem aos poucos, mas conforme mexíamos na história, até a minha vida começava a fazer mais sentido e o primeiro fato era que Joseph era mais que um segurança. Fiquei um pouco ofendido por ele nunca ter nos contado sobre seu verdadeiro trabalho, mas isso não importava no momento. Teríamos muito tempo para esclarecer tudo. Agora, pelo visto, precisávamos de armas. E, é claro, que as conseguiríamos. De qualquer jeito.
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A Garota dos meus Sonhos
Misteri / Thriller❝Se podemos sonhar, também podemos tornar nossos sonhos realidade❞ Copyright, © 2020 Searchles, Inc. All rights reserved.